O vigésimo ato

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O sol brilhava com força quando Sasuke acordou, e de alguma forma os raios solares aqueceram seu corpo.

Ele se assustou, em um primeiro momento, quando não reconheceu o lugar onde estava, mas após notar seu sobrenome espalhado pelo quarto inteiro, assimilou estar no Uchiha. Nos primeiros minutos apenas encarou o espaço branco e limpo, e o nervosismo imediato deu lugar a uma sensação neutra quando Sasuke percebeu que não estava sentindo dor. Um pouco de conforto lhe aqueceu o peito.

O médico notou que ele tinha acordado quando o percebeu erguendo os braços para encarar as ataduras em suas mãos, tentando entender, agora sem dor, tudo que tinha acontecido nos últimos sete dias. Sasuke não sabia como agir sobre elas, se recordava de tudo, então tinha receio de se mexer de alguma maneira e acabar se machucando, piorando algum possível quadro no qual estava inserido.

Seus braços também estavam doloridos, e ele sentia bastante cansaço, de modo que permaneceu abraçado pelo silêncio enquanto sua mente, agora liberta de seu cárcere, lidava com o trauma que passou. Por enquanto, não sentir dor era uma grande vitória.

Ele encarou o médico de volta quando o mesmo entrou no quarto. Como não estava entubado era possível conversar, de modo que apenas uma cânula nasal o auxiliava em não forçar tanto para aspirar.

- Tudo bem? – Ele anuiu. – Consegue me entender bem?

- Sim.

A voz era um tanto rouca pela falta de uso, mas Sasuke parecia bastante lúcido, seus reflexos estavam bons e ele conseguia entender e responder tudo que lhe era questionado. No entanto, seu quadro não era completamente estável, ele ainda precisava de cuidados muito delicados.

- Vou avisar seus pais que você acordou, e pedir para trazer o seu café, tudo bem? Depois a gente conversa com mais calma.

O médico esperou que Sasuke tivesse os cuidados primários antes de ligar para Fugaku, pois sabia que a família estaria ali mais rápido do que talvez o caçula tivesse tempo de ser cuidado pela enfermagem com tranquilidade. No entanto, garantiu que Mikoto estivesse lá enquanto a refeição chegava, já que Sasuke não podia usar as mãos, e não havia conforto melhor que o da mãe para ajudar sobre aquilo.

As primeiras reações foram intensas e bagunçadas, Sasuke conversava com a enfermeira quando os pais chegaram. Ela terminava de passar algumas instruções quando Mikoto se aproximou, tomando o filho em um abraço que somente ela poderia lhe dar. Nesse intervalo de tempo, a enfermeira informou Fugaku de que a comida estava sendo trazida.

Ele e Itachi ficaram um pouco mais distantes, esperando que a mãe pudesse ter um momento com Sasuke depois de uma semana tão desastrosa. Ela o abraçou, e foi visível para pai e filho o quanto o mais novo ainda estava com dores, pois foi difícil envolver a mãe com os braços. E claro, quando suas mãos se ergueram, apesar de não ter tocado em Mikoto, foi improvável não pensar sobre como tudo seria difícil a partir dali.

Mesmo aparentando uma expressão tranquila, Sasuke sentiu com a falta de sua família. Mikoto era um misto de desespero e alívio, e somente soltou o filho quando percebeu que ele ainda estaria ali assim que o fizesse. E então pôde notar como sua situação era difícil, delicada.

- Meu Deus Sasuke. O que fizeram com você? – Ele estava pálido, cansado. Mas tinha um sorriso sincero para a mãe. Discreto, mas verdadeiro. – Que pesadelo.

- Foi um pesadelo sim. – Itachi sentiu o impacto da situação como um todo quando ouviu o irmão falar. Ele queria tanto um tempo a sós para conseguir cuidar de Sasuke. – Acho que acabou.

- Eu espero que sim.

Mikoto quis reclamar quando viu a refeição que fora trazida, mas por se tratar de Sasuke, o médico que o acompanhava apareceu junto à porta para deixar entendida qualquer situação que pudesse parecer inadequada. De fato era uma alimentação mais simples e leve, tinha suco, mingau, nada muito sólido e sem qualquer conservante para não agredir o organismo do escritor.

O AnestesistaOnde histórias criam vida. Descubra agora