SUMMER
Depois de ser apresentada aos outros amigos de George e almoçar numa mesa enorme para quarenta pessoas no jardim, Lizzy o arrancou do seu lugar para ajudá-la com as garrafas de vinho. Provavelmente devia ser um sinal dos britânicos para flertar sem pudor longe do marido e da "namorada".
Não que eu me importasse com George sendo o amante de alguma deusa asiática. Eu até pagaria um motel discreto para que os dois se encontrassem se isso significasse que George me daria paz no trabalho. Não, esse problema era do marido de Lizzy, ele quem estava, de fato, comprometido com ela. O meu problema era — nós havíamos combinados de fingir um relacionamento para nos livrar dos amigos intrometidos, não acobertar casos extraconjugais.
Não sei porque ainda estava surpresa por ele ter escondido isso. George nunca foi de falar sobre sua vida para ninguém no escritório, especialmente para mim. Eu nem mesmo sabia que seu pai e seu irmão eram famosos até a festa de Brandi.
Quem sabe ter nascido numa família que sempre esteve na mídia foi a razão para qual ele cresceu sendo tão discreto. No lugar dele, eu teria aproveitado todas as vantagens que isso poderia me proporcionar. Mais uma diferença enorme entre nós dois.
Que se dane, George. Peguei uma taça de champanhe e tentei arrumar outros amigos ingleses, porém não deu certo. Além do sotaque indecifrável deles, eles só sabiam reclamar do clima e discutir sobre política. Quando deu a hora do chá das cinco, foi o sinal para me retirar imediatamente do recinto.
— Você já pensou em frequentar os Alcoólatras Anônimos? — Aquela voz grossa e rouca só podia pertencer a uma pessoa.
Eu me virei e George sorriu levemente. Do lado de fora, seus olhos azuis adquiriram ainda mais cor, eu conseguia até enxergar o anel esverdeado em volta da sua pupila.
— É a sua sexta taça, sem contar a do almoço — ele apontou para minha taça de champanhe já vazia.
— Você está me vigiando? — semicerrei os olhos.
— Só estou cuidando de você, afinal você é minha "futura ex-namorada" — George fez aspas com os dedos.
Sua atenção desviou rapidamente para o lado, e eu vi que Lizzy estava posando para uma foto com Ellis e seus pais.
— Isso nunca vai acontecer. Você está sendo feito de idiota.
George me encarou, a sobrancelha direita erguida daquele jeito irritante e os lábios apertados em uma linha horizontal. Eles não eram cheios, me lembravam um pouco do Tom Hiddleston, o que era ridículo, porque ele estava no topo da minha lista pessoal de atores mais gostosos e George não tinha esse direito.
— Seu crush por Lizzy — expliquei, espantando meus pensamentos. Sua expressão permaneceu a mesma, porém percebi que seu pomo-de-Adão subiu e desceu — Não se faça desentendido. Ela sorriu na sua direção durante o almoço, você só faltou ajoelhar na frente dela e implorar para que ela pisasse na sua cabeça.
— Você tirou tudo isso de um olhar meu? — perguntou, enfiando as mãos nos bolsos da calça — Summer, minha vida-
— Minha vida não te interessa e blá-blá-blá — eu o imitei — Eu não me importo se você é michê dela ou coisa parecida. Apenas digo como sua "futura ex-namorada" — fiz aspas com a mão que não segurava o copo — que essa sua história não tem fundamento algum. Lizzy é casada com seu melhor amigo.
— Eu sei disso, afinal fui o padrinho do casamento — respondeu George.
Assenti. Tentei ler a sua expressão, mas não tinha nenhuma indicação de que minha insinuação sobre Lizzy era ou não verdadeira. Talvez fosse melhor deixar isso de lado. Quem sabe não estava apenas imaginando coisas?
De qualquer forma, depois das bodas de Ellis e Lizzy e o casamento de Brandi, voltaríamos ao ponto inicial onde não olharíamos na cara um do outro, a não ser para discutir sobre alguma futilidade. Não fazia sentido me intrometer agora.
Ele quem resolvesse seus próprios problemas.
— Não consigo nem imaginar o seu discurso — brinquei, mudando de assunto — O amor não é real, mas boa sorte aí.
— Essa é a sua imagem sobre mim? — George não riu, mas sorriu.
— Sim, para mim, você é um cafajeste sem pudor que pensa que o amor é coisa de mulherzinha.
— Eu acredito no amor — George deu de ombros —, porém não creio que seja algo tão fácil quanto os livros e filmes nos levam a acreditar. Acho que só existe uma alma gêmea para cada pessoa e uma única chance de amar.
— Uau, é ainda pior do que eu imaginei — falei, cobrindo a mão para rir. George apenas me encarou com ceticismo — A pessoa com quem você está não precisa ser seu destino, se vocês batalham um pelo outro e acreditam no sentimento, essa história é besteira.
— É isso que você e Daniel estavam fazendo? — perguntou.
Senti vontade de não responder, deixá-lo no mistério como ele fazia comigo sobre basicamente toda sua vida. Mas algo em George sempre me fazia querer falar mais, mesmo a pior idiotice que passa pela minha cabeça.
— Não. Daniel e eu nunca funcionaríamos — balancei a cabeça.
— Qual era o ponto de ficar com ele, então?
— Não sei, ele era... incrível. Achei que se tentasse me apaixonar, ele poderia me fazer uma pessoa melhor também... É idiotice — dei de ombros.
George me fitou por vários segundos. Queria tanto saber o que se passava pela sua cabeça. Na maioria das vezes, eu era boa em ler as pessoas, mas George Carver nunca obedeceu às regras normais.
— Não, você tem um ponto — ele disse por fim.
— Podemos ir agora? — suspirei — Eu vi umas seis pessoas tomando chá com leite. É a coisa mais nojenta que já vi.
George riu a mesma risada alta da sala de estar. Eu quase me sobressaltei. Suas risadas eram sempre inesperadas e era impossível saber quando surgiriam. Era como o rompimento de uma máscara que ele mantinha sobre si mesmo.
Pelo canto do olho, vi Lizzy olhar na nossa direção.
— Só mais alguns minutos. É falta de educação sair durante o chá das cinco.
— É óbvio que é — murmurei.
Eu me abracei, porque um vento gelado corria pelo jardim e meu vestido — que mal podia ser chamado de vestido — não ajudava em nada a conter os arrepios.
George tirou o paletó vermelho escuro que usava e ofereceu para mim. Eu o encarei apenas com a blusa de botões que apertava seu tronco, olhei paletó nas suas mãos e, então, os seus olhos.
— O que é isso?
— O que você acha que é, Summer? Apenas pegue logo, você está tremendo que nem o chihuahua da mãe de Ellis — ele disse.
Eu fiquei parada, sem reação.
George soltou o ar pelo nariz e jogou o casaco em cima dos meus ombros em um gesto rude. O cheiro do seu perfume subiu até o meu nariz, era forte e amadeirado, e eu me vi respirando fundo. O paletó era fino, mas o seu calor ainda estava ali e me ajudou a parar de tremer.
— Obrigada — agradeci, ainda com a voz baixa, apertando a roupa contra meu corpo.
— É o que um namorado faria — falou como se essa fosse a única razão para ele fazer uma gentileza para mim.
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Futuro Ex Namorado
Romance[ ENEMIES TO LOVERS || +16 ] Summer Love tem dois problemas: uma dívida enorme e George Carver, o seu colega de trabalho que vive implicando com ela por nenhum motivo aparente. Os dois não se suportam e ficariam felizes em não ter que ver a cara um...