Pecado

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Vivemos um tempo em que não é politicamente correto usar o termo "pecado", muito menos referir-se ao ser humano como pecador. Algumas filosofias defendem que somos perfeitos e que não há espaço para a culpa, considerada por alguns um câncer judaico-cristão que somente trouxe males às almas humanas. Há um discurso de que na vida não há erros, somente experiências e consequências. Acredito que essa postura é assumida por muitos com a melhor das intenções, tais como a valorização de cada criatura de Deus e a retirada de um peso de inúmeros ombros oprimidos.


Gostaria, entretanto, de expor minha opinião. Estamos num planeta cheio de mazelas, em sua absoluta maioria – senão totalidade - geradas pela humanidade. Desumanos que matam com crueldade, no calor da emoção de um crime passional ou com palavras que ferem o lugar mais profundo do coração. Milhares são os que roubam desde carteiras a cofres públicos, passando pelo direito do pobre e a justiça do inocente. Em nossa espécie há invejosos, gananciosos, soberbos, traidores e omissos; há outras tantas misérias que não costumam ser reveladas.


Ontem eu assistia um episódio de uma série que mostrava três grandes grupos sociais: as vítimas, os agressores e os espectadores. Este último grupo, o maior em número, nada mais fazia além de apontar suas câmeras de celular e postar toda a tragédia que presenciava diariamente. Eram indivíduos quase tão cruéis quanto os agressores, que se deliciavam em praticar maldades. As vítimas, por sua vez, ao tempo em que lutavam com todas as forças que dispunham, olhavam ao redor buscando uma quarta personagem, rara de se encontrar: o herói, inexistente no roteiro em questão.


Muitos dentre nós não negam que sabem o que é errar, e errar feio, em um nível constrangedor que expõe uma natureza degenerada. Nesse contexto fica mais fácil perceber que a culpa não é uma maldição, mas uma ferramenta da consciência para levar o homem e a mulher ao arrependimento. Todos queremos que o assassino sinta culpa porque entendemos que ele a tem, ela simplesmente lhe pertence e desejamos que ele lide com o fato, para começar porque isso nos parece lógico, o caminho certo para iniciar um eventual processo de redenção e, quem sabe, algum grau de compensação.


A questão é que há muitos tipos de pecado, que são literalmente erros do alvo, como dobras de um leque quase infinito de opções. Geralmente quem já passou por algum ponto nessa escala e verdadeiramente sentiu a gravidade do que fez saberá acolher com naturalidade o conceito de pecado, assumirá o lugar de pecador, abraçará a culpa, chorará sua vergonha e não somente aceitará, mas buscará diligentemente e ansiará desesperadamente por um herói para sua alma. Sim, porque o herói não é a esperança apenas da vítima; os agressores também precisam de salvação.


Não há orgulho para aquele que enxerga sua miséria, para quem se reconhece como um doente que precisa de médico, um cego que carece de guia, um homem que precisa de Deus. Tentar tirar o peso dos ombros somente alegando que ele não se justifica é engano, não socorro.


Assim que, se o Salvador para muitos parece dispensável, ou mesmo nem existir, para outros Ele é cura, paz, perdão e vida. Correm para Ele os simples de espírito e não voltam de mãos vazias. Alguns perguntam, por vezes alternando zombaria e ironia:


- Jesus salva de quê?


- Bem, para começar, que tal de você mesmo?

Erradores - pensando nossa condiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora