GEORGE
Entrei no restaurante do clube em Hollywood com poucas expectativas sobre o dia de hoje.
Primeiro, porque aquele clube era insuportável. Sempre que minha madrasta vinha para os Estados Unidos com papai, eles almoçavam no restaurante desse clube em específico. E, bom, almoços em família raramente davam certo, em especial se tratando da minha família.
Hoje, eu encontraria meus colegas de Oxford. Lizzy e Ellis tinham vindo para Califórnia a fim de comemorar o primeiro ano de casados na terra natal dele. Nossos outros amigos Aaron e Josie aproveitaram para tirar umas férias da vida de casados na França. Como estávamos todos no mesmo país pela primeira vez em anos, marcamos um encontro.
Não estou dizendo que não gosto deles, mas o almoço em si não me animava. Tinha ótimas memórias com todos, inclusive noites com Ellis que eu esqueci completamente, porque estávamos chapados pra caralho. Porém era apenas isso. Memórias. Não éramos mais aqueles jovens universitários de 10 anos atrás e, dificilmente, uma tarde juntos mudaria algo.
Ellis era um bom exemplo disso. Ele costumava ser meu melhor amigo, ele sabia do meu problema com Fitzwilliam, com meu pai e o amor em si. Então, ele e Lizzy começaram a namorar e tudo mudou. Não houve mais espaço para nossa amizade e nada seria capaz de consertar essa situação.
— Georgie — Era a voz de Lizzy.
Ela atravessou o salão e antes que eu pudesse responder, me apertou em seus braços pequenos.
Lizzy era uns trinta centímetros mais baixa do que eu. Tinha os olhos puxados devida a descendência coreana, cabelos enormes que emolduravam seu rosto e um corpo bonito. Eu a conhecia há mais tempo que os outros e podia afirmar que Lizzy nunca teve uma fase feia, pelo contrário, ela só ficava mais bonita com o tempo.
— Veja só, você! — ela se afastou para me encarar dos pés a cabeça — L.A te fez bem. Você parece mais viril.
— Não sei se levo isso como um elogio ou uma ofensa — disse em tom de brincadeira e Lizzy deu uma risadinha discreta como se não quisesse chamar a atenção, o que era impossível com sua aparência.
— Elogio, George, você sempre tem uma visão tão negativa das coisas! — ela empurrou meu ombro levemente — Venha, o pessoal já está na mesa.
Lizzy pegou minha mão e me arrastou até uma mesa no fundo do salão. O brilho do seu anel de casamento refletiu a luz do salão como um lembrete.
Ela sempre foi uma pessoa íntima que gostava de toques casuais, mas eles não significavam nada para ela.
— Aí está o garoto de ouro! — Aaron se levantou, arrastando a cadeira no piso de mármore e chamando a atenção de quem estava próximo.
Eu sorri e cumprimentei todos com o máximo de animação que conseguia extrair do meu corpo. Eles começaram a dizer que eu tinha mudado. Resisti a vontade de dizer que me sentia o mesmo garoto perdido de sempre desde a faculdade.
Então, estávamos todos sentados. Aaron e sua esposa de um lado, Lizzy e Ellis do outro e eu na ponta. E, claro, a pergunta veio segundos depois que fiz meu pedido para o garçom:
— Nenhuma gata americana, George? — Aaron perguntou com um sorrisinho.
— Nada sério, pelo menos — dei de ombros.
— Você só pode estar brincando comigo — Aaron respondeu — Sério? Você todo bonito com sua dicção perfeita de professor não está namorando?
— Por quê? Quer se candidatar a essa posição? — tentei sorrir e todos riram — Não estou a fim de me relacionar com ninguém no momento. Não é nada demais.
— George, você tem mais de trinta anos! Não pode ser o cara mulherengo da faculdade pra sempre, precisa se casar alguma hora — Ellis disse como se ele mesmo não fosse esse cara — Até mesmo eu me rendi ao casamento — ele olhou para Lizzy com um sorriso e ela retribuiu.
— É verdade, Georgie — Lizzy disse, erguendo sua taça de champanhe. Ela tomava apenas champanhe e mesmo assim, restringia-se a tomar meia taça para manter seu charme. Palavras dela — Talvez possamos te arranjar alguém.
— E aquela sua prima, Eli? A arquiteta! Ah, ela seria perfeita para George — Josie se animou, balançando as argolas enormes que usava — Os dois teriam filhos lindos com olhos azuis.
— É verdade. Tessa ainda está solteira? — Lizzy perguntou para o marido.
— Eu posso ver isso. Ela estará no almoço que meus pais vão dar. Você vai, certo? — Ellis me encarou.
Não, eu não vou, Ellis, infelizmente estarei com uma febre incurável nesse dia, era o que queria dizer.
A ideia de me arrumar alguém era ridícula. Mas, para os quatro, essa era a situação — eles foram fanfarrões na época da faculdade e, agora, estavam casados e estáveis, logo eu também deveria seguir o modelo.
No entanto, eles pareciam se esquecer que, antes de Ellis parar de sair com três garotas ao mesmo tempo para ficar apenas com Lizzy e Aaron largar as boates por Josie, eu fui o primeiro a pedir uma mulher em casamento. Eu estava noivo. Eu tinha tudo planejado até que, um dia, não tinha mais.
Mas não podia culpá-los por isso. Era apenas o bom senso deles agindo em não comentar a respeito do meu noivado que deu errado.
— Acho que sim — murmurei contra minha vontade.
Logo, Aaron começou a falar sobre essa casa em Bath que ele compraria. Como ele e Ellis adoravam competir sobre quem tinha mais dinheiro, Ellis contou da nova casa de veraneio que adquiriu em Palm Springs.
— Sabe, nós só estamos preocupados com você — Lizzy disse apenas para mim.
— Eu sei, mas estou bem assim — sorri de leve — Não minto, Lizzy.
— Não posso afirmar uma coisa dessas, porque você sempre foi ótimo em esconder suas emoções — ela afastou o cabelo preto do rosto — Você merece alguém legal e com sentimentos recíprocos.
Sentimentos recíprocos. Aquilo provocou um mal estar no meu corpo. Respirei fundo e puxei a gola da minha camiseta que apertava meu pescoço. Meu Deus, eu precisava sair daquele lugar.
Lizzy deve ter percebido minha inquietação, porque colocou a mão sobre a minha na mesa. Novamente. Na frente de todos. Como se essa intimidade fosse comum a nós dois.
— Acho que vou fumar — afastei o seu braço e me levantei.
Ninguém questionou, apesar de eu nunca ter colocado um cigarro na minha boca.
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Futuro Ex Namorado
Romance[ ENEMIES TO LOVERS || +16 ] Summer Love tem dois problemas: uma dívida enorme e George Carver, o seu colega de trabalho que vive implicando com ela por nenhum motivo aparente. Os dois não se suportam e ficariam felizes em não ter que ver a cara um...