Capitulo 14

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Catarina Hernandez

Não sei bem como essas coisas funcionam, só sei que hoje a tarde eu estava evitando ser presa, mas agora estou em uma prisão por livre e espontânea vontade, mas não se trata de mim e sim de uma menininha que eu ainda não sei nada, nem quantos anos tem, nem de onde vem - mesmo que isso não importe.

Sei apenas que seu nome é Lia, ou talvez esse seja o seu apelido, mas em compensação eu ainda não faço ideia do que eu farei, também não faço ideia de quais providências serão tomadas pelos órgãos públicos, só me lembro vagamente da explosão do carro, todas as vezes que fecho os olhos.

Júlio arriscou sua vida para salvá-la, mas se ele não tivesse ido, eu mesma teria oferecido minha vida para aquela situação, não sei de nada que acontece ao meu redor, só sei que estou perdida no tempo, agarrada ao pequeno corpo.

Como se fosse a minha própria vida, ela me abraça como se eu fosse a sua última esperança, sinto seu coração bater, antes achava que ela pudesse ter, talvez, mais de 1 ano, mas ela parece ter mais, sua mão era pequena, era como se ela tivesse uns dois anos, ou três, ela mão falava, depois que a resgatamos, ela tentou balbuciar algumas coisas mas não falou nada além de Lia, quando eu perguntei seu nome.

- boa noite - o policial com o cabelo curto falou - o nome dela é Liana, ela tem dois anos e sete meses, seu aniversário é no dia 9 de julho, seu pai era alcoólatra, esse deve ter sido o motivo do acidente.

Ele parou de falar quando percebeu que a menina me abraçou mais forte.

- sua mãe morreu no parto, no local do acidente foram encontrados dois corpos carbonizados, um de uma mulher e outro de um homem, achamos que ela sofria agressões, por causa das manchas roxas visíveis em seu corpo.

A menininha usava um vestido rosa e segurava o urso, seu cabelo castanho ia até o ombro, estava descalça e com o rosto sujo de graxa, não havia percebido as manchas até aquele momento.

Não contei quantas, mas percebi que eram mais de seis, só em um braço.

- o ideal seria levá-la para um hospital apenas para ter certeza que está tudo bem por dentro, vocês são casados? - o policial perguntou.

- não - Júlio falou.

- tudo bem, vou levá-la para o hospital e depois? - perguntei.

- ela vai para um orfanato - ele falou como se não fosse nada.

Fechei os olhos, não pode ser possível que eu já tenha me apegado tanto a essa criança.

Sai andando sem me importar com nada que eles falariam lá depois que eu saísse.

Coloquei Lia no carro e me virei para Júlio que estava atrás de mim.

- como vínhamos parar em uma delegacia, com uma criança? - ele perguntou.

- não sei, mas pode deixar, eu a levo para o hospital e faço o que for necessário.

- não sou um sem noção a ponto de te deixar sozinha com uma criança, afinal eu a resgatei - ele falou cruzando os braços.

- não seja idiota, você não tem obrigação - falei sem nenhum sentimento.

- para qual hospital vamos? - ele perguntou andando até o lado do motorista.

- vamos para o Memorial - falei e ele assentiu.

Entrei no carro e Lia voltou preguiçosamente para o meu colo.

Júlio dirigiu com calma e paciência, depois de tudo que houve, era disso que eu precisava, calma e paciência, não sei se devo tomar partido da situação e adotar a pequena Lia, na verdade não sei nem se posso.

Tentação oposta - livro 2 da série: Os MendonçaOnde histórias criam vida. Descubra agora