Erradores - pensando nossa condição

Você quer saber?

O que seria de nós se Deus nos revelasse o futuro?

Se ele nos dissesse só coisas boas, como reagiríamos? Provavelmente pararíamos de nos esforçar, por saber que já estava previsto nosso sucesso. Perderíamos o mérito e o aprendizado da perseverança de buscar nossos sonhos.

Se nos fosse revelado só o que é ruim, possivelmente cairíamos em tristezas, sabendo que agora temos o que um dia seria tirado de nós; ou o que não temos e nunca nos seria concedido. Perderíamos dias que poderiam ter sido vividos plenamente, se soubéssemos que o dia seguinte seria trágico. Anteciparíamos as dores e aumentaríamos, assim, as tragédias da vida e suas consequências. Não iríamos usufruir da alegria que a esperança traz, se soubéssemos que em determinado assunto essa esperança era um fim em si mesma e que, ao final, não traria à luz a tão esperada vitória.

Como seria desafiador, também, saber ao mesmo tempo o mal e o bem, as coisas boas e as ruins. Para onde iria o gostinho da expectativa? Qual a graça se você já soubesse de tudo? Mesmo os resultados positivos perdem muito da beleza se não tiverem o efeito surpresa. Pense no primeiro beijo. Seria melhor saber antes como tudo iria acontecer? E conhecer o rostinho do seu filho? Esperar por meses só torna esse momento ainda mais especial. A razão de não saber o desenrolar de nossa vida é a mesma de pedir a um amigo para não nos contar sobre o filme. A gente mesmo quer ver e sentir as emoções, vivenciando-as uma a uma com toda a adrenalina e paixão. O bom é descobrir na hora, senão não tem graça, não é mesmo? Qual o mistério de uma história que já nos contaram? Porém alguns insistem em desejar saber, desconsiderando que o futuro tem tempo e espaço certos para se realizar.

Quando Deus não nos conta o final do nosso filme está dando provas de sua amizade. Ele não quer que percamos o interesse por nossa vida, nem que paremos de lutar e muito menos que caiamos em lamentos ou melancolia. Às vezes ele revela algumas cenas, mas geralmente não entra em detalhes. Ele deixa a gente ir descobrindo e saboreando. Assim, não sofremos por antecipação por algo que Ele, em sua onisciência, já sabe que vai nos acontecer. Mas também temos renovada esperança, a cada manhã, pelas surpresas boas que Ele enviará para as nossas vidas. Daremos nosso máximo, fazendo a nossa parte pra que tudo dê certo, justamente por não termos controle sobre esse tudo. Exatamente porque a vida nos é apresentada como uma folha em branco, temos mais ânimo para escrever cada linha.

Que incentivo à vida é não saber o dia de amanhã! Que estratégico não sabermos o dia de nossa morte, por exemplo. Move-nos a fazer mais com nosso tempo, ou pelo menos deveria ser assim. Também ignorar o dia da morte do outro nos motiva a amá-lo intensamente, já que não sabemos quando será tirado de nós. Não saber, enfim, tem muitas vantagens, como nos levar a orar mais, nos consagrar mais e semear bem para colher bem.

Assim como nos atrai mais viajar para um destino novo, desconhecido, ficando num hotel diferente, frequentando outros restaurantes e experimentando receitas novas; assim como é bom fazer novos amigos, mudar de casa, escola ou trabalho; tal qual a doce sensação de receber um presente em uma caixa que parece pedir para que seu laço seja desfeito e ela aberta; assim é a nossa vida não contada.

É esse prazer do novo, de redigir uma história ainda incerta, de sair da rotina, de se surpreender, que Deus quer para nós, para o conto ligeiro de nossa existência, essa erva que hoje está aqui e amanhã será jogada fora.

Melhor que conhecer o futuro é confiar no Deus que cruza os tempos de eternidade a eternidade, e viver o presente da melhor maneira possível.E se Ele não me enviar profecias, saberei viver sem elas. Que as revelações, se vierem, venham somente por iniciativa de Deus e não as busquemos de outras fontes. E que cada profecia pessoal seja recebida com a sabedoria de ser acolhida dentro da Profecia maior, que é a Palavra de Deus, lembrando que Deus revela o futuro quando quer e por motivos bem específicos.