Erradores - pensando nossa condição

Casamento

Duas pessoas completas e distintas que se tornam uma só carne, numa só casa, ao longo de uma só vida. Muitas coisas acontecem nesse universo íntimo.

Dentre tantas experiências, marcou-me uma ocasião em que havíamos discutido, nem lembro mais o porquê ou sobre o quê. Isso é o que menos importa. Os temas das discussões, em si, nunca são o mais importante, embora na hora pareçam ser. Depois de argumentos indo e vindo, de exposições de nossos sentimento e opiniões, de tentarmos convencer um ao outro, por fim nos calamos. Só por fora. Por dentro muito barulho. Nada bom. Se não estamos bem o mundo fica feio e percebemos que perdemos algo que precisa ser urgentemente resgatado. Naquele momento, um no norte e outro no sul, uma voz veio ao meu coração:

- O lava pés.

- O quê?

- Lembre-se de Jesus. Bacia, água, toalha. Humildade, serviço, amor, comunhão. O maior será o que serve. O amor não busca ter razão.

Entendi. Reuni o que precisava. Fui ao encontro do meu marido. Eu sabia de quem era a voz que me falara, não havia como duvidar, não havia o que pensar; a escolha perfeita passava pela obediência.

Curiosamente meu coração não se preocupava mais em analisar quem estava certo ou errado. Nada fazia diferença se eu não tivesse seu abraço, e agora eu tinha o caminho. Cheguei a ele que, ao me ver, imediatamente entendeu e disse cheio de serenidade:

- Não precisa!

- Precisa sim.

Lavei e enxuguei seus pés enquanto ambos chorávamos discretamente e em silêncio. Ao final ele tomou os objetos e repetiu o gesto em meus pés. A presença de Deus era tão clara naquele ambiente que eu não percebia as paredes ou os móveis, mas quase podia ver anjos ao nosso redor. Levantamo-nos em um abraço, oramos, choramos e ficamos em perfeita paz. Os romances cristãos têm cenas melhores que contos de fadas, têm cenas bíblicas.