A decisão

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Eduardo Sanchez 


Parado em frente a uma enorme, e  recém construída casa na árvore, percebi que mudar a rota de vez em quando valia a pena.


Quando Jhon pediu que construíssemos a casa, Suzana enlouqueceu. Ela nem queria saber da ideia, disse que seria muito perigoso. De inicio concordei com sua decisão, mais ao ver a tristeza nos olhos do meu filho, mudei de opinião. Lembrei do que Lia havia me dito certa tarde em seu quarto:
" você é capaz de ser e fazer qualquer coisa"

Então, resolvi fazer a vontade do meu primogênito, o que deixou minha mulher irritadíssima, fazendo-nos ter nossa primeira briga de verdade:

- Então agora você resolveu me desacatar Eduardo? Eu já tinha dito não para essa casa na árvore.  


Ela falava como se eu não pudesse opinar, ou como se não fosse eu o pai do garoto.


- Mas pensei melhor, e resolvi dizer sim, afinal eu sou o pai, e o chefe da casa. Certo ?


Percebi em seus olhos a surpresa.


- Claro que você é o chefe da casa. Mas também sempre concordou comigo, não entendo o que estava acontecendo amor.


Dessa vez sua voz saiu baixa, doce, e manhosa. Bem diferente de alguns segundos atrás.

Levando isso em consideração, ponderei minhas  próximas palavras:


- Eu só acho que nesse caso, podemos fazer uma exceção. Jhon realmente quer isso.

Suzana respirou fundo, e esbravejou: 

- Não, ele não quer. A Lia quer. Você acha que eu não sei ? Essa ideia maluca foi dela. Quando  tinha a idade do meu bebê, o pai dela também lhe deu uma casa na árvore. Ela vivia trepada lá. 

Sim, eu poderia imaginar Lia lá em cima. E por algum motivo, isso me fez sorrir.


- Eduardo! Esta me ouvindo amor? É sério que vai levar isso adiante contra a minha vontade ?

Sai de meus pensamentos e voltei para a realidade.


Senti as mãos de Suzana sob mim, seu olhar era convidativo, e por um segundo realmente me fez pensar.
Mas o que saiu da minha boa a seguir a deixou furiosa:


 - Sim, tenho certeza.  Jhon terá o que quer.


E pronto, agora a casa da árvore do meu filho estava terminada. 


Lia Cooper 


Dava pra ver meu irmãozinho de longe. Ele estava eufórico enquanto brincava em sua nova aquisição: uma linda e majestosa casa na árvore.


Essa cena em questão, me fez lembrar com carinho da casa que um dia eu e meu pai construímos no nosso quintal.  Claro que ela não era nem tão grande, nem tão vistosa como a da minha frente, já que Eduardo pediu que uma equipe especializada a construísse. Mas o amor envolvido no esforço do meu pai para transformar restos de madeira em um pedacinho de alegria pra mim, sempre me emocionava.  Inclusive nesse momento, conseguia sentir as lagrimas chegando. Ele realmente me fazia muita falta.

Então, enquanto me perdia em meio a lembranças, senti mãos grandes e firmes sob minhas costas, e uma voz roca e suave no meu ouvido:

- Você esta bem Lia?

Ao mi virar, vi  Eduardo me olhando com preocupação. 
Aquilo me desmontou de tal maneira, que nem consegui responder, apenar comecei a chorar. o que o deixou ainda mais atento.

- Não me assusta. Me diz, aconteceu alguma coisa?

Vendo que não iria responder,  Eduardo me tomou em seus braços e me abraçou, pousando um casto e delicado beijo em minha testa. O que me fez chorar ainda mais. 

- Calma! me diz pelo amor de Deus. o que houve?
Sua voz saiu tremula ao me indagar dessa vez. 

Então, respirei fundo, e o abracei de volta, com força. E com convicção, expliquei:

- Eu estou com muitas saudades do meu pai. O amor dele me faz muita falta. 

Senti o corpo do Eduardo estremecer junto ao meu.

- Eu sei como é difícil. Sinto falta dos meus pais todos os dias. Quando eles morreram fiquei sem chão. Mas eu prometo, eu estou aqui. 

Imediatamente me desvencilhei do seu abraço. Aquela afirmação, me trouxe lembranças indesejadas para o momento. E foi por isso que  enxuguei minhas lagrimas e disse:

-  É melhor você se afastar.

Ele parecia não entender nada.

MEU PADRASTOOnde histórias criam vida. Descubra agora