🩸 Capítulo 1.2

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Edgar me observava, atento a cada uma de minhas palavras.

— Por que razão alguém conceberia a ideia insana de fazer nascer um bebê vampiro? Talvez seja isso que você esteja se perguntando... — eu mencionei. — O motivo é um só: poder. Nesse aspecto, ainda somos irremediavelmente parecidos com os humanos, infelizmente. A ambição também permeia a nossa sociedade vampírica, você bem sabe... Mas, antes de chegarmos aos bebês, acho importante falar sobre a minha família, em primeiro lugar.

Edgar apoiou os cotovelos sobre a mesa à sua frente, o olhar fixo em mim. Apesar de eu tê-lo transformado anos atrás e contado sobre o meu papel na família real, ele pouco sabia sobre os hábitos dos vampiros mais antigos e poderosos, então aquelas explicações eram mais do que necessárias.

— A família do meu pai sempre pertenceu à realeza de nossa espécie. Sim, vampiros são seres muito antigos e, por mais antiquado que pareça, ainda se organizam como uma monarquia. Existem reinos, normalmente divididos por continentes, e cada um desses reinos possui sua família real. A minha família é, originalmente, do reino europeu.

— E como é que acontece a sucessão ao trono? — Edgar questionou. — Não é comum ver um vampiro morrendo, não é mesmo?

— Você chegou no cerne da questão, meu amigo — respondi. — Esse é um erro muito comum entre aqueles que não nos conhecem de fato. Vampiros não morrem de causas naturais, como doenças ou velhice. Mas vampiros não são imortais, como pregam algumas lendas humanas. Eles podem morrer a qualquer momento. Basta que alguém os mate, ou que eles tirem a própria vida.

— E qual é a causa de morte mais comum entre a realeza? — Edgar quis saber, interessado.

— Antigamente, quando novos continentes ainda estavam sendo descobertos e os reinos ainda não haviam sido todos demarcados, era bastante comum ver os vampiros mais poderosos matando uns aos outros para garantir seu domínio sobre determinadas áreas. Hoje em dia, isso quase não acontece. Quando um vampiro nobre morre, ou é porque se meteu em encrenca com algum outro ser sobrenatural ou é porque escolheu morrer ele mesmo — expliquei.

— Imagino que a ideia de viver para sempre seja um fardo — apontou Edgar.

— Sim, certamente. Acredito que chega uma hora em que você simplesmente se farta desse mundo e só quer descansar. Então, não é nada anormal ver vampiros anciãos se despedindo de seus entes queridos e se retirando para morrer em paz.

— Me pergunto quando essa hora chegará para nós... — Edgar refletiu.

— Relaxe, meu amigo, ainda somos criancinhas comparados às múmias que são meus avós e bisavós — respondi, brincando. — Mas voltemos ao assunto da organização dos reinos vampíricos ­— prossegui. — Após demarcarem suas terras e escolherem os vampiros mais poderosos como reis, finalmente nossos antepassados perceberam que havia um simples problema em sua lógica: como determinar a sucessão ao poder? Nas monarquias humanas, esse direito era passado de pais para filhos, uma vez que a morte era algo inevitável, mas como os vampiros fariam? Um vampiro-rei pode transformar milhares de humanos em novos vampiros ao longo de sua existência, mas não seria nada viável considerar cada um desses transformados como "filhos" e colocá-los na linha de sucessão ao trono. Como provar quem foi transformado antes de quem? E como garantir que esses transformados seriam dignos e capazes de subir ao trono? Sejamos francos, muitos dos humanos tornados vampiros não possuem nenhum talento excepcional e só recebem essa dádiva para ocupar a função de servos de vampiros superiores...

Edgar remexeu-se em sua poltrona com expressão de desconforto conforme eu discorria sobre aquele tópico em específico. Talvez eu tivesse sido direto demais.

O Clube da Lua: Laços Antigos (Contos / Livro 1.5 ✓)Onde histórias criam vida. Descubra agora