O começo do Fim

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Eduardo Sanchez 


Quando eu era pequeno, meu pai me ensinou a pescar. Ele dizia que o segredo para ser um bom pescador, estava em ter paciência, e em saber usar o discernimento.
Porque ? porque um te faria esperar pela hora certa, e o outro te ajudaria agir no momento correto.  E como sempre, não era uma lição obtusa. Pois, ela poderia se aplicar á muitos aspectos da vida. Entretanto, falhei quando fui posto á prova.  Errei, e me deixei enganar, quando deveria ter pensado á longo prazo, bem como, ter discernido com cautela meus atos. Como resultado, acabei sendo engolido por um lobo em pele de cordeiro.


De fato,  segundo a terceira lei de Newton: Toda ação, tem uma reação.
Hoje, minhas decisões, estavam cobrando seu preço.
E a mercê do destino, me coloquei aos pés de uma psicopata. Ou, na menor das hipóteses, estava nas mãos de uma pessoa doente. 

Suzana estava fora de si. 
Além de me levar para o meio do nada, ela me prendeu, me bateu, e me ameaçou, e o pior de tudo, meu filho estava de telespectador. 
Fiquei desesperado, não por estar com dor, ou pelo meu próprio sofrimento. 
Mas fiquei pensando: Será que meu filho teve que sofrer calado, enquanto estava cego?
Será que eu poderia ter ajudado Lia, em vez de ter me acovardado atrás de um sentimento inexistente? 

Á essa altura, se sentir culpado era inevitável. Mas, eu não era o único. 
Suzana vivia uma culpa ainda maior. 

Em certo momento, motivado pelo desespero, me calei.
Olhei em volta e vi um barracão enorme, cheio de velharias. Estava frio, sujo e o ar que habitava ali era denso.  Eu estava preso em um pilar de ferro. Havia vários deles, creio que devido á estrutura do lugar.

Ir contra, ou tentar raciocinar com Suzana, não esta me levando á lugar nenhum.
Jhon já estava pálido, tremendo, e assustado. 
Precisava agir rápido, e de modo mas sagaz. Então, mudei de tática. 
Após ouvir, diversas vezes: Você tem que me amar, porque você não me ama ? e , esquece a Lia, resolvi adotar uma postura diferente. Comecei a concordar com ela. Pedi perdão, e falei o que ela mais queria ouvir: Eu te amo Suzana.
No exato momento que proferi essas palavras á vi respirar aliviada, seu semblante mudou, ela sorriu, e me abraçou.

Para ganhar ainda mais tempo, bem como, sua confiança,  tentei entender porque ela havia se tornado essa pessoa. 

- Meu amor - disse tentando parecer natural e carinhoso - Porque você fez tudo o que fez? 

Suzana não era boba, eu sabia, mas carente com certeza. Por isso, primeiro, ela me lançou um olhar de dúvida.
Depois, pareceu pensar. 
Se ajeitou, e então começou a falar:

- Minha mãe era dura comigo.  Eu sempre  apanhava. Além de grossa naturalmente, ela bebia muito. E ao que parece me socar, era seu jeito preferido de relaxar. Meu corpo vivia doendo, e ele ficava repleto de  machucados. Mas um dia, eu cansei de apanhar.

Houve um silêncio momentâneo, que me assustou.
Mesmo assim resolvi, motiva-la a continuar:

- E o que aconteceu ? 

A pergunta pareceu acionar uma lembrança antiga, pois seu olhar ficou vago.
Havia sofrimento em sua fisionomia. 

- Estávamos no topo da escada. - mencionou, logo após respirar fundo.
Deixei que continuasse sem interromper, e foi o que fez.

- Minha mãe gritava muito.
Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.
- Quando ela levantou a mão para me bater, eu a segurei.
Seu corpo tremeu.

- Acabei empurrando- a escada á baixo -  confessou olhando para mim. -  Quando desci para vê-la, ela ainda estava viva, e pedia por  ajuda. Mas eu não ajudei. Em vez disso, me sentei do seu lado, e fiquei olhando, até que morresse. - contou ao abrir um sorriso. - Amei ver ela agonizar.  

Meu corpo gelou. 
Queria sair correndo , mas em vez disso á abracei.
Suzana aproveitou a aproximação, e me beijou. Retribui, para que não houvesse maiores atritos. Entretanto, senti vontade de vomitar.

- Quantos anos tinha quando isso aconteceu? - quis saber.
- 10 anos. - respondeu atordoada. 

Aproveitei o momento para tirar ainda mais confissões. 
Com cautela, é claro.

- E porque você matou o Fernando e o Caio? 

Ela inclinou a cabeça um pouco para o lado, e depois acariciou meu rosto machucado. 

- Eles foram maus comigo.  - pontuou, antes explicar - O Fernando disse que tinha deixado de me amar. Tentei dar outra chance para que reconsiderasse, assim como fiz com você,  mais não foi o bastante. E se tem uma coisa que eu odeio, é  ser rejeitada. Então, resolvi acabar com o que me incomodava. Foi simples, e fácil. Mas o que me deu prazer de verdade, não foi enterra-lo, e sim ver sua expressão ao descobrir, que a pessoa que mais amava não era dele. - sorriu ao se lembrar. - E  o Caio, além de me chantagear, jogou na minha cara que já não me amava mais, que me odiava, e que foi, e seria a única pessoa que teve sentimentos reais por mim  - Riu ao falar- Nunca gostei dele, mais adorava saber que ele me queria. Como nem essa satisfação, ele me proporcionava mais,  o matei.  - suspirou, sem nenhum remorso ao terminar o relato.

Fiquei chocado com tanta frieza. 
Cheguei até a suar frio.
Mas sabia que fazer ela falar, ajudaria, pois o lugar á essa altura deveria estar cheio de policiais.
Eu só precisava tirar sua concentração. 

- Você é uma mulher tão linda e inteligente. - elogiei de repente.
Suzana sorriu.
Ela sempre foi vaidosa, e gostava de ser paparicada. 
Mas tinha mais uma pergunta que queria fazer. Dessa vez por satisfação pessoal.

-Você teria coragem de matar um dos seus filhos? - questionei, com medo da resposta.
Ela me encarou
- pergunta por causa  da Lia, a sua  vagabunda?
Só conseguia ver ódio em seus olhos.
Engoli em seco, e depois menti.

- Claro que não, Lia não significou nada  para mim. Eu já disse, eu amo só você. A pergunta é pelo Jhon.

Suzana mordeu os lábios, e abriu um largo sorriso.
Em seguida, se inclinou um pouco para frente, e sussurrou: 
- Sim,  eu teria coragem de matá-lo.

Aquilo foi demais pra mim.
Como uma mãe poderia dizer isso?
Que se  dane o disfarce de homem apaixonado.
Meu sangue não era de barata.

Fui para cima daquele mostro de uma vez só. 
Sem muitos problemas, consegui jogar sua arma para longe. 

Ela arregalou os olhos e tentou correr.

- Maldito! você estava me enganando. - gritou

Os policiais escolheram aquele momento para sair á luz.
O que sucedeu depois, aconteceu rápido demais.

Suzana conseguiu chegar até o revólver, transformando Jhon em um alvo fácil

Corri, gritei, mas não consegui evitar o disparo.

Suzana Sanchez 

MEU PADRASTOOnde histórias criam vida. Descubra agora