Na detenção

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RAVENA

Tente ficar sozinha em uma sala trancada com o garoto que você gosta durante um período noturno para ver o que acontece.

No meu caso, não aconteceu nada.

O garoto que eu gosto está namorando minha melhor amiga e temos que limpar a sala de troféus inteira e sem magia só porque ele estava no lugar errado e na hora errada, além de que os verdadeiros responsáveis dissiparam-se em dois tempos. E eu estava morrendo internamente, claro.

Era muito difícil não ficar nervosa, sinceramente. Tentei controlar meu coração, mas as mãos suadas eram visíveis.

Era uma droga. Edmund parecia ficar mais lindo a cada dia, e eu só queria me estapear por ficar pensando no namorado de Tarva. Era traição. Meu Deus. Isso era-

— Ok, vamos aos negócios. — Edmund quebrou o silêncio de 10 minutos e eu dei uma leve paralisada, olhando para ele sem entender.

— Que negócios?

— Você deve, lembra? — perguntou Edmund largando a flanela.

Cruzei os braços.

— Não devo coisa nenhuma!

— Primeiro ano. Torre de Astronomia. Quatro favores em troca de informações. — lembrou Edmund.

Fiquei incrédula. Eu tinha esquecido daquela coisa.

— Está sugerindo que eu limpe a sala sozinha?

Edmund sorriu em resposta.

— Garotas da Corvinal são tão inteligentes, né? — e sentou na poltrona próxima, com as mãos cruzadas na nuca. — E eu nem tinha nada a ver com o ocorrido da xícara.

Ele meio que tinha razão, nem foi culpa dele.

— Me lembre de não fazer nenhum trato maluco com você.

Virei-me para limpar os troféus sozinha, completamente desanimada. Eu também fui meio burrinha, né? Podia perguntar aquelas coisas pra Lúcia de graça! Agora ele ganhou a droga de favores a troco de uma besteirinha. Burra.

— Não fique tão decepcionada, — disse Edmund, sorrindo satisfeito pelo o que pareceu o melhor negócio da sua vida. — pelo menos você tem minha companhia de consolo.

— Uau. Agora tudo ficou bem melhor, como não pensei nisso? — disse irônica, quase espancando o troféu com o pano.

— De quem foi aquela ideia de jerico e colocar a água numa xícara enfeitiçada? — perguntou Edmund após uns minutos em silêncio.

— Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe. — devolvi irritada.

— Você estava com a xícara na mão, Ravena. — lembrou Edmund pacientemente.

Aí. Por que eu estou parecendo tão idiota, burra e boba? Eu não quero soar assim! Principalmente na frente dele.

— Você não tem nada melhor para fazer, não? — perguntei.

— Graças a você, não. — respondeu Edmund novamente com um sorrisinho. — E obrigado por isso.

Olha aí. De novo. Fica calada, Ravena. Meu braço fez um movimento para pegar um troféu e acabei derrubando outros 10 no processo, fazendo um cair direto no pé.

Eu gritei. Edmund riu. Meu pé latejou de dor ao ponto de lágrimas se acumularem nos meus olhos.

Que merda de dia é esse?

Fiquei tão frustrada que comecei a chorar, e nem foi de dor. Ela ajudou no processo, mas o stress talvez tenha superado. E aí, elas rolaram pelo meu rosto quando abaixei para pegar os troféus que estavam caídos no chão. Edmund parou de rir e para minha surpresa, ele se ergueu e me ajudou a colocar aquelas coisas no lugar.

— Senta aí. — pediu Edmund. Obedeci e sentei na poltrona que outrora ele estava sentado. O garoto ainda continuou de joelhos aos meus pés, e aí, começou a tirar o cadarço do sapato do pé atingido, e retirou o calçado com cuidado. — Já quebrou algum dedo?

Neguei com a cabeça.

— O que você sabe sobre ossos quebrados? — perguntei enquanto o observava retirar a meia lenta e cuidadosamente.

Edmund olhou para mim e sorriu, o que fez meu coração dar um salto.

— Sei que sou muito bom em feitiços. — disse ele, o que me fez rolar os olhos, o fazendo sorrir ainda mais.

Palhaço.

— Já consertou alguns dedões, então? — perguntei.

Edmund olhou atentamente para o meu dedo, vendo se estava em alguma posição estranha. E o puxou levemente. Não senti nada além do latejar.

— Nenhum. — respondeu ele. — E não vou consertar agora também. O troféu não conseguiu entortar seu dedo.

— Que péssimo. Podia usar a desculpa para me livrar da detenção, e aí você ficaria sozinho. — concluí, o que fez Edmund rolar os olhos. — Mas talvez Rabadash ficasse satisfeito em ver meu dedo torto depois que dei um fora nele. — disse mais pra mim do que o garoto à minha frente.

Isso chamou a atenção de Edmund.

EDMUND

Dedos, ossos quebrados e ela não tinha chulé. E aí, ela citou Rabadash, o que me fez ficar atento.

Rabadash chamou Ravena para sair? Por que ele fez isso?!

— Rabadash te chamou pra sair? — perguntei.

— Sim.

— E o que você respondeu?

Meu tom não deveria ter soado tão áspero, quase como uma ordem. Talvez tenha sido. Foi sem querer.

Ravena iria responder, então algo em sua expressão aconteceu: o cenho foi unido e ela fez um biquinho inconscientemente. Era bem fofo.

— Isso não é da sua conta. — replicou Ravena.

Ela iria responder, foi o meu tom áspero sem querer que a fez ficar na defensiva. Mas tudo bem, eu iria descobrir com Tarva.

Espere.

Por que drogas eu estou me importando com isso? Ela tem razão, não é da minha conta. E ter noção disso fez minha boca sentir um gosto amargo. Soltei o pé dela e me ergui, puxando a flanela e a entregando.

— Você tem um tempo antes que a múmia do Filch venha checar. E você tem que trabalhar por dois. — a lembrei soando um pouco arrogante.

Ravena fechou a cara e puxou o tecido da minha mão. Até que a loirinha tinha força... Assisti ela dar as costas e voltar a limpar as estantes; ninguém disse mais nada durante o resto da noite.

Pelo menos, não verbalmente.

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Notas: Ooi

😈

Clichê através dos anos [Edmund Pevensie x OC]Onde histórias criam vida. Descubra agora