O vigésimo sétimo ato

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Hashirama perdeu o fôlego, e a força nas pernas.

Madara carregava a mesma feição serena de quando tinha sido alvejado, e apesar de tamanha letargia conseguiu visualizar o Senju e tocar em sua mão, terminando de destruir todas as estruturas do homem com aquele gesto singelo, que significava que ele estava de volta, e havia tido uma segunda chance.

Hashirama não conseguia falar. Tinha acabado de dizer que Madara poderia ir embora para não ficar o resto da vida em uma cama preso sobre aparelhos, e o Uchiha simplesmente o encarava com serenidade, vencendo todas as dolorosas palavras que o tinham libertado.

E isso foi o suficiente para que Hashirama descobrisse duas coisas: a de que um alívio sobrenatural o tomou, e que precisava de um descanso a partir dessa premissa. Ele acarinhou a face alva do Tenente - que o acompanhou com um movimento suave da cabeça -, e o Senju descobriu que todos os pedaços de seu mundo tinham sido colados novamente.

O sopro de vida que atingiu a Madara envolveu também à Hashirama, que se ausentou do quarto para falar com o médico. Ele queria um momento com o Uchiha - vários deles, na verdade -, mas precisava garantir que ficasse bem, acima de qualquer um de seus sentimentos, assim como a si próprio.

E no coração do Senju, ele sabia que também precisava de um tempo. Os últimos sete dias tinham o desgastado, e foi preciso muita força para lidar com a passagem das horas que lhe pareceram torturantes e intermináveis. De modo que quando o médico chegou até lá, Hashirama ficou mais recuado, esperando que lhe fosse dito que Madara tinha estabilizado. Então se sentiu mais leve.

- Vou falar com Fugaku-sama.

Ele se retirou tão logo, deixando os dois a sós novamente.

- Eu sempre soube que amar você era intenso, mas depois de tantos anos achei que não dava mais para ser surpreendido.

Madara tinha sido entubado para que houvesse maior preservação em seus pulmões, então por conta disso não conseguia falar. Mas na primeira hora acordado pode reagir um pouco, em resposta as ações de Hashirama. Eles deram as mãos, e o Senju acarinhou seu ombro desnudo que agora não parecia tão frio.

Era como se tivesse retornado da morte. E Hashirama se sentiu muito agradecido por isso.

Ele o tinha libertado, e Madara voltou para si.

- Madara, não me leve a mal, por favor. - Suas mãos se tocavam, acarinhando a outra. - Mas eu vou para casa quando sua família vir te ver. Esses últimos sete dias foram difíceis e muito cansativos, preciso de um descanso. - Ele anuiu devagar, para mostrar que tinha entendido. - Mas eu volto a noite.

Se Madara pudesse falar, diria para Hashirama ficar em casa e descansar direito o tempo que fosse preciso, mas o tubo em sua garganta atrapalhava aquela função primordial, e um cansaço gêmeo ao do Capitão ainda o envolvia, Madara precisaria de algum tempo para se recuperar.

Fugaku era o único que estava no hospital quando o Tenente acordou, e assim que chegou para ver o irmão, encontrou com Hashirama indo embora. O Capitão se sentiu muito aliviado de poder deixar a UTI, percebendo como o ar daquele local era pesado, sempre acompanhado de perto pela morte.

Ele deixou o hospital seguido de perto pela chuva que causou transtorno em vários pontos da cidade, e perdeu muito tempo sobre isso, precisando ir até o departamento buscar seu carro antes de poder ir para casa. O cansaço físico vinha perseguindo o Capitão de perto, mas era sua sanidade mental que estava por um fio, dado tamanho desgaste.

Ele precisou enfrentar muito trânsito, uma chuva que não ia embora, e o frio repentino antes de conseguir tomar um banho que relaxou seu corpo e o colocou dormindo assim que tocou na cama, depois de dias de tanta tormenta.

O AnestesistaOnde histórias criam vida. Descubra agora