O vigésimo quarto ato

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Sasuke acordou no meio da tarde, ainda com o dia claro e brilhante.

De primeiro momento precisou de alguns minutos para se situar, mas reconheceu bem rapidamente os detalhes de seu antigo quarto, e o que lhe pertencia depois de adulto que Itachi levou até lá. Estar na casa dos pais depois de anos morando só lhe trouxe uma boa sensação de conforto.

Ele precisava se apoiar nos braços para conseguir se sentar, mas pelo costume quase usou as mãos, impedido apenas pelas cicatrizes que lhe colocaram de volta à realidade, como um bloqueio que lhe dizia para não fazer. Um martírio que o trazia para a situação delicada que estava vivendo, mesmo enquanto envolto por sonolência.

Sasuke se levantou descalço, sentindo o carpete fofo em seus pés por alguns minutos enquanto caminhava pelo quarto. A porta para a sacada ainda estava aberta, de modo que as cortinas continuavam seu bailar, e a brisa fresca ainda envolvia o filho mais novo, mantendo o ambiente refrescante.

De fato a solidão e o silêncio de seu quarto estavam fazendo bem para sua mente agitada, e lhe trazendo a paz que ele buscou, mas não encontraria jamais no hospital. Sasuke não precisava se preocupar com repórteres, pessoas o perseguindo, ou qualquer outro tipo de incômodo, podia se resguardar dentro dos muros altos da casa de seus pais.

Ele deixou o quarto depois de calçar as pantufas e ter alguma dificuldade com a porta, que insistia em querer escapar cada vez que ele a puxava com os cotovelos. Depois de algumas tentativas respirando bem fundo sem querer quebrar a madeira ao meio, ele conseguiu.

O corredor principal do segundo andar tinha janelas dos dois lados, e por conta disso a iluminação natural abrangia toda sua extensão, sem ser necessário o apoio de lâmpadas até o começo da noite. Nos dias de verão, em que a claridade se esvaia mais tarde, sequer era necessário aquele apoio, pois Mikoto e Fugaku sabiam como andar pela casa sem bater nos móveis.

Sasuke já estava próximo das escadas quando ouviu as vozes de seus familiares. Madara estava por ali, como sempre vestido em seu social bem passado, mas com as mangas da camisa erguidas o suficiente para tentar espantar um pouco do calor, apesar dos longos cabelos sobre seus ombros.

- Boa tarde, Vossa Alteza.

Sasuke parou no meio da escada e encarou Madara, que ria em sua direção.

- Eu odeio esse apelido.

- E é por essas coisas que você diz que eu tenho certeza de que ele é perfeito.

O sobrinho ainda resmungou alguma coisa, mas apenas se deixou abraçar pelo tio e o envolveu com os braços, agradecendo de modo que apenas Madara foi capaz de ouvir. Eles trocaram um olhar muito profundo ao se separar. Precisavam de um tempo para conversar.

- Você tá melhor Sasuke?

- Suficiente. – Ele se sentou ao lado do tio, que percebeu a dificuldade em fazê-lo sem usar as mãos. – Os médicos disseram que a intoxicação foi controlada, mas eu preciso ainda tomar cuidado com a minha alimentação por enquanto pra controlar anemia e esses outros problemas. – Ele estendeu as mãos para Madara, depois de longe daqueles tantos pontos. – E minhas mãos estão tão condenadas quanto o senhor deve ter pensado quando me viu naquele porão.

- Corta o senhor. – Madara respondeu sem realmente olhar Sasuke nos olhos. Ele tocou as mãos do sobrinho com cuidado, se sentindo culpado. – Eu vou descobrir onde ele está Sasuke, e colocar um fim nisso.

- Eu sei, mas toma cuidado, ele também te conhece.

- Conhece mesmo, bem demais. – Madara não tinha contado ao sobrinho sobre a máscara ainda. – O Itachi falou com você? Eu preciso recolher o seu depoimento.

O AnestesistaOnde histórias criam vida. Descubra agora