O Anestesista

O oitavo ato

Shinki nasceu no começo da madrugada, depois de Kaoru ter de lidar com pelo menos quinze horas de trabalho de parto muito doloridas.

O médico o colocou em seus braços, e depois do primeiro e intenso momento após o nascimento, ela teve fôlego para respirar sem sentir mais dor e reparar na fisionomia do filho, que era tão ruivo quanto ela e Gaara, e com brilhantes e expressivos olhos verdes. O marido não a deixou em nenhum momento, apenas para apresentar o pequenino para a família - depois de cortar o cordão umbilical -, que esperava próximo à sala de parto.

Minato e Naruto choravam com tamanha intensidade que Gaara tinha quase certeza de que estavam desidratando. Ele também se emocionou ao pegar o filho nos braços, mas a exaustão em que Kaoru se encontrava o estava deixando preocupado.

Suas mães se abraçaram ao ver o pequeno bebê, e quando Gaara se afastou para retornar ao quarto, encontrou Kaoru em outra maca, para ser levada até o quarto. Tomou o pequenino em seus braços, e foi acompanhada para o andar em que ficaria internada por alguns dias. As famílias seriam encaminhadas para lá, e se encontrariam rapidamente com eles antes de Shinki ser levado para o berçário e Kaoru poder descansar depois de tanto esforço.

Quando seus pais foram embora, e Kaoru conseguiu dormir, Gaara abriu seu e-mail para continuar trabalhando. Só então percebeu que os e-mails enviados para Sasuke não tinham sido respondidos, e suas mensagens sequer visualizadas. Ele estranhou tanto quanto mais cedo, quando tinha internado Kaoru. Alguma coisa não parecia certa.

xXx

Quando Itachi acordou, sentiu os olhos arderem antes de completar um ciclo de respiração.

O peso do dia anterior voltou com força sobre seus ombros, e ele ficou deitado na mesma posição; seu ombro reclamando do peso em apenas um lado do corpo por tantas horas. A cada segundo passado ele parecia um pouco mais apático, incapaz de reagir. Acordar sem saber onde Sasuke estaria, porque alguém queria sequestrá-lo, e se conseguiria lhe encontrar.

Era de arrancar o ar com força dos pulmões. Além disso, como avisar a família? Como Itachi poderia ligar para a própria mãe e dizer que seu pequeno tinha sido sequestrado? O que falar para a mãe que levantara cedo e pensou com tanto carinho no cardápio que faria para agradar a todos que deveriam estar ali mais tarde, mas não o fariam?

Como dizer para uma mãe que seu filho não estava mais ali?

Itachi puxou os cabelos com força até que sua cabeça ardeu por fazê-lo. Sua garganta já estava se fechando com o choro que chegava quando Madara apareceu no quarto. Ele dormiu tão pouco que tinha a impressão de não tê-lo feito.

- Sabia que ia acordar cedo.

- Sabia também que eu ia acordar me sentindo incapaz de sair da cama? – Madara anuiu. – Não é justo tio.

- Eu sei que não é. Nunca é. – O Tenente se adiantou para dentro do cômodo. – Mas por mais que eu possa parecer frio, nós precisamos lidar como qualquer outro caso, porque é assim que conseguimos chegar a algum lugar.

- Tio. – Itachi se sentou na cama. Seu rosto estava tão inchado quanto na noite anterior. – Eu preciso ligar para a minha mãe e dizer que nós não vamos poder almoçar lá hoje porque o Sasuke foi sequestrado. Como eu posso me sentir sobre isso?

- Assim desse jeito que já está sentindo. Não é para fingir que nada está acontecendo, passei muitas horas sentindo a mesma culpa, mas se a gente só discutir e ficar se culpando não vamos conseguir chegar a lugar algum, e isso não é justo com o Sasuke. A vítima é sempre o nosso objetivo, ninguém é mais importante que ela.

Itachi se sentiu raivoso e aflito. Ele não pretendia ficar deitado vendo as horas passar sem lutar pelo irmão, mas tinha um buraco em seu peito que doía profundamente, e isso tornava levantar da cama um desafio que precisou de muita força para ser vencido.