Capítulo 34

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Júlio Mendonça

- eu não posso deixar vocês sozinhos por um minuto? - Vitória pergunta andando de um lado para o outro em uma sala toda de concreto cinza, com uma parede de vidro, aonde devia ter um policial ou um funcionário público, a sala parecia particularmente pequena. Com cinco homens sentados em cadeiras pequenas para o nosso tamanho habitual.

Recebendo um sermão de uma baixinha, Vitória começou a gritar assim que fechamos a porta, aparentemente o sermão vai ser longo.

- como você veio parar aqui Matheo? - Morgan perguntou antes que pudéssemos responder a pergunta feita pela Vitória.

- como é? - ele perguntou cruzando os braços.

- se você observar a situação num todo, a culpa é sua de estarmos aqui agora - Morgan foi dura, mas eu concordo com ela.

- bom doutora - ele falou de maneira sarcástica se referindo ao titulo que ela conquistou por ser advogada - eu estava em um bar, e um babaca me falou que eu não poderia fumar, em um ataque de fúria quebrei metade das bebidas dele - consegui ver Morgan estremecer.

- na verdade foi mais de 93% - uma voz feminina; provavelmente da policial que provavelmente nos prendeu ontem por desordem, falou pela caixa de som, mesmo que a minha mente seja um nevoeiro, só consigo lembrar da voz dela.

- houve mais algum dano? - Vitória perguntou olhando para o vidro, como se conseguisse ver a mulher do outro lado.

Um silêncio tomou conta da pequena sala, Catarina evitava o meu olhar, não trocamos nem uma palavra desde que ela chegou a esse lugar imundo.

- o dono do local resolveu não prestar queixa, mas um bar em uma cidade pequena não vai durar muito com os 7% que sobraram do seu estoque de bebida - a policial falou.

- mesmo assim não vamos pagar a fiança deles - Morgan falou atraindo toda a atenção.

- vamos ao bar beber todas - Megan completou.

- mas são sete da manhã agora - Catarina falou olhando para Henrique que parecia tão incrédulo quanto nós.

- vamos encher o bolso dele, então, depois pensaremos se vocês merecem ser salvos - comentou Vitória com calma.

Não demorou menos de um minuto para começar a algazarra, Matheo se levantou para encurralar Morgan contra a parede, Henrique tentou se aproximar de Vitória mas ela enrugou o nariz e fez uma careta, acho nossos olhos roxos não iriam ajudar.

Gabriel se levantou da cadeira para Ana sentar, sem nem discussão, me levantei andando até Catarina, ela mordeu o interior da bochecha depois olhou para nada em importante, entrei no campo de visão dela, fazendo-a suspirar pesadamente.

- meu anjo - disse passando o polegar pela mandíbula dela, nesse segundo, tudo sumiu, éramos agora, apenas eu e ela, em um lugar distorcido.

Ela fechou os olhos, provavelmente sentindo repulsa de mim, por causa do meu cheiro, por causa do limite que avançamos na noite de ontem, ou simplesmente por eu ser um ser humano desprezível.

- olhe para mim - ordenei em forma de sussurro, mas quando ela abriu os olhos, eu vi dor e sofrimento, não queria que ela estivesse passando por aquilo, por minha culpa, minha mente imaginou aonde ela estaria hoje, se eu não tivesse entrado em seu caminho.

Foi impossível não vê-la sorrindo com Enzo, em alguma praia, tomando um coquetel enquanto eles conversavam e ele se inclinava para beijar a boca que inconscientemente, eu quero para mim.

Me afastei como se tivesse levado um choque, mas na verdade foi exatamente isso que aconteceu, eu levei um choque de realidade, que me mostrou que eu não quero... mesmo sabendo que a machucarei. Não deveria ser a pessoa certa para ela, mas meu corpo insiste que ela é perfeita para mim.

Como se fosse a última peça do meu quebra-cabeça.

(...)

Me sinto um caco, mas dirigi, Catarina estava com o Jaguar, mas quem estava dirigindo era a Morgan, todas cinco, resolveram ir no mesmo carro, nós basicamente fomos obrigados a fazer isso, Catarina ainda evitava o meu olhar, mas sair da minha cabeça que é bom, nada. Ela continuava na minha mente como se o meu shampoo estivesse com uma essência dela, mesmo que o meu cabelo não estivesse com cheiro mais.

Eu me sinto extremamente inútil, quando Henrique falou que eu dirigiria, quase dei outro soco nele, apenas para não dirigir, Vitória o obrigou a me pedir desculpas, na verdade todos nós pedimos desculpas, Morgan me chamou em um canto da delegacia, para me dar um sermão mais longo do que eu gostaria, mas eu gosto dessa... criaturinha que precisa de cuidados. Mas não vou falar isso para ela, ou então eu ficarei sem bolas, falando nelas, quase as perdi mais cedo, o frio que o concreto passa, é maior do que parece.

Achei que minhas bolas fossem virar gelo, que se derreteram facilmente quando Catarina me olhou furiosa por cima do ombro, olhei de volta confuso, mas ela se abaixou para pegar Lia no colo, mas ela levou minha filha para longe de mim, o que me fez ficar ainda mais confuso, mas minha confusão se multiplicou umas mil vezes, quando eu entrei na sala e encontrei Sarah sentada no sofá com as pernas cruzadas.

O vestido colado que ela estava usando, mostrava que ou ela estava tentando interpretar uma vadia, ou estava tentando me irritar, achando que eu ligaria para a roupa dela, mas nesse momento a única roupa que eu queria arrancar era da mulher que estava com a minha filha no colo.

- jardim em quinze minutos - disse ríspido, não estava feliz de encontrar com a Sarah, a principio tudo isso era por causa do amor que eu me sentia obrigado a corresponder, mas agora... eu não quero mais me forçar para corresponder algo superficial.

O bebê que ela perdeu, foi apenas descuido, não era porque ela queria me amar e me ter na sua vida para sempre, já tive algumas mulheres problemáticas na minha vida, com certeza não quero mais um problema. Andei para o meu quarto na fazenda da minha família, mas parei na porta criando coragem para lidar com Catarina.

Abri a porta encontrando Catarina deitada de bruços, Lia estava com a cabeça apoiada na sua coxa, mas elas estavam do meu lado da cama, tentei não fazer barulho quando peguei uma toalha e uma cueca cinza, afinal acho que minha postura de babaca escroto, está sendo alterada por duas mulheres.

Tomei um banho maravilhoso, agradeci aos céus pelo chuveiro ser extravagante com vários jatos quentes, lavei o cabelo e escovei os dentes, me sinto faminto, não só de comida, me deito ao lado da Catarina puxando apenas uma parte do edredom para cobrir a minha cueca, dei um beijo na testa da Lia e depois me deitei olhando para o teto.

Catarina puxou Lia, posicionando-a no meu peito, a princesinha se aconchegou no meu peito enquanto chupava a chupeta rosa que tinha um elefante rosa com glitter, Catarina puxou o meu braço passando-o por baixo do próprio pescoço, segundos depois, Cat Cat estava com a cabeça no meu ombro, Lia aconchegada no meu peito, agora sim eu me sentia em casa, mesmo que não fosse de verdade.

Não sei como Catarina reagiria se eu começasse a me referir a ela como minha mulher, é isso que eu quero gritar para os quatro cantos, mesmo que não tenhamos nada.

Por enquanto.

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por enquanto família, esse Júlio é muito convencido, bateu uma vontade de colocar as patroas pra mostrar quem manda

votem ai patroasss e patrões

Tentação oposta - livro 2 da série: Os MendonçaOnde histórias criam vida. Descubra agora