• Capítulo 8

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Rugge on·
Não tive notícias dela durante o dia todo no sábado e nem esperava. Karol Itzitery estava decidida a me enlouquecer. Nunca passei por essa experiência antes. Havia perseguido de maneira incansável empreendimentos que queria realizar, persistindo até convencer o outro lado a ceder uma proposta irrecusável, mas perseguir uma mulher era novidade para mim. Sim, algumas me fizeram insistir para conseguir um primeiro encontro, mas no fim da noite eu não tinha a menor dúvida do que as fazia vibrar. Elas queriam vinhos e jantares, elogios, uma conexão comercial, um determinado estilo de vida. Não era difícil descobrir. Até agora.
O que faz você vibrar, Karol Itzitery?
Quanto mais a mulher me enfurecia, mais eu a queria. Às dez da noite não consegui mais resistir. Estava me transformando em um chorão ressentido.
Rugge: como foi a festa?- ela respondeu alguns minutos mais tarde. Senti certa tranquilidade por ela não estar fascinada com algum novo conhecido a ponto de esquecer o celular.
Kah: estou no trem a caminho de casa. Eu já contei que não gosto de palhaços?
Rugge: não, mas acho que essa fobia é bem comum.
Kah: minha sobrinha monstrinho não ficou assustada. Faz sentido. O que fez hoje?- eu estava sentado sozinho na sala de casa com pilhas de documentos espalhados sobre a mesinha de centro e um conhaque na mão. Hoje havia sido um dia de catorze horas. Toda vez que eu pensava em entrar em contato com ela enfiava o nariz no trabalho de novo. Meus olhos desistiram antes da minha vontade.
Rugge: trabalhei até tarde.
Kah: é aquela velha história... só trabalho e nenhuma diversão.
Rugge: faz do Ruggero um cara rico.
Kah: talvez, mas de que adianta ser rico se não tem tempo para curtir seu dinheiro?- esvaziei o copo em um gole só. Tinha escutado essas mesmas palavras vezes demais para contar, da minha avó.
Rugge: pensou no que eu perguntei?
Kah: está falando da minha agenda imediata?- engraçadinha. Pensar que ela havia saído hoje à noite sem se comprometer a não sair com outras pessoas estava me deixando doido. Ontem falei para ela que isso era inegociável. Naquele momento estava tentando pressioná-la a tomar uma decisão do tipo tudo ou nada a meu favor, mas depois das últimas vinte e quatro horas tinha certeza de que nunca conseguiria manter um relacionamento aberto com essa mulher. Normalmente era eu quem evitava compromissos. O feitiço virou contra o feiticeiro, acho.
Rugge: estou.
Kah: tenho uma proposta. Você vai comigo a um evento social que eu escolher, eu vou com você a um evento social que você escolher. Se ainda quiser exclusividade depois disso, eu topo- o que ela estava pensando? Que conviver com os amigos dela me faria perceber que éramos muito diferentes e que um relacionamento nunca poderia dar certo? Ou era o contrário? Ela não se adaptaria ao meu estilo de vida? Evidentemente, superestimava a importância que dou ao que as pessoas pensam nos dois casos.
Rugge: isso é totalmente desnecessário, mas se te faz feliz, eu topo. Quando vai ser esse evento social?
Kah: na quinta-feira à noite. Agus e Lina vão fazer uma festa no estúdio de tatuagem. É aniversário de um ano do estúdio.
Rugge: o meu é sexta à noite. O Pink Ribbon Gala no Met. É um evento beneficente anual que eu apoio.
Kah: um baile de gala é? Vou ter que tingir as pontas do cabelo para combinar com meu vestido elegante.
Rugge: temos um encontro?
Kah: dois encontros- naquela noite dormi melhor que na semana anterior inteira. Como sempre na tarde de domingo fui visitar minha avó. Ela me fazia levá-la para fazer compras e depois preparava um dos meus pratos favoritos. Geralmente essa era minha única refeição caseira da semana.
Segunda de manhã acordei cedo e corri onze quilômetros em vez dos sete habituais. Quando estava a caminho da estação de trem percebi o quanto estava ansioso para ver Karol. Quando o trem saiu da estação em que ela embarcava sem que tivesse entrado fiquei de mau humor e liguei para minha secretária para ditar a lista de coisas que ela tinha que fazer antes de eu chegar. Sabia que não era possível fazer tudo, mas pelo menos teria uma desculpa para descarregar minha frustração em alguém.
Naquele dia eu estava especialmente azedo. Às cinco da tarde me peguei escrevendo outra vez para o "Pergunte a Ida".

Querida Ida,
Tem uma mulher que espero ansioso para ver no trem todos os dias. Hoje de manhã ela não estava lá. Acho que pode estar me evitando de propósito porque não consegue mais resistir à atração sexual que sente por mim e tem medo de ceder e me deixar fazer tudo que eu quiser com ela. Como posso ter certeza?- Celibatário em Manhattan.

Rugge on·
Vinte minutos mais tarde a resposta chegou à minha caixa de e-mails.

Querido Celibatário,
Segura sua onda. Diferente do que você parece pensar o mundo não gira em torno do seu umbigo. Talvez essa mulher tenha tido uma consulta com o médico para pegar a receita nova do anticoncepcional. Coisa que um homem celibatário como você pode entender, isto é, se algum dia tiver a oportunidade de quebrar esse voto de castidade. Talvez deva pegar outro trem por exemplo. Melhor ainda, marque uma consulta com seu médico para fazer uns exames, pensando na remota possibilidade de ter alguma chance com essa mulher misteriosa do trem, é melhor estar preparado.

Rugge on·
Eu já havia passado o dia inteiro pensando em por que ela não estava no trem de manhã. Que maravilha. Agora não ia conseguir pensar em mais nada que não fosse estar dentro dela a noite toda.
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Rugge on·
Karol não pegou o trem nos dois dias seguintes. Eu tinha a sensação de que ela havia decidido me evitar até o nosso próximo encontro. Felizmente hoje era a noite da festa no estúdio de tatuagem. Caso contrário, poderia perder a cabeça. Estava quase explodindo em vários sentidos. Não controlava as emoções e não me sentia mais saudável guardando tudo isso. Só havia uma pessoa em quem poderia confiar para falar de detalhes da minha vida pessoal. Normalmente, nunca ligava para minha avó durante a semana, mas por alguma razão sentia que precisava dela para me orientar e impedir que eu fosse um completo babaca durante a noite. Empurrei para o lado a pilha de papéis sobre a mesa e peguei o telefone. Ouvi três toques antes de ela atender.
Meme: Ruggero? Tudo bem?
Rugge: tudo bem, Meme.
Meme: você nunca me liga na quinta-feira.
Rugge: eu sei.
Meme: o que está acontecendo? Parecia preocupado no domingo. Algum problema?
Rugge: nenhum problema.
Meme: o que é então?- respirei fundo e fui direto ao ponto.
Rugge: eu sou uma pessoa ruim?
Meme: que pergunta é essa?
Rugge: tem uma... mulher com quem estou saindo. Acho que ela não confia em mim e estou pensando se tem alguma razão para isso. Talvez eu não seja bom para ela. Talvez não seja bom para ninguém- Meme nunca foi de medir as palavras. Ela deu risada.
Meme: você tem essa tendência de ser meio cretino, meu amor, mas pelo que me conta isso faz parte do seu trabalho. Lidar com uma mulher no entanto é outra história e você certamente conhece bem essa história- respondeu.
Rugge: aí é que está. Conheço, mas essa mulher é diferente. Eu a sinto de um jeito diferente. Não sei nem como explicar. Não faz sentido nenhum, na verdade. Não temos nada em comum. Ela é do Brooklyn, mexicana, cabeça quente, uma bala de canhão com cabelo colorido. Ela me desafia. Às vezes é até cruel, mas eu não me canso dela e sei que ela não confia em mim. Não sei como me aproximar mais- Meme bufou.
Meme: se quer se aproximar, isso significa que ela não deixou você fazer tudo que quer?
Rugge: ela não permitiu nada nesse sentido.
Meme: você não está acostumado com as mulheres que mantêm as pernas fechadas. Existem coisas como uma mulher que se respeita, sabe? Acho que gosto dessa garota.- suspirei no telefone enquanto ela continuava- Leva um tempo para enxergar as pessoas como elas são de verdade. Você precisa ser você mesmo e ter paciência, e ela vai acabar vendo sua verdadeira essência.
Rugge: e se minha verdadeira essência não for boa para ela? E se eu fizer mal a ela?
Meme: que bobagem é essa?
Rugge: não sei se ainda sou capaz de amar...
Meme: o fato de estar preocupado com isso Ruggero, é um bom sinal. Quando a pessoa certa aparece todo mundo é capaz de amar. Você se apaixonou por aquela Candelária, lembra?- ouvir o nome dela era suficiente para revirar meu estômago.
Rugge: e também lembro como acabou.
Meme: sabe o que eu acho?
Rugge: o quê?
Meme: você se esforça demais para controlar tudo. Escolhe intencionalmente as pessoas erradas só para não se machucar, e agora está começando a acreditar que é incapaz de qualquer outra coisa. Está começando a acreditar em suas próprias mentiras.
Rugge: talvez.
Meme: acho que essa moça... como é o nome dela?
Rugge: Karol...
Meme: Karol... hum... bonito- fechei os olhos e girei o relógio no pulso.
Rugge: ela é.
Meme: enfim, acho que essa garota é um toque de despertar para você, uma lição sobre nem sempre termos o controle de tudo. Siga o fluxo. Deixe as coisas acontecerem por conta própria. Desista do controle. Mais importante, porém, pelo amor de Deus, não seja um babaca- não consegui segurar uma
gargalhada.
Rugge: vou lembrar disso, Meme- de repente, percebi que Karol não era a primeira mulher na minha vida a falar as coisas como elas são.

An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora