O décimo quarto ato

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A garganta estava tão seca que o ato de tentar engolir fazia a região toda doer.

Quando abriu os olhos percebeu que estava sozinho, e para o bem de sua sanidade mental a luz estava acesa; Sasuke não queria imaginar o que poderia acontecer se ficasse no escuro, sozinho e acorrentado por tanto tempo. Quanto tempo, aliás?

Sua noção de realidade estava totalmente distorcida, ele não se lembrava de quando tinha sido levado de casa, sequer se ainda era o mesmo dia, ou que dia era esse, afinal. A manga de sua camisa estava erguida e um ponto vermelho coagulado mostrava o local onde tinha sido anestesiado.

Uma tosse seca fez sua garganta doer, e ele sentiu medo de que isso pudesse chamar alguma atenção da parte de cima. Não podia ouvir nada vindo do térreo, de modo que era difícil descobrir quando havia alguma aproximação. Sua mente estava confusa e letárgica, e formular qualquer tipo de pensamento poderia lhe colocar na dúvida do que de fato era real.

E o pior sobre isso era a pequena porção de sua sanidade que continuava lúcida, tentando lutar contra a dormência quase constante que o envolvia. Essa parte de sua mente precisava trabalhar nos passos seguintes daquela situação, porque Sasuke sabia o que poderia ou viria a acontecer, ele tinha escrito sobre isso.

E talvez saber sobre o que viria a seguir o ajudasse a sobreviver de alguma maneira. Em sua situação, fugir estava fora de cogitação, porque a menos que quebrasse os dois pés e as mãos para se se soltar, não conseguiria ir muito longe se arrastando pelas escadas, o que lhe colocava deitado sobre aquele chão de madeira até que fosse encontrado por Madara...

... Ou pela morte.

...

Sasuke sobressaltou ao sentir algo gelado em seu rosto. Tinha adormecido sem perceber e acordou quando recebeu um jato de água que o assustou. Ele usava uma calça jeans preta e uma blusa roxa de mangas compridas que não o aquecia suficiente, de modo que o contato com a água lhe fez sentir um calafrio.

O médico estava abaixado a seu lado novamente, apontando uma garrafa de água na direção de seu rosto. O pouco que caiu sobre seus lábios lhe trouxe um alívio instantâneo com duração semelhante. Sua garganta dolorida precisava imediatamente de água.

- Os seus rins trabalham para tentar expelir o medicamento, e ao mesmo tempo você necessita de água para se manter hidratado. - Sasuke não falava nada, precisava entender o que poderia acontecer. - Para a sua sorte, se eu não te der essa água você pode morrer, e eu não quero que isso aconteça tão rápido.

Ele virou a garrafa de uma vez dentro da boca de Sasuke. Ele engoliu o que conseguia e tossiu uma parte, ainda tentando recuperar o fôlego. Aliviado, fechou os olhos enquanto sua garganta doía um pouco menos e ele se mantinha quieto, não podia desafiar aquele homem ou lhe causar qualquer tipo de raiva, porque isso significaria consequências piores.

Ele precisava lidar com a possibilidade de que aquela pessoa conhecia toda a história de seu livro, era médico, e pretendia fazer consigo o que ele criou para o universo de sua obra. E diante dessa premissa, Sasuke ainda não sabia se os motivos para tal eram os mesmos traumas do anestesista do livro, ou se havia algo a mais, que ele poderia ou não vir a saber.

Além disso, lidando com a possibilidade de seu livro ser recriado com ele como a vítima central, imaginava que passaria por situações parecidas com as retratadas na ficção, e mesmo com sua mente nublada, ele se lembrava de muitos detalhes que fizeram sua espinha ser tomada por um arrepio de medo.

No entanto, independente de conhecer os motivos que o levaram até ali, Sasuke tinha entendido a parte principal de sua situação. Estava sendo usado como vítima para que as cenas de seu livro fossem recriadas por alguém que queria lhe matar.

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