Erradores - pensando nossa condição

Imagem e sensualidade

Não sei quantas vezes presenciei atitudes consideradas inadequadas sendo praticadas em locais públicos. Interessante que essas cenas trazem uma mensagem. As mesmas pessoas que fazem algo em um local não o fazem em outro. Em certos lugares há indivíduos aos quais se é indiferente. Eles podem testemunhar a maquiagem, os pés descalços ou a mordida num sanduiche enorme enquanto uma guerra é travada com o queijo que insiste em não se partir.

Em alguns momentos sentimos que podemos fazer o que quisermos. São momentos de liberdade e espontaneidade. Entretanto, a vida nem sempre é assim. A mesma pessoa que é algo aqui não o é ali. Que o é hoje não o é amanhã. Que o é com um não o é com outro. Nada de brigar com o queijo ou coisas do gênero; não aqui, não agora. Por que aqui não, lá sim? Por que com ele não, com ela sim? Queremos passar uma determinada imagem para um público específico e nos esforçamos para isso. Buscamos uma vantagem qualquer, um sentimento de aceitação. O grande equívoco é que o verdadeiro amor não impõe condições e pré-requisitos. Nada é tão natural e simples como o amor.

O que vestir, comer e falar para que o outro goste de nós é uma preocupação constante. Moda é exatamente fazer e usar o que todos estão fazendo e usando. Estilos e tendências são uma forma de dizer como você deve ser, o que deve querer, como gastar seu dinheiro e para quem. Não é fácil sustentar uma mentira por tanto tempo. É complicado interpretar tantas personagens.

O melhor de nós é nossa verdade vindo à tona no que naturalmente somos. O que temos a dizer não depende do que estamos vestindo. Quem te admira vai continuar assim caso te veja de salto alto ou rasteirinha, de bermuda ou de terno. A impressão que quero causar em um grupo não deve me manipular, senão o outro acaba sendo um tirano em mim tão somente porque busco aprovação. E por que tanta necessidade de aprovação? Por que tanto medo da rejeição? Por que o que o outro pensa sobre mim parece ser mais importante do que o que realmente sou ou quero ser? Não estou defendendo um descaso geral com nosso comportamento e postura. Estou defendendo uma imagem autêntica como objeto de desejo, consumo, meta e equilíbrio mental.

Não parece saudável que nossa autoestima dependa do que a mídia diz que é belo e bom. Agrada-me a ideia de encontrar minha estética independente dos ventos que vêm e vão, não esquecendo coisas que sempre deveriam estar em alta, tipo bom senso. Muitos lagos ou lagoas, rios e mares, são lindos de fora e de longe, mas ao chegar perto da água há mal cheiro, lixo e contaminação. Assim também são algumas pessoas. Cuidado com a beleza superficial. Não mergulhe, se possível nem molhe os pés nessas águas. É preciso ficar longe para permanecer são.

Gente é gente. Desde o pobre até o mais rico, passando pelos questionáveis conceitos de bonito e feio, analfabeto ou pós-doutor, com ou sem poder. Gente é sempre gente; todos tão absurdamente iguais, carentes das mesmas coisas, tropeçando nas mesmas pedras, fazendo-se as mesmas perguntas.

Fica linda e sexy aquela pessoa que não sabe que é. Quem sabe corre o risco de fazer charme, tipo, gênero e, pior, lançar um olhar supostamente sedutor totalmente sem propósito. Às vezes vejo gente que exala uma sensualidade tão sem lógica, descabida e pretenciosa que oscila entre o preocupante, o ridículo e o engraçado, a depender do caso. A verdadeira beleza é natural e distraída, jamais ensaiada ou convencida. A pessoa naturalmente sedutora precisa que alguém use fortes argumentos para convencê-la de seu "poder". E quanto menos ela sabe, quanto menos crê, mais encantadora é. Para muitos, por exemplo, uma pessoa educada e inteligente se torna automaticamente mais atraente.

Está tudo na cabeça, sabe? Tudo na mente. Ela diz se o dia está agradável e que gosto as coisas tem. Ela resolve o que vale a pena e cria uma visão sobre nós. Me peguei pensando por que os casais fecham os olhos enquanto se beijam. Deduzi que, instintivamente, sabem que é momento de sentir, não de olhar ou analisar. Para amar, a química e a sintonia - dentre vários outros aspectos - são mais importantes que a estética.