SUMMER
A semana estava indo de mal a pior.
Além de trabalhar como uma condenada na redação, peguei matérias extras e levei café para Barr todos os dias, tudo para conseguir aquela maldita vaga de redatora-chefe. Ao mesmo tempo, tive que suportar os olhares condenatórios de George quando levava o café até a sala do chefe.
Não apenas isso, ele roubou minha vaga predileta no estacionamento e meu donut de morango a semana inteira. Parece que qualquer trégua que houve entre a gente naquela festa acabou no momento em que voltamos ao Metrópoles.
Eu ainda pensava constantemente sobre Lizzy, George e o triângulo amoroso inglês que eles estavam vivendo. Eu não me importava, que fique muito claro, mas, às vezes, no silêncio da noite, o pensamento subia a cabeça.
Sempre imaginei George como o cara "perfeito" e "moral", afinal ele adorava me dar broncas como um padre, então saber que ele tinha um leve desvio de caráter me dava um pouco de alegria. Ele era tão ruim quanto eu.
Na última quinta, eu fui direto da redação para a casa dos meus tios.
Visitá-los sempre demandava de mim uma força sobrenatural, porque além de reviver todas minhas memórias desagradáveis da infância e da adolescência naquela casa, meus tios não eram exatamente o que as pessoas chamariam de "empáticas". Não por acaso, eles eram os pais de Maisie.
Mas, odiando ou não, eu tinha um compromisso com eles. Eles dois me criaram. Mesmo com todas as broncas, os castigos e os olhares de reprovação, os meus tios atuaram mais como meus pais do que meus próprios pais — não que esses dois últimos tivessem em condições de fazer isso.
Não foi a criação dos sonhos, eu sei. Eu preferia ter meus pais comigo. Porém o que eles não deram em afeto, compensaram ao me permitir estudar na mesma escola boa que Maisie, bancar os custos da faculdade, dar meu apartamento e carro. Isso era melhor, certo?
— Então, como vão as coisas? — tia Agatha perguntou do outro lado da mesa.
Estávamos na sua casa em Malibu. Era uma casa grande de dois andares na montanha, com vista para o mar lá embaixo. Eles a compraram depois que eu e Maisie nos mudamos, era menor que a antiga e também isolada da cidade, mas mais sofisticada e moderna. Não sei se combinava tanto com um casal de sessenta anos, porém não seria eu quem diria isso para eles.
— Perfeitas — disse laconicamente.
— Vocês deviam conhecer o novo namorado dela. Ele é médico — Maisie abriu a boca grande dela ao meu lado. Eu a encarei e ela sorriu, satisfeita.
— Uau, um médico. Sem dúvidas, é melhor que aquele artista plástico — tio Benedict comentou por detrás da sua taça de vinho.
Para ele, qualquer pessoa que trabalhasse com artes ou escrita era um "vagabundo preguiçoso". Claro que ele nunca disse isso para mim quando anunciei que faria Jornalismo, mas não foi necessário, eu pegava na sua expressão toda vez que falava do meu emprego.
— Vamos ver até onde vai durar. Sabemos como Summer tem um jeito especial de trocar de namorados todo mês — Maisie falou docemente, enquanto enfiava um pedaço de brócolis na boca.
— Você precisa começar a pensar no seu futuro, Summer — tia Agatha me disse, ajeitando o brinco de pérola na sua orelha. Ela tinha cabelos pretos tingidos para esconder os fios brancos e o rosto esticado de plásticas — Você não quer acabar como sua mãe, certo? Não gastamos todo esse dinheiro para você terminar como uma inútil.
Eu respirei fundo.
Era por isso que eu nunca vinha aqui. Por toda minha vida, ouvi essas mesmas palavras. "Não seja como sua mãe" e "Você está agindo como sua mãe, e sabe onde ela terminou, é isso que quer pra você?".
Não, não queria ser como ela. Aquela conversa de sempre me irritava, seja vindo de Agatha, seja de vovó. Sei que minha mãe não foi a melhor pessoa do mundo, mas quem poderia ser vivendo nessa família?
— Eu estou tentando — murmurei.
— Nós sabemos e queremos que continue assim, você está se saindo bem — tia Agatha disse com uma voz doce e quase falsa, colocando a mão enrugada em cima da minha. Eu sorri fraco, sentindo um calor reconfortante dentro do peito.
Agora mais do que nunca, precisava consertar a situação. Meus tios não podiam saber de jeito nenhum do condomínio atrasado e todas aquelas contas monstruosas na mesa da minha sala.
Pela primeira vez, eles achavam que eu estava indo bem. Se soubessem das dívidas, da minha possível demissão e do meu namorado falso, tudo isso cairia por terra.
Eu não seria como minha mãe, eu posso ser melhor, posso dar a volta por cima e provar que posso consertar meus próprios problemas como uma adulta.
Só precisava descobrir como fazer tudo isso.
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Futuro Ex Namorado
Romance[ ENEMIES TO LOVERS || +16 ] Summer Love tem dois problemas: uma dívida enorme e George Carver, o seu colega de trabalho que vive implicando com ela por nenhum motivo aparente. Os dois não se suportam e ficariam felizes em não ter que ver a cara um...