Os dias seguintes se passaram muito rapidamente e todos os candidatos à mão do rei foram submetidos a incontáveis tarefas, que tentavam nos testar das mais variadas formas. Ao longo do caminho, muitos vampiros foram desclassificados, graças à avaliação criteriosa de Daren e Buwan, enquanto outros acabaram desistindo por conta própria. Como resultado, na última semana da seleção, restavam menos que dez candidatos, entre eles eu e Tobias — que, surpreendendo a todos, tinha se dedicado arduamente e obtido um resultado admirável em suas tarefas, apesar de sua reputação até então duvidosa.
— Temos pouco tempo pra terminar a última missão — meu amigo ruivo comentou, enquanto tomávamos a nossa cota de sangue da manhã. — Você já começou a trabalhar na sua?
— Não — revelei, frustrado. — Achei que o último desafio ia ser algo mais... sei lá... grandioso... Mas, ao invés disso, me deram uma tarefa puramente burocrática! Uma mera desapropriação de terras!
— Bem, se serve de consolo, a minha tarefa não é muito melhor que a sua — Tobias desabafou. — Me deixaram responsável por mudar um cemitério de gárgulas de lugar! Vou ter que ficar horas e mais horas desenterrando e transportando dezenas de cadáveres daquelas coisas grotescas!
De fato, eu não desejaria estar no lugar de Tobias, de forma alguma.
— Me fala mais sobre a sua tarefa — o ruivo pediu, interessado. — Que terras são essas?
— Ficam mais ao sul do país — expliquei. — O rei estava expandindo os negócios dele naquela área e conseguiu arrematar alguns terrenos num leilão. São terras que os proprietários não pagaram nem os impostos e nem as parcelas do financiamento e acabaram as perdendo para os bancos dos humanos comuns. Babylon conseguiu oferecer um bom lance e agora é o dono legítimo delas, mas algumas famílias estão se recusando a deixar o local. Entre elas uma família de lobos. Lidar com eles, especificamente, é a minha tarefa. Eu tenho que convencê-los a sair de lá, pacificamente — concluí.
— Mexer com esses vira-latas é um saco mesmo, eles são muito apegados com os buracos que chamam de casa — Tobias comentou. — Mas eu consigo entender porque te deram essa tarefa. Um dos seus diplomas é em direito, não é? E você também é todo diplomático... Isso deveria te ajudar nesse tipo de missão, não?
— Sim, sim, sem dúvidas — confirmei. — O problema nem é esse, na verdade... Eu só esperava que a minha última tarefa fosse um pouco mais... chamativa, se é que você me entende... Quando nossos feitos forem colocados ao lado dos feitos dos outros candidatos, o que você acha que vai se destacar mais? Missões perigosas, em que os soldados arriscaram suas vidas, ou uma mera desapropriação de terras?
— Achei que você estivesse fazendo isso por si mesmo, não para impressionar alguém — Tobias me alfinetou, em tom sério. — Mas, de qualquer forma, tenha em mente que a sua missão pode acabar sendo mais difícil do que parece a princípio. Nunca é bom menosprezar os lobos.
— Pode deixar — retruquei, incomodado com o comentário do meu parceiro. — Terei isso em mente.
***
Após desembarcar na cidade indicada em minha missão, chamei um táxi e pedi que ele me levasse até a propriedade onde a família de lobos estava instalada. Era uma pequena chácara, mais afastada da área urbana e cercada de verde. O lugar era adorável e eu começava a entender porque os moradores não estavam tão empolgados em se mudar dali.
Uma vez no local, desci do carro, paguei o motorista e me aproximei da entrada da casa humilde. O sol estava alto e me incomodava bastante, mas eu contava com meu chapéu e meus óculos escuros para me protegerem. Ao parar diante da porta, notei que não havia campainha, então recorri ao método tradicional e bati na superfície de madeira.
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O Clube da Lua: Laços Antigos (Contos / Livro 1.5 ✓)
FantasyExistem datas simbólicas que carregam consigo uma série de significados ocultos e que são muito mais do que meras celebrações ou festividades. Nessa coletânea de contos, acompanhamos personagens marcantes de "O Clube da Lua e a Flor Cadáver" revisi...