O vigésimo segundo ato

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Viktor e Madara deixaram o bar do gentil Takashi quase onze horas da noite, onde ignoraram em potencial qualquer ligação provinda do mundo externo, mesmo que das pessoas de suas vidas. O Tenente tinha bebido algumas cervejas, mas se mostrou muito resistente a seu efeito, e o médico ficou em seu copo de leite, mas eventualmente descobriu que também havia alguns sucos ali, e trocou sua bebida para combinar melhor com as batatas.

No final de todo aquele ciclo de conversas, os dois homens estavam bastante à vontade em suas realidades, e tranquilos mesmo após deixar o local. Como prometido, Viktor levou Madara até seu apartamento, o deixando em segurança e sem qualquer risco de quebrar a lei.

- Entregue, Tenente.

- Obrigado. – Madara se voltou para ele. Suas bochechas estavam levemente avermelhadas, nada grave. – Por tudo.

- Fico grato de poder ter ajudado de alguma forma, Tenente. Espero que seus dias sejam mais felizes a partir de agora.

Madara lhe dedicou um menear e deixou o veículo; Viktor foi embora apenas quando o viu adentrando os portões principais, sumindo por ali. O Tenente cumprimentou os porteiros e subiu direto a seu apartamento, ganhando espaço para dentro da sala. Cada andar comportava três apartamentos, mas com distâncias consideráveis, de modo que havia alguma preservação de privacidade. Também não era um prédio muito grande, então mesmo um sábado de madrugada poderia ter alguma paz.

O Uchiha seguiu direto para a área de serviço e pegou uma toalha, voltando ao banheiro do corredor, que era mais perto, onde tomou um banho refrescante. Apesar do horário estava bastante abafado, e uma ducha rápida tiraria os efeitos do álcool de seu organismo, e o calor provindo da estação, e da cerveja.

Conversas difíceis sempre deixavam como resultado a reflexão, e a cabeça do Uchiha já estava repensando várias vezes as mesmas frases de Viktor. Ele era um homem feliz, Madara conseguia perceber isso, mas eram suas impressões depois do sequestro de Sasuke que estavam mudando sua maneira de pensar.

Ele enrolou a toalha na cintura e saiu do banheiro com os cabelos presos em uma espécie de coque bastante esquisito, mas que serviu para não molhar os fios alongados. Seguiu para o quarto já sentindo os efeitos das cervejas e do dia difícil, e acendeu a luz apenas para ser mais fácil pegar qualquer peça de roupa sem precisar se preocupar em procurar algo "adequado".

Mas sua ação parou ainda no meio do caminho, e o Tenente mudou a direção de sua atenção para a cama, piscando algumas vezes para ter certeza de que não estava bêbado.

- Hashirama?

Madara escutou algum resmungo que não foi possível de entender, e o Capitão apenas se mexeu na cama, voltando a dormir. O Tenente soltou o cabelo e se aproximou do lado vago do móvel; um sorriso único bailava em seus lábios, daqueles que ele só tinha para o Senju, e que muito refletiam suas decisões acerca da conversa com Viktor.

E como foi bom ver o homem dormindo ali depois de ser o motivo dos pensamentos de Madara por tantas horas. Ele se sentou e acarinhou a face adormecida; eventualmente, Hashirama abriu os olhos, e apesar de não ter dito nada, Madara achou adorável a feição sonolenta do Capitão.

Eles tinham tantas lembranças bonitas.

Eram vinte anos de amor. Bruto.

- Perdeu o caminho de casa?

- É. - Hashirama aproximou o corpo e apoiou a cabeça sobre as pernas de Madara. - Perdi.

- Hashirama. - Madara acabou rindo e se sentindo o homem mais apaixonado da face da terra. - Aconteceu alguma coisa?

- Não. - Depois de alguma insistência o homem ergueu parte do corpo, e os cabelos lisos apenas escorreram pelo peito desnudo. - Eu senti sua falta.

- Meu Deus.

O AnestesistaOnde histórias criam vida. Descubra agora