Capítulo 39

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Catarina Hernandez

Eu não esperava que fosse doer tanto a despedida da Lia, Vitória falou que ficaria com ela e que me ligaria todas as noites que eu ficasse fora, mas minha cabeça não conseguia aceitar que eu estava deixando minha princesinha, eu chorei horrores antes do Júlio me abraçar e Vitória levar Lia, minha princesinha foi forte e chorou pouco, provavelmente sem entender porque eu estava sofrendo tanto.

A verdade é que eu estava chorando por medo de me entregar demais nessa viagem, abrir mão de ficar com a Lia por causa de um trabalho, não é algo que eu faria, em uma situação distinta, eu mandaria alguém no meu lugar, mas ter que ir pessoalmente não é algo que eu gosto de fazer.

Me joguei na cadeira do jatinho, talvez demorássemos umas seis horas para chegar em Miami, Júlio pode ter tentado esconder, mas seus olhos estavam cheios de lágrimas enquanto saiamos de casa, por isso - provavelmente - ele me apertou quando me abraçou, senti o mínimo de conforto que foi possível, mas não conseguia me controlar olhando para o celular o tempo todo, a foto de papel de parede, minha com a Lia, não me impedia de sentir saudade.

- nada de celular para você - Júlio disse quando puxou o celular da minha mão e guardou no bolso.

- me dá logo isso - reclamei estendendo a mão, mas ele apenas seguiu para o final do corredor, entrando em uma porta branca, ali provavelmente era o quarto.

Vou até lá ou não? Eis a questão, Júlio tem que parar com a mania de pegar o meu celular quando sentir vontade.

Parando para pensar, eu vou passar nove horas com ele em um local pequeno e depois vamos compartilhar o mesmo apartamento, olhando em um geral, eu não tenho como fugir dele, andei até onde ele estava e abri a porta, encontrando um peitoral malhado que prendeu a minha atenção.

- bonito vestido - ele falou me olhando de cima a baixo.

- me devolve a porra do celular - falei olhando para ele com tédio.

- você sabe que tem que ser uma boa garota e não falar palavrão.

- sim papai, eu sei - falei debochada.

- você é irritante!

- eu que sou? - perguntei sorrindo - você tem quase 30 anos, mas continua me tratando como se eu fosse de papel, pronta para rasgar em qualquer momento.

- você é o meu cristal, que em hipótese alguma... eu deixarei quebrar - uma vibração estranha percorreu o meu corpo, não sabia como reagir a isso, então apenas me sentei na cama e cruzei as pernas.

Júlio me pediu ajuda porque queria aprender a amar, a vida só poderia estar pregando uma peça, mas eu senti certo tom carinhoso em sua fala, mas tentei fazer o máximo para não transparecer, mas aparentemente não foi o suficiente, já que ele se sentou ao meu lado apoiando o corpo nas mãos, inclinado para trás o suficiente para que eu prestasse atenção na calça social e no abdômen contraído.

- vamos fazer um contrato - falei baixo.

- que tipo de contrato?

- um com as minhas regras, com minhas condições, com minhas punições...

- um contrato de relacionamento? Eu geralmente faço isso com as minhas submissas - ele falou olhando para o elástico da cueca.

- o contrato será restritamente sobre a nossa convivência e eu não abro mão das minhas condições.

- vou pensar... - 5 segundos depois - tudo bem.

Rápido demais na minha humilde opinião, aproveitei o momento para sair daquele pequeno quarto, a viagem seria longa o suficiente para mim.

Fazer um contrato de relacionamento com ele não seria algo fácil, tudo vai muito além, não sou só eu e ele, agora temos a Lia, a nossa casa, já que ele fez o favor de ligar nossas casas, fora que ainda temos o trabalho conjunto, me sinto em uma areia movediça.

(...)

Tudo parece rodar e rodar e rodar, acho que ao invés de entrar em um avião, acabei entrando em uma montanha russa, meu almoço parece pronto para percorrer todo o caminho de volta.

- você está bem? - pergunta Júlio ainda sentado a minha frente, nosso almoço foi agradavelmente silencioso, em alguns minutos pensei em falar sobre o contrato que eu mesma propus, mas achei melhor não falar nada.

Faço que não com a cabeça antes de franzir o nariz, faço menção de me levantar mas Júlio se levanta primeiro e segura meu cotovelo, ando até o quarto, com ele de tiracolo ao meu lado, assim que me sento na cama, ele se ajoelha na minha frente me fazendo franzir a testa.

Antes que eu pudesse perguntar alguma coisa, ele começou a desamarrar as fitas do meu salto, escolhi esse em especial, porque as fitas davam a impressão que as minhas pernas são maiores, cada roçar da pele dos seus dedos, enviava fagulhas de calor para um lugar útil e que implorava por ele.

Senti como se a intenção dele fosse me testar, Júlio pareceu gostar quando abaixei a guarda.

- você precisa descansar - ele falou tirando o salto do meu pé direito - conversaremos depois.

Sem que eu sequer me desse conta, estava ensacada dentro do edredom, Júlio estava ao lado da porta olhando para mim, esperando alguma reclamação, mas eu não tinha o costume de dormir de roupa, me acostumei a dormir com um short e nada mais.

- Júlio... - resmunguei ainda sentindo um pouco de tontura, mas não tanta, comparado ao que eu estava sentindo antes.

- sim? - ele sorriu.

- eu preciso de ajuda com a roupa - falei observando os ombros do Júlio ficarem tensos, seu rosto mudou quando ele apertou a mandíbula.

- está brincando comigo? Porque se estiver, Catarina... eu juro que não vou conseguir me controlar.

- e quem falou que você tem que se controlar? - perguntei.

- eu não posso fazer isso - ele falou passando a mão na testa - eu não vou conseguir parar.

- o quê porra isso significa?

- escolhe a porra de uma palavra.

- para quê? - minha cabeça parecia rodar cada vez mais.

- escolha uma palavra de segurança.

Júlio parecia perturbado o suficiente para que um tremor passasse por suas feições, rapidamente escondendo suas mãos dentro dos bolsos, mas seu rosto continuava frio e inconsequente.

- cretino - falei.

- o que? - Júlio pareceu genuinamente confuso.

- minha palavra de segurança é: cretino.

Ele assentiu antes de andar até mim e se inclinar colocando as mãos no colchão ao lado do meu corpo, a respiração dele fez cócegas nos meus lábios, mas não deixei transparecer o quanto ele estava me afetando com aquela proximidade.

- você consegue tirar um vestido sozinha - ele sussurrou empurrando uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha - você só quer que eu faça isso, mas o porquê, é isso que eu ainda não sei.

Minha boca parecia estranhamente seca quando ele roçou o nariz no meu.

- você deve sair da minha vida o quanto antes, eu não mereço alguém do seu nível, - ele ponderou para si mesmo - mas enquanto você ficar... vou tornar você minha e apenas minha.

Foi tudo que ele falou antes de me deixar sozinha no quarto, engoli em seco... as palavras dele escoaram em minha mente, enquanto eu mesma considerava as possibilidades que estavam bem a minha frente.

Essa viagem vai ser muito mais longa do que eu esperava.




×××××

Eu vou fazer essa viagem durar o máximo que eu puder, mas a realidade chama e como chama fml.

Votem aí please.

⭐️⭐️

Tentação oposta - livro 2 da série: Os MendonçaOnde histórias criam vida. Descubra agora