TRINTA E SEIS

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GEORGE

Acordei sozinho em uma cama que não era minha.

Meu corpo estava pesado. Minha cabeça doía. Eu abri os olhos e pisquei para me acostumar com a claridade do quarto. Levantei os lençóis, mas abaixei no instante seguinte, porque percebi que não usava nenhuma roupa.

Então, a noite passada voltou como uma explosão na minha cabeça. Os lábios de Summer, o corpo de Summer, ela gemendo meu nome enquanto eu apertava seu quadril contra o meu. Também me lembrei das duas garrafas de vinho, isso explicava a dor de cabeça. 

Nós transamos. Em algum momento, Summer desabou em cima de mim, passou os braços pela minha cintura e fechou os olhos. Seu rosto estava sem nenhuma maquiagem, os cabelos cacheados estavam cheios e cobriam seu rosto. Ela estava tão linda, eu lembro que peguei no sono, admirando todos os contornos do seu rosto.

Eu já havia pensado em dormir com Summer, porém sempre foi um sonho distante, uma fantasia que nunca se realizaria, porque ela me odiava. E eu não facilitei a situação, também dei os motivos para ela alimentar esse sentimento.

No entanto, aconteceu. Não queria pensar no que viria depois ou que aconteceria com nossa recente amizade, tudo que eu queria era beijá-la de novo, explorar seu corpo mais uma vez e fazê-la implorar por mim.

Olhei pelos arredores do quarto, procurando algum sinal dela. Era grande, pelo menos duas vezes maior que o meu próprio quarto. Uma cama, uma penteadeira enorme, alguns quadros nas paredes e um guarda-roupa gigantesco com espelhos — mas sabia que ainda não era o suficiente para suas roupas, porque o quarto de hóspedes ao lado foi transformado em seu closet particular.

Ouvi a porta do banheiro se abrir e Summer saiu de lá, usando um vestido bege apertado no busto com a saia mais larga ao redor das suas pernas. O cabelo estava preso em um coque bem amarrado, deixando alguns cachos soltos.

Ela estava bonita pra cacete. Ela sempre estava.

Vê-la assim me levou para noite anterior quando ela se virou para mim e começou a se despir sem tirar os olhos dos meus.

— Oi — Summer sorriu e meu corpo inteiro vibrou — Eu fiz café... Não sei se está bom, é a primeira vez que uso essa máquina.

Abaixei meus olhos e vi a bandeja aos meus pés com uma xícara azul. Peguei o copo e bebi dois goles. Estava fraco e doce demais, tive que resistir a vontade de fazer uma careta para não magoar os sentimentos Summer.

— Por que toda a arrumação? — perguntei.

Summer foi até a penteadeira e mexeu em uma das dez caixas que estavam lá em cima até encontrar um bastão pequeno com o gloss que sempre usava.

— Hoje é a nossa festa! Precisei acordar cedo para receber o bufê que contratei — relembrou, tirando a tampa do gloss e passando nos lábios. Eu assisti enquanto ela fazia isso, hipnotizado — Creio que os convidados chegarão daqui a uma hora, então você deveria se arrumar também.

— Não acho que vai dar tempo de ir até minha casa e voltar — disse, deixando a xícara de café na bandeja.

— Você não precisa — Summer disse, largando o batom na caixa.

— Eu não posso usar as roupas de ontem... Elas tocaram no meu corpo sujo — falei do mesmo jeito que uma criança diria e fiz uma careta. Summer me olhou com sua melhor cara de julgamento — Sim, eu tenho uma obsessão por coisas limpas e, sinceramente, todo mundo deveria ter.

— Já separei uma roupa pra você — Summer sorriu, pegou uma pilha de tecido na penteadeira e deixou na cama.

Passei a mão pelas peças. Era uma camiseta de botões da mesma cor do seu vestido e calças pretas. Eram bonitas. Com certeza, eu devia ter algo parecido no meu guarda-roupa.

— Isso é do seu ex? 

Eu odiava usar roupas de outras pessoas, porque, bem, outras pessoas usaram aquelas roupas. Mas também o fato de pertencer ao ex-namorado perfeito, médico e ativista de Summer me irritava bastante.

— Não. Eu comprei junto com meu vestido — explicou, cruzando as mãos em frente do corpo — Combinava com ele e achei que seria fofo se meu namorado usasse. Claro que eu não tinha um namorado na época, mas comprei mesmo assim. Nunca se sabe.

— Você é inacreditável — balancei a cabeça.

— Estou em dívidas agora por um motivo... Nada de julgamentos — ela apontou o dedo para mim.

Eu ri.

— Veja se serve em você. Comprei um número comum, mas você é mais forte que a maioria dos homens com quem eu saí — Summer disse.

— Você deveria trabalhar com isso.

— Com homens fortes? 

— Com moda, espertinha — ergui a blusa — Você claramente adora roupas e vestir as outras pessoas, por que fazer isso de graça?

Summer me fitou com seus olhos castanhos, seu olhar era tão intenso que senti que ela podia ler meus pensamentos mais impuros. Um arrepio desceu pelo meu corpo nu.

— Nunca considerei trabalhar com moda.

— Bem, aí está algo para você pensar — respondi — Eu deveria tomar um banho.

— Claro, fique à vontade.

Resgatei a minha cueca da pilha de roupas no chão e tentei colocar por debaixo dos lençóis. Ainda sim, precisei erguer meu corpo para subir até o final.

Eu me virei e os olhos de Summer estavam em mim.

— Você estava olhando... a minha bunda? — Franzi o cenho.

Os braços de Summer caíram do lado.

— É muito injusto, sabe? Muitas mulheres pagam caro para ter uma bunda grande e você simplesmente nasce assim — ela apontou para mim.

Sorri e fui até a sua direção.

— Eu fico pronto em trinta minutos — avisei. Summer assentiu.

Ergui seu rosto e a beijei com os lábios fechados. Summer me puxou para mais perto e passou a língua pela minha boca. Eu aprofundei o beijo e subi minha mão pelo vestido até sua coxa grossa.

Se a ideia de ir a uma festa já não me agradava no começo, agora era a última coisa que eu queria fazer no dia de hoje.

— Se ficarmos aqui, trinta minutos vão virar cinquenta — murmurei, usando todas minhas forças para me afastar. Ela sorriu, seu gloss se espalhava pelo rosto, provavelmente pelo meu também.

— Você quem está me prendendo — Summer rebateu. Eu a beijei mais uma vez e me afastei.

— Cuidado com a piscina do térreo — avisei, entrando no banheiro.

— Odeio você, Carver!

Eu ri e fechei a porta do banheiro.

Não, não pensaria no que fizemos, não queria entender o que diabos estava acontecendo entre nós dois, nem porquê eu sorria que nem um idiota. Pela primeira vez em anos, eu me sentia completo, feliz. Se eu começasse a racionalizar essa situação, acabaria fazendo alguma merda.

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