Será tarde demais?

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Eduardo Sanchez

Já havia se passado um mês, desde o dia em que a Lia foi  embora.
Enquanto ainda estava em casa, ela se manteve ocupada com o Jhon, com os novos amigos, a mudança, e também com o tio que a estava ajudando. Durante esse tempo, ela  fez questão de se afastar de mim. Sei que ela estava fazendo isso para não me arrumar mais preocupações, mas a verdade é que estava sendo insuportável vê-la partir.

Suzana parecia nem ligar, ela estava muito empenhada em se fazer cada vez mais presente, e como antes, tomar posse de tudo e todos em  sua volta. Será que ela sempre foi assim e eu não percebia, ou será que começou a se apegar por causa da insegurança?

Seja como for, estava dando certo pra ela.  As coisas ao nosso redor, com o passar dos dias, pareciam ir bem, mais eu não estava nada bem. 

Sempre que possível, eu entrava no antigo quarto da Lia, para sentir seu cheiro. Não sei se de fato ele ainda estava ali, ou se eram as minhas lembranças que o trazia de volta.
A questão é que ela fazia falta. A casa mudou quando ela chegou, e também mudou quando ela foi embora.
As risadas que inundavam os corredores, cessaram, aquela agitação de ideias e energia também. Jhon andava triste, e ficou ainda mais depois que Duque fugiu. Até a Rosa parou de caprichar na comida. 

Mas eu sei que o meu casamento precisava de mais uma chance.  Embora não amassa Suzana como antes, eu ainda tinha carinho e respeito. Afinal de contas, ela sempre será a mãe do meu filho. E ela se esforçou muito pela nossa família, não poderia agora ser egoísta, né?

Só que mesmo assim, depois de tudo, ainda fico martelando e repassando momentos vividos, não só de agora, como também do passado. 
Eu tentava dia após dia,  entender melhor o que poderia significar:
"Tirar as vendas dos olhos, e o fato da  razão ser melhor que o coração. "

Sim, eu sou o mais velho, mas Lia ao que parece, é muito mais sábia.

- Eduardo ? Está me ouvindo?

De repente  vejo Thomas acenar com as mão, lembrando-me de sua existência.
Ele estava sentado comigo em uma mesa perto da piscina.

- O que foi ?   - perguntei perdido.
- Mano, você  precisa reagir. Olha pra você, esta um trapo, parece que não dorme á dias.
- É, eu tenho dormido pouco mesmo.  - confessei
- Ainda com a Lia na cabeça?  Achei que a garota, tivesse deixado as coisas mais  fáceis.
O encarei.

 - Exatamente. Ela não fez drama, não me cobrou nada, me aconselhou, me agradeceu, me deu espaço, e por fim, com um único gesto, me garantiu que se eu quisesse manter meu casamento, ela não atrapalharia. 
- E embora, esteja tentando, isso te fez pensar mais.  Certo?
- Na verdade, me  fez ponderar mais.  A atitude da Lia, foi muito diferente da Suzana. 
-  Isso porque, as duas são muito diferentes.
- Isso com certeza. - concordei

Ficamos em silêncio por alguns segundos, e então prossegui.

- Sabe como eu me sinto?  
- Como? - retrucou meu amigo curioso
- Com medo. - confessei - Tenho muito medo.
- E sabe o que eu acho de tudo isso? Que você quer ficar com a Lia, porque a ama, mas ao mesmo tempo, se sente em divida com a Suzana. Ai,  isso te dá medo. É tipo aquele medo de ser injusto, egoísta, e covarde.
- Thomas, a Suzana me ama! - exclamei, como se isso justificasse algo.
 - Será cara ?  Uma pessoa que fica jogando na cara da outra o que fez por ela, que usa o filho pra tentar fragilizar a situação, ou se faz de vitima o tempo todo,  não parece amar, pra mim é mais uma questão de ego. Talvez, você seja uma obsessão pra ela. Sério, já tentou colocar na balança o que realmente ela fez POR VOCÊ, e não PARA VOCÊ? Porque tem uma grande diferença nisso.

Comecei a pensar no que Thomas estava falando, e tudo começou a se encaixar como peças de um quebra cabeça.
 Eu não posso só ouvir o coração, porque se fizer isso, sempre ficarei dividido,  pois o que estava em jogo são sentimentos, e temos vários.  Sendo assim, eu teria  que usar também a minha razão, para separar, e analisar,  o contexto geral.

Enfim, era só enxergar.

Esse tempo todo, eu deixei me manipular. E não que a culpa fosse só da Suzana, porque foi eu que criei uma falsa ilusão, a respeito de um tal perfeição que nunca existiu. Ou melhor, que existiu pra mim, segundo o que eu estava precisando. Acabei inventando um sentimento que pudesse suprir minhas falhas. E a única coisa que a Suzana fez, foi se aproveitar disso, dando-me aquilo que eu não tinha. Por isso que as sensações que a Lia provoca em mim me deixam tão confuso e ao mesmo tempo tão vivo. Porque elas sim, são reais. E eu não posso jogar isso pro ar, e continuar me enganando . Não mais!

Sorri feito um bobo por conseguir finalmente chegar a essa conclusão.

- Ei! Edu? Porque você tá com esse sorrisinho medonho? - debochou me tirando do transe.
 - Porque eu sou burro demais. Uma perfeita Anta!

O Ouvir rir.
 - É verdade, nunca entendi como um homem desse tamanho, pudesse ser tão devagar.
- Cala boca. - brinquei jogando um canudinho nele.
 - Agora sem brincadeira. Parece que você chegou á uma decisão,  definitiva dessa vez. Estou enganado?
- Não, você está certo. E eu preciso falar com a Suzana, agora, nesse momento - afirmei
- Isso amigo, vai atrás de ser feliz. Toma uma atitude! Mas acho que não vai ser agora não, que  você vai poder fazer isso.
- porque?  quis saber
- Porque quando eu cheguei, Suzana estava saindo.


MEU PADRASTOOnde histórias criam vida. Descubra agora