Capítulo 52

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Júlio Mendonça

Em questão de segundos o rosto da Catarina ficou pálido e logo depois - ou melhor, - segundos depois, o rosto dela ficou lívido de algo que me pareceu fúria e ódio, o que para mim, não é exatamente a melhor reação - mas quem sou eu para julgar, depois de ter errado tão feio.

Não que eu tivesse alguma reação em mente, já que eu nunca me coloquei no lugar dela. Eu sou um babaca de merda mesmo.

- olha... - Catarina levantou a mão me mandando ficar quieto.

- eu cancelei a injeção, mas agora você não tem noção do quanto eu gostaria de voltar atrás, você foi super escroto, em momento nenhum se preocupou em como eu me sentiria?

Isso dói, e dói muito, eu sei que ela está no direito de ficar com raiva, mas... porra! Eu não tenho desculpa para ter feito isso.

- me perdoa - sussurrei.

- posso te dar um tiro no pé?

- o quê? - perguntei.

Meu celular começou a tocar no meu bolso, Catarina passou a mão no cabelo e olhou para onde o som vinha, puxei o celular do bolso para olhar o visor e senti todos os meus músculos tensionarem ao ler "conselho tutelar".

- sim? - falei assim que coloquei o celular na orelha, Catarina enrijeceu o corpo quando eu a olhei.

- desculpe, Júlio Mendonça? Gostaria de falar com Catarina Hernandez, tutora da criança Liana, vocês receberam a guarda dela, já que ela não tinha nenhum familiar vivo que quisesse ficar com ela.

A mulher do outro lado da linha, falando aquilo, não gosto nem de imaginar que minha princesinha agora estaria desamparada em algum orfanato, até fazer 18 anos e escolher um caminho diferente do bom.

- na verdade a questão mudou agora - coloquei no viva-voz - apareceu uma irmã da Liana, e ela quer a guarda da menor.

O chão pareceu se abrir sob meus pés, Catarina ficou mais pálida do que antes ao se sentar no sofá, isso só podia ser algum tipo de brincadeira, e uma de péssimo gosto.

- só um momento - falei tapando o microfone do celular - chama a Morgan - falei para Catarina.

Catarina se moveu depressa passando pela porta, reaparecendo em questão de segundos, com Morgan.

- faremos o teste na Senhorita Laiane e depois declaremos se ela é apta ou não para ficar com a criança, se vocês não se entenderem, o normal é levar o caso para a justiça, mas não é o correto para a criança, passar por todo esse estresse, a visita desta semana a sua casa ainda está de pé, pedimos encarecidamente para não relatar ou informar a pequena Liana, sobre a situação.

Minha cabeça rodou de uma forma tão forte, que eu nem me dei conta de quando Morgan começou a responder por mim na ligação.

Eu sabia que Catarina estava atrás de mim, provavelmente encostada em uma estante, mas eu não conseguia nem registrar o que Morgan estava falando, minha alma pareceu voltar ao meu corpo, quando Catarina se esquivou do meu lado, para colocar algo encima da mesinha de centro.

Que pelo barulho eu soube na hora - que ela estava colocando a pulseira, mas não foi só isso, ela tirou a aliança, Morgan arregalou os olhos, quando viu a aliança rodando na mesa, tudo pareceu passar em câmera lenta.

Catarina saindo pela porta, a aliança rodando, Morgan tentando salvar o mais importante da minha vida, enquanto o meu coração foi roubado, Catarina conseguiu e eu a machuquei.

Morgan estava com o meu celular na orelha e o próprio celular na mão.

- ela é alcoólatra, eu não vou permitir que a Lia fique com uma irresponsável viciada em bebida - minha vontade era pegar a princesinha no colo e sair correndo, fugir de tudo.

Com isso Morgan desligou o celular e jogou os dois na mesa.

- Laiana é viciada em álcool e já foi viciada em heroína - Morgan falou.

- ótimo, uma alcoólatra, drogada, com a minha princesinha - ódio fervilhou nas minhas veias.

- porque Catarina deixou a aliança antes de sair? - Morgan não deveria perguntar isso, não agora.

- brigamos - falei me sentando no sofá de frente para o de Morgan.

- uma simples briga não a faria tirar a aliança, Júlio, você tem que ser um babaca enorme, para perder essa mulher e essa família.

- eu sei, eu sei, eu não sei mesmo aonde estava com a cabeça quando fiz isso - murmurei.

- só Deus deve saber - Morgan se levantou e caminhou até a porta - sua casa, fica pronta em 20 minutos, ou você falar com a Catarina, ou eu tranco vocês em um quarto.

Ah eu vou me lembrar muito bem disso.

Morgan passou pela porta, fechando-a atrás de si, olhando a situação no geral, eu perdi a minha mulher - a mulher que eu aprendi a amar e porra, como dói, só de pensar em perdê-la - e a minha filha, em questão de segundos.

(...)

Catarina Hernandez

Voltar para a minha casa, foi difícil, eu sabia que não demoraria até ele aparecer, mas a questão nem era 100% isso, nem era, nem é.

A questão é sequer imaginar que eu poderia perder a minha princesinha, Lia estava em pé ao lado da mesa de centro, da sala de estar, olhando-a ali, tão fofa e feliz.

Pela milésima vez no dia, eu mexi no dedo anelar, procurando a aliança, que eu havia deixado para trás, eu me senti extremamente traída, eu estive esse tempo todo, usando uma pulseira, que nem foi comprada para mim. Cada vez mais eu me sentia como uma substituta, das vadias que o Júlio mais gosta.

Quando ele passou pela porta, e Lia andou até ele sorrindo, meu coração sangrou, agora que a tal irmã dela resolveu, querer a guarda, eu estou ainda mais presa a Júlio, eu diria até que estou mais presa do que nunca.

- preciso falar com você - Júlio falou como forma de cumprimento.

Eu andei até ele para pegar Lia, e depois andei até a cozinha, qualquer outra pessoa reclamaria do peso da princesinha, mas eu preciso do contato com ela.

- Catarina você não pode me ignorar - Júlio continuou insistindo.

- alguma novidade boa? - perguntei pegando a mamadeira da Lia.

Lia segurou a mamadeira com as duas mãos, e fechou as pernas ao redor da minha barriga.

- Laiana... - Júlio começou a falar, mas Lia se agitou, largou a mamadeira e começou a se debater no meu colo.

- shh, eu estou com você meu amor - sussurrei para Lia.

Me sentei no chão, segurando-a, Júlio se sentou atrás de mim, puxando-me para si, minhas costas bateram em seu peito, quando ele me abraçou, junto com Lia, que agora parecia mais calma.

- não podemos deixá-la sozinha - falei para o Júlio.

- fizemos uma promessa - e realmente fizemos e essa é a promessa que eu vou cumprir até depois que eu morrer - tudo por ela.

Se eu morrer, antes do previsto, Lia estará 100% aparada, em todos os sentidos, eu não deixaria essa suposta irmã sequer ousar pedir a guarda, mas por um acaso, eu quero conhecê-la.

Vou querer a ficha dela, quero saber até os detalhes mais perversos e íntimos.

- me desculpe sobre a pulseira - Júlio falou, enquanto estendia a mão com a minha aliança - mas precisamos formar uma frente forte, ou então eles tiraram a princesinha da gente.

Que merda! Aquelas palavras me colocaram de volta nos trilhos e me mostrou o medo, de simplesmente perdê-la, faria de tudo para que isso não acontecesse.

Daria o meu máximo, para garantir que ela estivessem em casa e bem, comigo, conosco, preenchendo as lacunas.



×××××

Não gosto de dividir capítulo ao meio, mas eu tive que fazer metade Catarina e metade Júlio, ou então ia ficar tudo muito confuso.

Que coisa triste fml, o sofrimento veio né, que babado, quem diria que justo eu, destruiria aquela felicidade, aiai né, nem esperava isso da titia ayla 😘

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Tentação oposta - livro 2 da série: Os MendonçaOnde histórias criam vida. Descubra agora