VINTE E CINCO

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GEORGE

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GEORGE

Precisei fazer seis viagens do carro até a loja para levar os sapatos de Summer. Quando terminamos de tirar tudo e empilhamos as caixas no fundo da loja, nos acomodamos atrás do balcão. Duas mulheres espalharam todos os sapatos no balcão e analisaram o preço de cada um. 

Eu nunca tinha visto tanto sapato na minha vida e sabia que isso não era nem metade do que Summer realmente possuía em casa.

Era tarde, o sol já estava se pondo. Fomos direto do trabalho para o seu apartamento a fim de pegar os itens que ela iria vender. 

Eu não tinha a obrigação de fazer isso, mas queria compensar pelo que quer que tenha deixado Summer aborrecida comigo. Essa situação toda era bem irônica, considerando que até um mês atrás eu meio que odiava Summer, mas não sabia explicar o que mudou, apenas... desejava a companhia dela. Nem que fosse uma tarde vendendo seus sapatos para pagar suas contas.

Eu a encarei pelo canto do olho. Ela não usava maquiagem e vestia um terno feminino cor-de-rosa que combinava com seu corpo.  Seus cachos estavam soltos e iam para todas as direções.

— É tão triste vender meus sapatos — Summer disse melancólica, olhando um par de botas pretas enormes em cima do balcão — É como vender uma parte de mim.

— Não seja exagerada — balancei a cabeça.

Summer suspirou, passando a mão pela bota e depois por um sapato com um salto do tamanho da minha palma. Eu me perguntei como alguém conseguia usar aquilo.

— Está bem. Escolha um deles e eu irei comprá-los pra você.

— Mesmo? — Summer me encarou. 

— Qualquer coisa para fazer você tirar essa cara de cachorro molhado do rosto. 

Summer revirou os olhos, mas pegou os saltos enormes e me mostrou.

 — Que tal esse? É um Jimmy Choo original. A Kendall Jenner usou em uma festa e eu consegui comprá-los na internet por um preço absurdo, mas valeu a pena, porque ele me trouxe sorte — contou Summer, virando o salto de lado. Ele tinha cristais incrustrados — Minha primeira entrevista de emprego no Metrópoles foi com ele.

Eu peguei o salto da sua mão e puxei a etiqueta que uma das funcionárias da loja havia acabado de colocar.

— Isso custa 600 dólares! — arregalei os olhos — Não vou pagar 600 dólares em um sapato... Veja, eu te darei esse — eu lhe entreguei um sapato preto com uma pedra na ponta. Ainda sim, ele custava 120 dólares.

— É um Miu Miu da coleção passada, todo mundo tem um... Digo, obrigada, George — ela se corrigiu ao ver meu olhar.

— Imagino que não esteja mais irritada comigo, então.

Summer me encarou com seus olhos castanhos que estavam tão escuros quanto o sapato na sua mão.

— Nunca estive — disse, mas eu a conhecia o suficiente para saber que estava mentindo.

— Eu fiz alguma coisa errada? — perguntei, franzindo o cenho — Isso é sobre o que aconteceu-

Antes que pudesse terminar, a atendente do brechó nos interrompeu para conversar com Summer sobre os sapatos. Esperei as duas terminarem e, então, voltamos para o meu carro em silêncio.

Summer se sentou no banco do passageiro e encarou o envelope com o dinheiro que a atendente havia lhe entregado. 

Eu achava estúpido ter tanta coisa sem necessidade, especialmente se tratando de roupas, mas não era meu lugar julgar Summer. Eu tinha meus próprios problemas e vícios, e ela nunca me criticou por isso, mesmo quando estávamos naquela fase de ódio mútuo.

— É o suficiente para quitar o condomínio? — perguntei. 

— Ah, sim. Ainda sobra para comprar um novo vestido — ela respondeu com um sorriso labial. Eu franzi o cenho — Estou brincando, idiota. Não faça essa cara... — Summer riu e voltou a encarar o envelope — Meus tios não saberão das dívidas, isso já é ótimo.

— Por que não pedir ajuda para seus pais? — falei antes que pudesse controlar minha boca. Os dedos de Summer se apertaram contra o envelope e eu percebi que tinha dito a coisa errada. 

— Porque eu precisaria me conectar com o além para falar com minha mãe, e pedir um teste de DNA de todos os homens dos Estados Unidos com quem ela dormiu para saber quem é meu pai — Summer disse em um tom de brincadeira. Eu não ri — Ok, certo. Péssima piada. 

— Sinto muito pela sua mãe — disse. Summer encostou a cabeça contra o assento do banco — Eu sei como é o sentimento.

Mesmo depois de vinte e três anos, ainda sentia falta da minha. Toda vez que algo grande acontecia na minha vida, eu a imaginava me vendo de onde quer que estivesse. Quando pedi Lizzy em casamento, tive a sensação de que ela não aprovaria aquilo. Algo me dizia que mamãe não seria a maior fã de Lizzy e era estranho pensar nisso.

— Nosso sentimento não é o mesmo, George — ela respirou fundo e me olhou — Você teve sua mãe por uma parte da sua vida. Eu nem mesmo tive chance de conhecê-la direito.

— O que houve? 

— Bem... — Summer engoliu em seco. 

Era a primeira vez que via Summer sem palavras e senti uma necessidade urgente de fazer aquilo sair dela. Eu queria conhecer a parte dela que ninguém sabia. Ela conhecia tantas partes minhas, era apenas justo.

— Ela era uma... jovem rebelde — começou a dizer, encarando a avenida movimentada a nossa frente —  Ela passava a madrugadas em festas, bebia e usava todos os tipos de drogas. E, um dia, engravidou desse cara. Ela não parou com os vícios, então teve uma gravidez complicada e morreu no parto... Os médicos disseram que era um milagre eu ter nascido saudável... — seus dedos remexeram na ponta do envelope — Quando eu era criança, eu pensava que tinha roubado toda a força da minha mãe para mim e por isso ela morreu.

— Isso não faz o menor sentido, você era apenas um bebê — eu disse, observando um cacho do seu cabelo cair no rosto — Seus tios criaram você?

— Sim. Eles tomaram mais como um último fardo que minha mãe deixou para trás — falou, dando de ombros. Podia ver nos seus olhos uma certa tristeza que não combinava com seu rosto — Eles foram ótimos, me apoiaram financeiramente em tudo, mas sempre me compararam com minha mãe como se eu fosse me "desviar" do caminho como ela — ela fez aspas com os dedos.

— Não é a mesma coisa, não é? — disse, finalmente ligando o motor do carro para sair dali. Apesar de ser bom conhecer um pouco mais de Summer, o clima pesado estava me deixando melancólico — Eu cresci cercado de dinheiro, mas nada substitui o apoio que nunca recebi do meu pai.

— Sabe, isso explica bastante porquê somos um fracasso no amor e tivemos que fingir um namoro — Summer falou e nós rimos, quebrando a atmosfera obscura em que estávamos há dois segundos atrás.

— É, acho que sim.

— Espero que não dure muito — disse Summer, encostando a cabeça na janela — Sei que você tem toda essa coisa de o "amor é muito difícil", mas eu realmente queria encontrar alguém um dia... 

Eu queria dizer mais alguma coisa, mas não consegui, então seguimos o caminho para sua casa em silêncio.

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