Um sapo de chocolate

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RAVENA

Acho que é 10ª vez que virei meu corpo para o outro lado tentando encontrar uma posição confortável para dormir e nada, minha única opção era encarar o vazio debaixo da cama de Lucy enquanto me questionava se eu fosse esperta,  tinha inventado uma doença de última hora, e assim não estaria passando por aquilo. Assistimos Shrek pelo computador da Lu junto com o avô dela; foi mais engraçado assistir a reação dele com o desenho trouxa, e sempre perguntava como conseguiram fazer aqueles bonecos se movimentar e falar sem magia. Mas o diabo não tira férias: planejei por horas minha reação quando topasse com Edmund no meio da casa, ou o aceno de cabeça que eu faria quando ele me cumprimentasse, ou o modo que meus braços poderiam se cruzar só pra parecer natural. Foi inútil, é claro: Edmund não apareceu em momento algum, o que me fez ficar um pouco frustrada e talvez aliviada, talvez ele fosse tirar férias em outro lugar e eu não teria que lidar com os meus sentimentos avassaladores. Eu morria de medo de falar ou fazer algo fora do meu roteiro imaginário. 

Minha garganta estava seca há uns minutos e eu não queria acordar Lucy, que roncava suavemente na cama, então me levantei devagar, saí do quarto e andei silenciosamente pela casa bruxa até a cozinha, e quando cheguei lá, desejei ter ficado com sede. 

O sangue fugiu do meu rosto ao sentir uma frieza atingir minha cabeça e sair escorregando pelo corpo. Era realmente uma droga.

Edmund estava sentado de maneira relaxada na cadeira, os cabelos um pouquinho mais longos que o normal, fazendo os fios ficarem ainda mais bagunçados, seus braços apoiados na mesa, e os dedos esguios, girando lentamente um pacote de um sapo de chocolate; seus olhos castanhos, outrora dispersos, pois estava pensativo, se fixaram em mim atentamente. O rapaz fez um breve movimento para erguer-se dali, mas aparentemente desistiu, o que me fez notar que ele estava descalço, vestindo um calção preto… e sem camisa. 

Dei graças a Deus por estar um pouco escuro, assim ele não pôde ver que eu fiquei vermelha feito um tomate. Eu senti esquentar aqui dentro, entendeu? Mas de qualquer maneira, era interessante saber a consequência do Quadribol… 

Já fui dando meia volta, mas a voz dele me fez congelar:

— Pode ficar, eu já ia sair. 

AJA. NATURALMENTE. 

— Não precisa sair da sua cozinha porque eu tô nela. — falei com uma calma forçada, me aproximando dele para ir até a geladeira, um artefato trouxa que os bruxos acabaram se rendendo também. Tirei a água gelada e percebi que estava um pouco trêmula. — Ou está com medo? — perguntei despretensiosamente. 

Pelo amor de Deus. De onde saiu essa personalidade de vadia calculista?!?! 

— Me diga você, já que está tremendo. — rebateu ele. 

Bati a garrafa na mesa e tentei procurar os copos, indo no armário próximo. 

— Pessoas não ficam tremendo só de medo. Pode ser de raiva ou porque são diabéticas… 

— Você tem diabetes? — perguntou Edmund, curioso. 

— Não! — respondi alto demais. 

— Então está com raiva de mim? 

— Porque acha que é sobre você? — perguntei. 

— Acho que eu fiz algo que você não gostou, ou… não fiz algo. 

Edmund ficou de pé e se encostou na mesa, de frente pra mim, os braços cruzados em frente ao seu peitoral. Ele não era magrelo, nem fortão, não tinha nada definido ali… Era só... bonito de ver. Ocupei a minha boca enchendo ela de água pra pensar em uma resposta. Edmund deveria estar se referindo ao dia em que minha carta de amor vergonhosa pra ele foi a público no Diário da Alvorada por culpa de Rabadash, quer dizer, era sobre ele e pra ele. No fundo, eu queria que fosse ele socando Rabadash naquele dia, e não Digory, mas eu nunca iria dizer aquilo em voz alta. 

Clichê através dos anos [Edmund Pevensie x OC]Onde histórias criam vida. Descubra agora