Rugge on·
Alguma coisa tinha mudado depois que Karol foi ao banheiro na noite passada. Antes daquilo ela estava sendo sarcástica como sempre, encantava um homem de sessenta anos, pesquisador da área farmacêutica, simplesmente sendo quem ela era. Depois, porém, ficou quieta e retraída. Quando chegamos ao apartamento dela, não me convidou para entrar e o beijo não teve o fogo que sempre ardia entre nós. Não quis pressioná-la e decidi esperar para ver o que aconteceria no dia seguinte. Não aconteceu nada, e aqui estou eu sentado no escritório em uma tarde de sábado olhando para uma pilha de prospectos. Minha concentração era uma merda desde que essa mulher invadira minha vida.
Peguei o celular e o joguei de volta em cima da mesa. Às três da tarde tinha repetido o movimento vinte vezes. No fim resmunguei que era covarde e mandei uma mensagem.
Rugge: sobrevivemos aos dois eventos. Nosso acordo ainda está valendo?- fiquei olhando para a porcaria de telefone até os pontinhos começarem a pular. Meu nível de ansiedade subiu quando os vi. Pararam e começaram de novo. Não era preciso pensar muito para responder que nosso acordo de exclusividade estava mantido. Em que está pensando Karol Itzitery?
Kah: tem certeza de que é isso que quer?- respondi sem pausa.
Rugge: é o que quero desde o primeiro dia. Esse teste foi ideia sua.
Kah: estou nervosa- liguei para ela e parei com o jogo de adivinhe o que ela está pensando. Karol atendeu no primeiro toque.
Rugge: o que ela te falou?
Kah: Alexia?
Rugge: quem mais?
Kah: já contei.
Rugge: conta de novo. Acho que perdi alguma coisa.
Kah: não lembro as palavras exatas.
Rugge: fala o que você lembra.
Kah: bom, basicamente ela me seguiu quando fui fazer xixi, depois disse que me prevenir contra você era prestar um serviço às mulheres.
Rugge: continua.
Kah: não tem mais nada. Ela disse que eu não merecia o tempo dela e que um dia acabaria descobrindo sozinha. Depois me falou para perguntar por que você estava tão determinado a destruir a empresa do marido da melhor amiga dela.
Rugge: eu já tinha te contado sobre Facundo e Candelária. Ele é meu concorrente- Karol ficou quieta por um minuto.
Kah: procurei seu nome e o de Facundo no Google hoje de manhã- soprei um jato de ar e me encostei na cadeira.
Rugge: e...
Kah: tem vários artigos sobre como você está tentando incorporar a empresa dele. Falam em incorporação agressiva.
Rugge: é verdade.
Kah: todos os artigos afirmam que você está pagando quase o dobro do valor de mercado. Não sei muito sobre essas coisas, mas por que faria isso? Se não é para destruir o cara é por que ainda sente alguma coisa pela mulher que ele tomou de você? A mulher cujo nome você tatuou?
Rugge: ah, então é isso?
Kah: estou nervosa Ruggero. Tenho a sensação de que você pode me engolir inteira.
Rugge: estou tentando.
Kah: é isso também, mas você entendeu o que eu quis dizer.
Rugge: tem medo que eu te magoe?- ela suspirou.
Kah: tenho.
Rugge: a empresa de Facundo tem vinte e três por cento das Indústrias Pembrooke. No ano passado comprei vinte e oito por cento da Pembrooke em nome de uma corporação laranja da qual sou o único acionista. Se eu comprar a empresa de Facundo compro também essas ações da Pembrooke. Isso me daria cinquenta e um por cento e o controle acionário. Só isso já vale mais que o dobro da empresa de Facundo. Eu quero a Pembrooke, não o Facundo. Os analistas presumem que isso ainda é resultado de um ressentimento por ele ter sido meu sócio.
Kah: então não é apaixonado por Candelária até hoje?
Rugge: não, e se tinha alguma dúvida podia ter conversado comigo Karol.
Kah: desculpa. Acho que estou apavorada com o que está acontecendo entre nós.
Rugge: eu também estou, mas sabe o que percebi?
Kah: o quê?
Rugge: apavorado ou não, o que está acontecendo vai acontecer, seja o que for. Nenhum de nós tem o poder de impedir. Sendo assim por que não vem ao meu escritório pedir desculpas pessoalmente por ter tirado conclusões precipitadas?
Kah: isso é um código para subir na mesa e brincar de chefe e secretária?- eu gemi.
Rugge: vem para cá- ela riu. Era bom saber que meu sofrimento constante servia para diverti-la pelo menos.
Kah: não vai dar Pasquarelli.
Rugge: para de tirar onda com a minha cara Karol.
Kah: não é isso. Não posso ir para aí. Não estou em casa.
Rugge: onde você está?
Kah: ajudando Lina em uma festa alternativa. Estamos a algumas horas da cidade- resmunguei alguma coisa incompreensível.
Rugge: quando você volta?
Kah: amanhã cedo. A feira só termina à noite e Lina já é perigosa demais dirigindo durante o dia. Além do mais ela vai colocar mais de cem piercings hoje, vai estar até vesga quando terminar. Vamos passar a noite no hotel do outro lado da rua.
Rugge: o que vai fazer o dia inteiro?
Kah: ajudar. Eu limpo a área onde o piercing vai ser colocado e seguro a mão dos covardes- não sabia se ia querer ouvir a resposta, mas perguntei assim mesmo.
Rugge: que áreas vai limpar?
Kah: as mais comuns. Orelha, nariz, umbigo, língua, mamilo, um ou dois pênis.
Rugge: como é que é?
Kah: é clínico.
Rugge: ah, isso me faz sentir melhor por saber que você vai limpar o pau de um homem e Lina deve ser médica.
Kah: relaxa. Não é nada demais.
Rugge: tem razão.
Kah: tenho?
Rugge: é claro.- cobri parcialmente o telefone e gritei para secretária que nem estava no escritório hoje- Elizabeth! Pode vir aqui um instante?
Kah: é sua nova secretária?
Rugge: sim, vou lavar os peitos dela.- Karol riu. A mulher riu de mim- Qual é a graça?
Kah: já vi como você trata as secretárias. Tenho certeza de que ela não deixaria você lavar os pés dela, muito menos os peitos.- infelizmente ela devia estar certa- Quando te vejo?
Rugge: amanhã à noite.
Kah: ok.
Rugge: passo para te pegar às seis.
Kah: combinado. Agora tenho que desligar. Um cara enorme e tatuado acabou de entrar no estande da Lina. Esses são os que mais precisam de alguém para segurar a mão deles.
Rugge: que maravilha. Agora vou imaginar você limpando o pau de um sujeito enorme e musculoso, enquanto ele olha para os seus peitos incríveis e fica excitado.
Kah: você tem uma imaginação bem fértil.
Rugge: até amanhã Karol.
Kah: até mais tarde Engomadinho- alguns minutos depois de desligarmos meu celular vibrou. Era uma mensagem dela.
Kah: sim, temos um acordo.
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Rugge on·
Eu tinha que tirar da cabeça dela essa história com Alexia, mostrar que não havia nada a temer em relação a mim. No dia de nosso jantar, incapaz de me concentrar em qualquer coisa que não fosse ver Karol saí cedo do escritório, o que parecia ter se tornado a norma ultimamente. Se eu não fosse dono da empresa teria me demitido.
Em casa comecei a cortar vegetais para a massa primavera que planejava fazer. Não era um cozinheiro gourmet, de jeito nenhum, mas sabia fazer uma ótima massa al dente. Mandei uma mensagem para Karol mais cedo para avisar sobre a mudança de plano: eu ia preparar o jantar para nós em casa. Sentia que seria uma mudança de ritmo depois do fiasco do baile de gala. Precisava recebê-la em meu espaço e mostrar mais do meu lado casual.
Tinha acabado de ligar a televisão embutida na parede da cozinha e estava escolhendo alguma coisa para ver quando o telefone tocou. Karol. Peguei um pano para limpar as mãos antes de atender.
Rugge: oi gata.
Kah: oi...- ela fez uma pausa- Que música é essa?
Rugge: a televisão- merda. Tentei abaixar o volume, mas logo percebi que o controle não estava funcionando. Eu estava prestes a desabar na escala de classificação de descolado.
Kah: é o tema de abertura de General Hospital?
Rugge: não- menti.
Kah: é sim- droga. Pego em flagrante. Dei uma risadinha culpada.
Rugge: tudo bem, era, você me pegou.
Kah: você gosta de novela?
Rugge: só dessa.
Kah: e eu pensando que não tínhamos nada em comum- pigarreei e me rendi ao constrangimento.
Rugge: você também vê?
Kah: eu via, na verdade... agora não mais.
Rugge: nunca tinha prestado atenção nela, até minha mãe ficar doente quando eu estava no ensino médio. Ela era obcecada por General Hospital. Quando ficou de cama eu me deitava ao lado dela às três da tarde e fazia companhia enquanto passava a novela. Acabei acompanhando algumas histórias do enredo e continuei vendo depois que ela morreu. Essa novela me faz lembrar dela- Karol ficou quieta, depois disse.
Kah: Ruggero... isso é... uau... eu... isso é muito importante- tomado por uma emoção repentina mudei de assunto depressa.
Rugge: a que devo a honra da ligação?
Kah: queria saber se posso levar alguma coisa.
Rugge: nada além dessa sua bunda linda, baby.
Kah: é sério, queria levar alguma coisa.
Rugge: já tem tudo aqui.
Kah: legal. Eu levo vinho então- garota teimosa.
Rugge: meu motorista vai te buscar em uma hora.
Kah: combinado- fiz uma pausa rápida antes de sussurrar o nome dela.
Rugge: Karol...
Kah: oi?
Rugge: mal posso esperar para te ver.
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Rugge on·
Estava tão compenetrado em arrumar a mesa que esqueci de avisar ao porteiro que Karol podia subir sem ser anunciada. Quando o interfone tocou decidi fazer uma gracinha.
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An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]
RomanceQuero dizer antes de tudo que essa fanfic (o que é um livro na verdade) NÃO É MINHA! É apenas uma adaptação! Bom, escolhi fazer uma adaptação ao invés de uma fic autoral, pois ainda estou bolando ideias para próxima fic e visto que o final da última...