O quarto ato

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Madara não voltou para o departamento naquela tarde, por isso se certificou de que sua sala estava trancada, e tudo que não era de interesse de terceiros, desligado – como o monitor das câmeras dos sobrinhos -.

Ao invés disso, foi para seu apartamento junto do Capitão amenizar a "culpa" que os mantinham longe de um relacionamento mais próximo, fosse por suas posições dentro do Departamento, ou pelo passado no exército.

Eles estavam cobertos com um lençol, apoiados sobre a cabeceira da cama de Madara enquanto liam alguns relatórios, continuando seus trabalhos em um local melhor apropriado – e íntimo. Hashirama ainda tomava uma xícara de chá de hibisco.

- A Família Imperial pediu algum tipo de segurança adicional? Ou o protocolo vai ser o mesmo de todos os anos?

- Nada de muito diferente. – O Senju apontou alguns locais marcados no relatório. – Eles querem os detetives e policiais nas mesmas ruas de sempre, o roteiro feito pelo Imperador não vai mudar.

- Então não precisa traçar nenhum plano para o dia?

- Específico não. Eu vou redigir um relatório oficial padrão e você entrega para o seu pessoal, assim fica mais bem formalizado. Tudo bem?

Madara o mirou, e anuiu.

- Por que você parece tão preocupado nesses últimos dias? Aconteceu alguma coisa?

- Não. – Hashirama colocou o papel sobre as pernas e virou o rosto, observando as paredes em tom marrom do quarto de Madara. – Mas eu estou um pouco preocupado sim.

- Com a gente?

- Sim. Somos homens bem resolvidos Madara, não queria que fosse assim. Tenho medo de perder você.

O Tenente se aproximou, embrenhando a mão pelos longos cabelos negros do Capitão e o trazendo para um beijo calmo, tranquilo. Madara e Hashirama se conheciam há pelo menos vinte anos, e desde que se viram no exército perceberam que sua amizade poderia ir além – e foi -. Mas como cadetes, precisavam cuidar para que seu relacionamento não vazasse e fosse motivo de escândalo e expulsão.


Conseguiram desde essa época se encontrar as escondidas. Quando Hashirama se tornou Capitão, e Madara alcançou o posto de Tenente, o Senju decidiu se retirar das forças armadas para seguir carreira na polícia, e eventualmente o Uchiha seguiu o mesmo caminho, por se interessar pelo trabalho policial, e para se afastar do caminho que o pai percorreu quando tinha sua idade, por conta do que fazia para sua mãe quando ninguém estava olhando.

E assim ambos foram construindo seu caminho dentro da polícia, e acabaram por ocupar postos semelhantes a suas posições na junta militar. Madara passou por outros departamentos antes de chegar ao "antissequestro", e Hashirama passou por muita burocracia antes de conseguir estar à frente do Departamento como um todo. Auxiliava Madara, mas também poderia responder em outros departamentos se fosse necessário.

Longe dos olhos de seus detetives, eram amantes fervorosos, mas depois de vinte anos mesmo Hashirama, que era muito tranquilo e reservado, se sentia incomodado. Itachi e Sasuke eram um dos poucos que sabiam sobre seu relacionamento, de modo que o Capitão também fazia parte do restrito grupo que conhecia a relação entre os irmãos Uchiha.

No caso deles, não era possível simplesmente jogar ao vento que estavam juntos; mas para ele e Madara, em alguns termos, era uma situação mais maleável de ser aceita, mesmo que talvez precisassem passar por interrogatórios baseados em incredulidade e preconceito. A questão para Hashirama não era a exposição, mas sim o medo de que Madara pudesse interpretar erroneamente.

- Depois de vinte anos? – O Tenente juntou a mão com a do outro, entrelaçando seus dedos. – Hashirama, não somos mais crianças, não quero que tenha esse tipo de medo, porque está tudo bem. A menos que você queira mudar.

O AnestesistaOnde histórias criam vida. Descubra agora