QUATRO

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GEORGE

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GEORGE

— Nada! Se alguém aqui fez alguma coisa foi você! — exclamei, irritado.

Eu me repreendi mentalmente. Não queria agir como uma criança, mas Summer Love sempre era capaz de trazer meus piores defeitos à tona.

Desde que a conheci, tive dificuldades para gostar dela e também não fiz o esforço para isso acontecer. Summer era uma garotinha mimada e insuportável, do tipo que ninguém a não ser ela mesma gostava. Ou ainda, como aquelas protagonistas bonitas de série americana que se preocupava excessivamente sobre o que as pessoas pensavam do seu vestido novo.

Além disso, ela guardava um certo ódio por mim que eu não sabia muito bem como classificar. Posso ter feito um ou outro comentário depreciativo sobre ela, mas, por um tempo, até tentei não julgá-la e ser seu amigo. O que recebi em troca? Uma camiseta molhada de cerveja, e minha caneta de ponta fina desapareceu depois que ela pediu emprestado. 

Então se era assim que Summer queria jogar, assim seria. 

Nós dois andamos juntos até o escritório de Barr a uma distância segura de um metro. Summer fez uma careta para mim como se estivéssemos sendo chamados na sala do diretor.

Para ser sincero, Barr lembrava bastante um diretor de escola. Era velho, calvo com alguns fios brancos remanescentes, a barriga de cerveja e atitudes levemente misóginas. Mas ele era o diretor-chefe de uma das revistas mais famosas da Califórnia, então creio que ele tinha seu valor mesmo que eu ainda não soubesse qual.

— Aí estão meus funcionários favoritos — Barr nos recebeu com um sorriso amarelado e apontou para que nós sentássemos nas duas cadeiras em frente da sua mesa.

Seu escritório tinha uma decoração moderna em tons de vermelho e branco. Na mesa, havia o notebook, papéis, um Pulitzer que o Metrópoles ganhou há vinte anos atrás e uma fotografia enorme dele apertando a mão do Trump (Isso me fazia questionar bastante seu caráter).

— Aconteceu alguma coisa séria, senhor Barr? — perguntei, me encostando contra a cadeira.

— Ah não, claro que não — ele abanou a mão com desprezo — Quero dizer, sim. Temos um pequeno probleminha, mas nada que não possamos resolver.

Tanto eu quanto Summer ficamos em silêncio. 

Barr passou a mão pela careca e prosseguiu:

— George, você sabe como depois dessas revoluções tecnológicas e o "politicamente correto", fazer jornalismo virou uma tarefa complicada e o dinheiro não é o mesmo — ele fez aspas com os dedos. Eu franzi o cenho, mas assenti mesmo assim.

— Nós dois sabemos — Summer replicou.

— Claro, claro — Barr se corrigiu rapidamente — De qualquer forma, estamos fazendo uma redução de gastos aqui na revista. E a coluna de Literatura será a primeira a sofrer um corte, porque, bem, temos centenas de freelancers que contribuem semanalmente, além de vocês dois. Chegamos a conclusão que um repórter responsável é o suficiente para mantê-la.

— O que isso quer dizer? — Summer arregalou os olhos — Nós estamos sendo demitidos?!

— Não ainda.

— Isso é reconfortante — ela disse. Barr sorriu. Não acho que ele pegou a ironia no seu comentário.

— Sim, um de vocês será demitido e o outro receberá uma promoção para virar chefe de coluna com várias vantagens: uma sala especial e um assistente — ele propôs.

Não era uma oferta ruim. A coluna de Literatura realmente não precisava de duas pessoas. Uma, com poderes de chefe, era o suficiente para organizar tanto o site quanto as publicações semanais na revista... Contanto que eu fosse essa pessoa.

Olhei de relance para Summer que mordia o lábio inferior. Ela estava nervosa, mas eu quem deveria estar nervoso aqui. Entrei há menos dez meses no Metrópoles ao passo que Summer trabalhava há mais de seis anos com Barr.

Estava bem óbvio quem sairia perdendo na situação. Todo mundo conhecia o ditado: último contratado, primeiro demitido.

E isso sim era um desastre. Uma coisa era falhar em um dos meus objetivos aqui na América (me aproximar de Fitz), outra, era dois dos meus objetivos rolarem ladeira abaixo. Em quanto tempo, tudo daria errado e eu teria que voltar para Londres, e enfrentar a cara do meu pai de "Eu avisei"?

— O senhor já decidiu? — perguntei, puxando a gola da minha camiseta.

— Não. Pensei bastante e não posso escolher entre dois ótimos repórteres. Eu irei observar vocês no trabalho durante dois meses e o que se sair melhor, será promovido — Barr disse — Assim ficará justo para você e Summer.

— Está bem — assenti.

— Ótimo, obrigado por entenderem.

Saí da sala de Barr e segurei a porta para que Summer saísse. Ela me encarou com desconfiança. Alguém poderia pensar que eu coloquei um balde de tinta em cima da porta (Talvez, se eu tivesse o tempo...).

— Bom, parece que temos uma competição — Summer cruzou os braços — Espero que esteja preparado. Eu preciso muito do emprego e não hesitarei em te sabotar, se necessário.

Passei o dedo pelo lábio inferior.

— Sim, sem dúvidas — respondi — Mas devo avisar que você está um passo atrás.

— Como assim? — A expressão presunçosa de Summer se desfez.

— Tome cuidado com seu terno bonito — eu pisquei e passei por ela.

O quê? — ouvi ela gritar de mim — Carver, o que você fez?

Eu não fiz nada, mas a satisfação de ver o aflito no rosto de Summer o dia todo enquanto procurava por algo que não existia? Nem aquela promoção poderia ser capaz de me proporcionar. 

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