O décimo ato

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A cabeça doía. Tudo estava escuro.

Não ouvia mais do que sons estranhos, parecia ser do trânsito, rodas dos carros, talvez alguma buzina ao longe, qualquer coisa semelhante à isso, mas nada que parecesse certo.

Havia uma letargia permanente que tomava conta do corpo, uma sensação de dormência que não o abandonava. Próximo a si nada era dito, suas mãos estavam presas atrás das costas e uma dor estúpida em ambos os braços era como uma eterna acompanhante, respirar estava difícil, e seu corpo se mexia involuntariamente, talvez estivesse em um carro.

Seus olhos estavam vendados, e a língua parecia enrolar quando tentava dizer alguma coisa. Não havia qualquer lembrança do que tinha acontecido, e o cansaço o impedia de se mexer muito, agir de alguma forma. Sequer conseguia pensar direito.

A única coisa que podia distinguir era a dor.

Ele estava sentindo muita dor.

xXx

Hashirama chegou a loja indicada por Madara no horário do almoço. Tinha falado com o Tenente antes de ir, mas o Uchiha interrogara Gaara e agora precisava anexar as informações que tirara do editor para complementar o quadro do caso de seu sobrinho, de modo que bastou ao Senju lidar com aquela situação sozinho.

Hashirama era um homem extremamente tranquilo e gentil, gostava de acolher e cuidar das pessoas, sempre tentando fazer com que se sentissem confortáveis, por isso era muito comum ver um sorriso simpático em seu rosto. No entanto, quando o homem precisava agir em seu trabalho, não media esforços para entender o que poderia ter acontecido, e tinha muita experiência para saber como se portar diante das mais inusitadas situações.

Por isso, quando adentrou a loja, não sorria. Assim para como qualquer outro detetive, o distintivo e a arma estavam escondidos por baixo do terno, mas quando se aproximou do balcão e um atendente veio até si, em um gesto ele retirou a carteira com o distintivo do bolso e abriu diante dos olhos do rapazote. Ele sentiu o coração disparar.

- Eu não fiz nada, senhor.

Hashirama acabou rindo da situação.

- Preciso falar com o gerente ou o dono da loja.

- Quem gostaria?! – Uma voz gritada veio de dentro de uma porta. O rapazote se afastou quando um homem engravatado apareceu, indo de encontro a eles.

- Sou Senju Hashirama, Capitão do departamento de antissequestro da polícia de Tóquio.

O homem recuou um passo.

- O senhor é gerente aqui?

A loja era um complexo grande, localizada próxima de Ginza. A movimentação naquele horário era pouca, mas alguns clientes estavam fazendo orçamentos quando o Capitão chegou, e passaram a observar o que se desenrolava enquanto fingiam avaliar os modelos de portão que os atenciosos atendentes lhes mostravam.

Hashirama mantinha uma pose tranquila, em verdade o rapazote e o outro homem é que pareciam agitados, como se a presença da polícia pudesse acusar aquela sobremesa a mais que pegaram durante o almoço quando era reservada apenas uma unidade por funcionário.

Perto de alguém como o Capitão Senju, até mesmo respirar errado poderia ser acusativo. Ele, por outro lado, mantinha sua costumeira pose tranquila.

- Sou o gerente dessa unidade, senhor. Pode me acompanhar.

- Obrigado.

Hashirama passou para dentro da área do balcão e seguiu com o gerente pela porta de onde ele saíra se deparando com um corredor que unia várias portas, e uma escada para cima, por onde o homem subiu. O Capitão subiu dois lances de degraus e se viu novamente em um corredor de paredes brancas e algumas janelas que auxiliavam na iluminação. Havia somente duas portas ali em cima, uma que indicava o banheiro e a outra que o Senju descobriu se tratar da sala do gerente.

O AnestesistaOnde histórias criam vida. Descubra agora