O vigésimo sexto ato

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Madara tinha razão.

Ele achou que ia dar merda, e deu mesmo.

A sucessão sangrenta de fatos que pintou aquela cena ficou marcada para sempre na mente quem a presenciava, civis e policiais. Infelizmente, se tratou de desperdício desnecessário de sangue, envolvendo o do próprio Uchiha.

Koji Watanabe disparou em Hashirama obrigando o Tenente a escolher entre deixar o Senju tomar aqueles cinco tiros ou se jogar a sua frente sabendo que estava sem colete e ser baleado em seu lugar.

Madara não pensou duas vezes. Ele jamais deixaria Hashirama ser tocado pelo Anestesista, mesmo que tivesse de morrer para isso. O Tenente fez sua escolha e não se arrependia de se condenar; no entanto, ele era Uchiha Madara, e Koji perdeu seu sorriso de escárnio no momento em que percebeu ter negligenciado esse fato.

Porque o Tenente teve tempo de disparar uma única bala antes de se jogar na frente de Hashirama. E esse único tiro cumpriu a promessa de Madara de acabar com o ódio do Anestesista. Ele o acertou no coração.

E Shino, tomado pela decisão de dar um fim naquela situação, descarregou sua arma nas costas do Anestesista conforme ele tombava ao ter o coração atravessado pela bala que veio da arma de Madara. Ele caiu morto antes de atingir o chão, pelas mãos do Tenente.

A destruição já estava feita, era um cenário de sangue, dor e devastação. Hashirama sentiu as pernas tombar e caiu ao lado de Madara, incapaz de falar. Sua garganta foi tomada pelo choro e ele curvou o corpo em direção ao Tenente bloqueando o sol de bater em seu rosto.

- Não...

Madara tinha um sorriso sereno e piscava lentamente. Um filete de sangue saía pelo canto de sua boca e descia até o pescoço, maculando a gola branca de sua camisa social. O tecido antes alvo agora estava marcado com cinco pontos redondos de onde o sangue saía e ia se acumulando abaixo de suas costas.

Hashirama o estava perdendo.

- S-Seu idiota. - Madara soltou a arma ao lado do corpo e a ergueu, tocando no rosto do Capitão. - Não chora.

O Senju levou a mão ao rosto e seu choro desesperado foi o primeiro som que veio após um silêncio depois de o Anestesista ser baleado. Ele precisou apoiar a mão livre no chão quente da estrada para não cair de vez sobre Madara, não tinha mais forças para se sustentar.

Shino deu as costas à Koji para chamar a ambulância, e mesmo com tantas testemunhas o detetive não tinha medo de precisar lidar com algum processo interno por ter baleado o Anestesista, não deixaria que o homem atacasse seu Tenente e ficasse vivo, tendo uma chance de escapar.

As viaturas que vieram de apoio cercaram tudo, bloqueando aquela pista por completo. O taxista caiu no chão e tremia constantemente enquanto tomado por um choro involuntário, e o medo que lhe apossou após tantos tiros.

Shino passou as informações para Shikamaru, e pediu a ele que avisasse a família Uchiha antes que algum noticiário pudesse passar meias informações alimentadas pela mídia e sua busca eterna em conseguir ibope. O Nara passou pelo choque de saber o que tinha acontecido, e com as mãos trêmulas pegou o celular para ligar para Itachi.

Hashirama se sentiu bombardeado por todas as lembranças dos anos vividos ao lado de Madara, até aquela desesperada situação. Alguns policiais se aproximaram com a intenção de ajudar, talvez de alguma maneira tentar estancar o sangramento, mas o Tenente tinha sido muito machucado por todos aqueles cinco tiros para que algumas compressas falhas pudessem impedir que ele perdesse mais sangue.

- Madara... Por quê?

Hashirama amava um homem tão intenso, bravo e orgulhoso, que mesmo em tamanho estado Madara ainda sustentava seu sorriso sereno, mesmo que acompanhado por uma feição de dor, a qual ignorava.

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