O décimo terceiro ato

166 30 126
                                    

Em um momento estava se movimentando contra sua vontade, e no outro tudo parou.

Não tinha noção alguma de espaço e tempo, dias inteiros poderiam ter se passado, ou apenas poucas horas, era difícil distinguir, e um incômodo muito grande o impedia de tentar raciocinar, buscando uma linha certa que pudesse seguir.

Sua cabeça doía, e até pouco tempo – ou talvez não? – um cheiro forte pairava sobre seu nariz, lhe causando incômodo e sustentando o pulsar constante em sua calota craniana semelhante a uma crise de enxaqueca. A barriga reclamou de fome, o acusando de alguma forma. Os braços ainda estavam presos atrás das costas e a posição lhe doía não somente os membros superiores, mas também a região da lombar, que estava apoiada sobre os punhos. A boca estava seca e a garganta implorava por água.

Além disso, parecia estar apoiado numa superfície dura, e seu corpo se movia involuntariamente conforme um impulso maior, talvez estivesse de fato dentro de um carro. No entanto, aquele som que ouvira tempos antes – ouvira algo de fato? Ou era apenas sua mente lhe pregando uma peça? – cessara, e não se conseguia mais perceber nenhum tipo de som, como se estivesse num lugar inóspito.

Ele estava um pouco mais lúcido, seus sentidos aguçaram conforme a sonolência lhe deixou, de modo que um frio o tomou na base da espinha e subiu se espalhando como um câncer. Não sabia direito o que tinha acontecido, talvez estivesse em algum lugar – sua casa? – e, de repente, um cheiro muito estranho – aquele em seu nariz que vinha desaparecendo aos poucos? – o fez perder a consciência, colocando em dúvida até mesmo sobre onde estava anteriormente. E agora estava em algum lugar. Mas que lugar?

Tinha sido sequestrado?

Sentiu medo ao ouvir alguma coisa se abrindo próxima a si, talvez uma porta. Sua respiração acelerou, mas não conseguia dizer qualquer coisa que fosse; apenas movia a cabeça bem devagar por conta da dor mostrando certa consciência, mas os olhos vendados o impediam de saber onde estava. Ainda assim, será que podendo enxergar seria capaz de fato de perceber alguma coisa? Ou era somente um pensamento desesperado para não cair na insanidade?

Sua mente confusa não conseguia reagir, mas o medo lhe fez perder o ar quando algo mexeu a seu lado, muito próximo de onde estava, e ele sentiu que parecia disposto a lhe atacar. Completamente perdido, alheio e vulnerável a quem quer que tivesse interesse em machucar, fazer qualquer coisa contra si. Se pudesse ver, se depararia com o rosto de Madara moldado em uma máscara bizarra.

Aquele que lhe trouxera até ali – onde era ali, afinal? – sabia que naquele momento estaria acordado, ou o fazendo, tinha percorrido um longo caminho, e sem reforçar a dose, o efeito passaria e eventualmente ele acordaria. No entanto, aquele ainda não era o momento ideal para que despertasse.

Será que naquela situação o Tenente já sabia que seu sobrinho tinha sido levado de dentro da casa a qual julgava tão segura? O irmão tão atencioso e cuidadoso reagiria com sua postura comedida e lógica, como a qual apresentava quando aparecia em alguma entrevista? Ou a família Uchiha cairia junto o desaparecimento do filho impuro?

Ele queria ver a reação de Fugaku. Mas já tinha lhe dado trabalho suficiente para que se perdesse em seu próprio ego e na confusão dos papéis que viriam da farmácia e do almoxarifado; tinha feito bagunça suficiente para deixar Fugaku fora de circulação por bastante tempo.

Sasuke não ouvia nada já há alguns minutos, mas conseguia sentir uma presença a seu lado, como se estivesse sendo observado. Mas por quê? Quem ou o que poderia lhe ferir? E qual o motivo? Suas confusões mentais o impediam de pensar com clareza, suas perguntas não faziam sentido. Mas antes de continuar tomado por medo e dúvidas, sentiu algo pressionado contra seu nariz novamente enquanto uma mão firme segurava em seus cabelos.

O AnestesistaOnde histórias criam vida. Descubra agora