Rugge on·
Rugge: Rebecca!- era tão difícil assim encontrar pessoas competentes hoje em dia? Bati de novo no botão do interfone e gritei mais alto- Rebecca!- era impossível ela não ter me ouvido nos últimos dez minutos. Todo escritório devia ter me ouvido, apesar de a porta da minha sala estar fechada. Sem resposta fui procurar a secretária e a mesa estava vazia como se ninguém houvesse estado ali hoje, embora eu a tivesse visto ali sentada quando cheguei três horas antes. Resmungando e carregando uma pilha de papéis fui até a recepção- Cadê a Rebecca?
Recepcionista: quem?
Rugge: minha secretária, ela não está no lugar dela.
Recepcionista: ah, está falando da Eliza.
Rugge: tanto faz, onde ela está?
Recepcionista: ela se demitiu hoje de manhã sr. Pasquarelli.
Rugge: ela o quê?
Recepcionista: pediu demissão.
Rugge: meu Deus, não existe mais funcionários com quem se possa contar.- joguei os papéis que carregava em cima da mesa da recepcionista- Preciso de cinco cópias disso tudo.- um pouco mais tarde alguém bateu na porta da minha sala- Que é?- a recepcionista entrou com as cópias que eu havia pedido e vários jornais.
Recepcionista: onde deixo as cópias?- apontei com um dedo sem levantar os olhos do trabalho.
Rugge: em cima do armário.
Recepcionista: não pegou os jornais da sua caixa de correspondência essa semana, então eu os trouxe.
Rugge: não quero.- alguns minutos depois eu ainda não havia levantado a cabeça e percebi que a recepcionista continuava ali. Suspirando reconheci sua presença mesmo sem querer. Ela estava na frente da minha mesa olhando para mim, o que me de deixava sem alternativa- Que foi?
Recepcionista: Ava, meu nome é Ava.Rugge: eu sei.
Ava: posso dizer uma coisa sr. Pasquarelli?- joguei a caneta em cima da mesa.
Rugge: já me interrompeu, fala logo o que tem para falar e acaba com isso- ela assentiu.
Ava: trabalho aqui há dois anos- sério?
Rugge: e...?
Ava: sabe quantas secretárias teve nesse período?
Rugge: não faço ideia, mas como está me fazendo perder tempo imagino que tenha a intenção de me contar.
Ava: quarenta e duas.
Rugge: em uma cidade deste tamanho é bem impressionante a dificuldade para se encontrar bons assistentes.
Ava: sabe por que elas não ficam aqui?
Rugge: não sei se me interessa.
Ava: elas não ficam porque é complicado trabalhar para um tirano- levantei as sobrancelhas.
Rugge: é mesmo Ava?
Ava: é sim, sr. Pasquarelli.
Rugge: e por que você continua aqui? Acabou de dizer que trabalha para mim há dois anos- ela deu de ombros.
Ava: meu pai era igual ao senhor, além do mais não interagimos muito, porque fico o dia todo na recepção. Na maior parte dos dias o senhor passa por mim sem nem perceber a minha existência, o que por mim está ótimo.
Rugge: e está dizendo tudo isso por algum motivo? Está tentando encerrar seu período de dois anos me aturando? Porque em dez segundos vai conseguir.
Ava: não senhor. O que quero dizer é que... bem... há alguns meses o senhor começou a mudar. Eliza, sua secretária ficou aqui por mais de seis semanas e parecia gostar do emprego.- fiquei olhando para ela sem dizer nada forçando-a a continuar- Até alguns dias atrás quando o sr. Pasquarelli Furioso voltou. Não sei o que aconteceu, mas o que quer que tenha sido sinto muito e espero que o sr. Pasquarelli Legal volte bem depressa- sr. Pasquarelli Legal? Esse era o babaca em quem as pessoas pisavam.
Rugge: já terminou Ava?
Ava: sim, desculpe se o aborreci, só queria dizer que parecia feliz e agora não parece mais- peguei a caneta e voltei ao trabalho. Dessa vez Ava entendeu a mensagem e quando ela estava saindo perguntei:
Rugge: o que aconteceu com seu pai?
Ava: como?
Rugge: você disse que seu pai era igual a mim.
Ava: ah, ele conheceu minha madrasta, hoje é diferente.
Rugge: deixa os jornais em cima do armário e cuidado para porta não bater na sua bunda quando sair.
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Rugge on·
Peguei uma bebida, olhei pela janela do escritório e já estava escuro. Nos últimos três dias tinha saído de casa antes do nascer do sol e voltando no meio da noite. Estava exausto e esse cansaço não tinha nada a ver com falta de sono. A raiva que carregava era fisicamente esgotante e o sangue fervia nas veias. Eu me sentia atormentado, rejeitado, traído e cheio de raiva. A dor espremia o músculo frio que havia substituído o coração quente em meu peito, um coração que havia começado a descongelar depois que conheci Karol.
Havia sido traído antes. Porra, Candelária era minha noiva e Facundo meu melhor amigo. Quando a merda toda aconteceu perdi duas pessoas que foram a maior parte da minha vida durante anos, mas aquela perda foi diferente dessa. Agora não havia comparação. Isso era a total devastação, o tipo de perda que se sente quando alguém querido morre. Ainda não conseguia aceitar o que Karol tinha feito comigo... com nós dois. Nunca imaginei que ela fosse capaz de ser infiel, porque a mulher por quem me apaixonei era franca e honesta e isso me fazia questionar se realmente a conhecia.
O celular vibrou em meu bolso e como nos últimos três dias tive esperança de ver o nome de Karol brilhando na tela, mas não era ela, é claro. Ela tinha ido embora. Esvaziei o copo com um só gole e atendi.
Rugge: fala Candelária.
Cande: Ruggero, o que está acontecendo? Onde se meteu?
Rugge: estou ocupado.
Cande: Chloe está começando a fazer perguntas. Você cancelou seu encontro com elas duas noites seguidas e ela está muito vulnerável depois da morte de Facundo, precisa de consistência. Ela precisa de você Ruggero, já está apegada de algum jeito- fechei os olhos. A última coisa que queria era decepcionar Chloe. Tinha cancelado porque não queria que ela me visse desse jeito, infeliz e revoltado, mas agora eu era pai, tinha que pôr a cabeça no lugar pelo bem de minha filha.
Rugge: desculpa, não vai mais acontecer.
Cande: o que aconteceu?
Rugge: nada que seja da sua conta.
Cande: tem alguma coisa a ver com aquela sua namorada?- ignorei a pergunta.
Rugge: tudo bem se eu for tomar café da manhã e levar Chloe para a escola?
Cande: seria ótimo.- houve um instante de silêncio- Chloe não é a única que sente sua falta Ruggero. Gosto de ter você por perto.
Rugge: chego amanhã às sete Candelária- desliguei o celular e deixei o copo em cima do armário. A pilha de jornais que Ava havia trazido continuava lá, incluindo o City Post, jornal que publicava diariamente a coluna "Pergunte a Ida". Peguei o exemplar no topo da pilha e olhei para ele. Tinha evitado o jornal de propósito, porque sabia que ia ler a coluna "Pergunte a Ida" em busca de traços das palavras de Karol. A última coisa de que precisava era ler os conselhos dela para uma pobre alma sobre assuntos como amor ou traição, de jeito nenhum. Joguei o jornal em cima da pilha e decidi encerrar o expediente.
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Rugge on·
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An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]
RomansaQuero dizer antes de tudo que essa fanfic (o que é um livro na verdade) NÃO É MINHA! É apenas uma adaptação! Bom, escolhi fazer uma adaptação ao invés de uma fic autoral, pois ainda estou bolando ideias para próxima fic e visto que o final da última...