O décimo nono ato

189 28 104
                                    

O helicóptero chegou tão rápido ao Hospital Uchiha que Viktor quase não teve tempo de processar toda a cena que tinha se desenrolado diante de seus olhos. Ele tinha pedido à Madara que avisasse Fugaku sobre precisar de um cirurgião por conta das mãos de Sasuke, e uma equipe inteira já estava esperando, junto de Temari. Seu plantão estava acabando quando a chefe entrou em contato pedindo que não fosse embora, e conhecendo ainda que superficialmente a situação de Sasuke, ela se sentiu ansiosa sobre ele ter sido descoberto.

Para monopolizar o hospital inteiro só podia se tratar de uma situação crítica, muito além de ser o filho de Fugaku. O Uchiha era sempre muito discreto, apesar de sempre dar exclusividade para a família, então mediante tal exigência era certamente uma situação de grande emergência; Temari comprovou com os próprios olhos quando, já esperando na sala cirúrgica, a maca entrou às pressas.

Sasuke estava claramente desnutrido, mas foi ao notar as ataduras manchadas de sangue em suas mãos que ela percebeu que muito da palidez dele provinha daquelas duas fontes de sangramento. A contenção tinha sido bem-feita, mas o bisturi, considerando sua função principal, era um instrumento para fazer um corte sangrar por muito tempo, ele existia para tal. E com Sasuke isolado de cuidados médicos primários em um hospital, tudo que Viktor pode fazer garantiu sua sobrevivência.

Ele estava dormindo ainda, mas a equipe toda já sabia de sua situação, e que havia sido uma anestesia por aspiração já que o legista receava que ele estivesse intoxicado por excesso de medicação, e não queria agir além de sua área de conhecimento, já que estava há anos longe de situações críticas.


Sendo assim, um mínimo de sangue foi colhido para avaliação, e a partir daquele momento pode-se dar atenção para as mãos laceradas. Aos poucos as ataduras foram sendo retiradas, mas muito trabalho posterior foi necessário para pressionar as áreas onde ainda havia bastante sangramento, o processo de coagulação não estava conseguindo lidar com tamanha injúria.

De modo que ninguém da equipe passou menos chocado pela situação horrenda nas mãos de Sasuke. Quando conseguiram amenizar a perda de sangue, passaram a trabalhar.

...

Mikoto estava na sala de Fugaku, acomodada na poltrona apenas por muita insistência do marido. Ele não tinha conseguido falar o suficiente com Madara para tentar entender a situação de Sasuke, então deixou suas equipes livres para trabalhar sem pressão, mesmo querendo saber o que estava acontecendo. A esposa estava apenas com uma camisola – Mikoto não fez nenhuma questão de se trocar quando descobriu que Sasuke fora resgatado -, e usava um jaleco por cima da peça de seda azul-marinho.

Ela se olhou no espelho do banheiro, fingindo estar bem. Os olhos inchados e com olheiras proeminentes, a camisola comprida e o jaleco por cima, os longos cabelos pretos que com uma passada de mãos ajeitou o mínimo possível.

- Eu teria sido uma médica elegante.

- A melhor de todas Mikoto.

O marido apareceu com os braços cruzados, apoiado na entrada da porta. Ele estava nervoso, ela estava nervosa, mas após tantos anos juntos, sabiam apoiar o outro em momentos extremos, como aquele.

- Ou talvez não. – Ela o mirou e sorriu um sorriso discreto. - Era capaz de passar mal junto com o paciente dependendo da situação.

- É puro instinto, você seria incrível. – Ele se aproximou e tomou suas mãos. – Qualquer mulher é capaz de ser uma médica inigualável, é um dom de vocês.

- Uma mãe surtada também, querido. – Fugaku disse que era parte da maternidade, e ela não negou. – Eu sei que as pessoas não pensam sobre isso, mas não sei o que imaginar quando me lembro de que o Sasuke foi sequestrado. O tempo não pode apagar isso, fingir que nada aconteceu.

O AnestesistaOnde histórias criam vida. Descubra agora