Kah on·
Eu me senti enjoada durante todo o trajeto até o hospital.
Pobre Ruggero.
A preocupação era evidente nos olhos que ele mantinha voltados para a frente. O motorista havia tirado o resto da noite de folga e Ruggero dirigia a BMW em direção a Westchester.
Toquei a perna dele.Kah: ela vai ficar bem.
Rugge: vai.- respondeu ele sem tirar os olhos da rua. Uma hora mais tarde paramos em frente ao Hospital Westchester. Ruggero segurou minha mão e corremos para a entrada- Minha avó está aqui. Meme Pasquarelli. Onde a encontro?- perguntou ele à recepcionista.
Recepcionista: quarto 257- respondeu ela. A viagem de elevador foi muito tensa. O cheiro de antisséptico do hospital piorava meu enjoo. Quando chegamos ao quarto vimos um médico e uma enfermeira ao lado da cama de Meme. Reconheci imediatamente a senhora de olhos azuis que tinha visto no celular de Ruggero. Meu coração se encheu de ternura quando vi os olhos dela se iluminarem ao vê-lo.
Meme: Ruggero. Quem avisou que eu estava aqui?
Rugge: Cambria me ligou. Você está bem?
Meme: não queria que ela te preocupasse.
Rugge: ela fez o que devia fazer. O que aconteceu?
Meme: não lembro. Escorreguei e caí, mas não sei como foi. Estão dizendo que fraturei a bacia- o médico estendeu a mão.
Médico: sr. Pasquarelli, sou o dr. Spork.
Rugge: doutor, podemos conversar lá fora por um momento?
Médico: é claro- Ruggero saiu do quarto com o médico e a enfermeira os seguiu. Eles me deixaram sozinha com Meme. Eu ainda olhava para a porta quando a voz dela me assustou.
Meme: você deve ser Karol- fiquei espantada por ela saber meu nome, por Ruggero ter falado de mim para a avó.
Kah: sim, sou eu. É um prazer conhecê-la Meme- sorri e sentei na cadeira ao lado da cama.
Meme: agora entendo por que ele está tão encantado. Você tem uma beleza morena natural que é rara de encontrar.
Kah: muito obrigada- a voz dela era cansada e fraca.
Meme: Ruggero é muito discreto. Talvez nunca mais me dê uma oportunidade de ficar a sós com você, por isso, me desculpe se estou despejando tudo de uma vez só- engoli em seco despreparada para um interrogatório.
Kah: tudo bem.
Meme: eu sei que às vezes meu neto pode ser um grande cretino- soltei o ar que estava segurando e ri.
Kah: é. Descobri isso bem depressa, logo que nos conhecemos.
Meme: e eu fiquei sabendo que você falou o que ele precisava ouvir.
Kah: falei.
Meme: que bom, mas sabe, no fundo ele não é nada disso.
Kah: estou começando a ver isso também.
Meme: quando a mãe dele morreu, ele internalizou tudo, se retraiu. Levou muito tempo para tentar voltar ao mundo e quando tentou saiu muito machucado.
Kah: Candelária?- ela parecia chocada.
Meme: ele falou sobre ela com você?
Kah: bom, eu sei uma parte da história. Sei que agora ela está com Facundo que era amigo dele.
Meme: sim. Foi uma situação muito ruim. Estragou todo o processo que ele havia feito depois da morte de Celia, minha filha. Francamente, não tinha certeza de que Ruggero voltaria a abrir o coração para alguém, mas sinto que pode estar acontecendo com você- ouvir isso fez meus batimentos cardíacos dispararem.
Kah: não sei o que dizer.
Meme: não precisa dizer nada. Só queria que soubesse que ele é muito mais do que mostra. Parece que você sabe mais do que eu esperava que soubesse, o que é bom. Só não deixe que ele a convença de que é indestrutível.
Kah: para dizer a verdade, tenho mais medo de ele me quebrar.
Meme: não tenha medo de se machucar, é muito melhor do que nunca sentir nada realmente intenso. Até a alegria temporária é melhor que nada. Você tem medo de se machucar como eu tenho medo de morrer, isso não significa que não vou viver cada dia plenamente- pus minha mão sobre a dela.
Kah: obrigada pelo conselho- Ruggero entrou nesse exato momento.
Rugge: ah não. Sinto cheiro de encrenca- o rosto de Meme se iluminou novamente.
Meme: apesar de achar que você não devia ter vindo até aqui, estou muito feliz por ter conhecido Karol. Espero não ter estragado a noite de vocês.
Kah: não. Íamos só... comer macarrão- ele olhou para mim por um instante e trocamos um olhar de cumplicidade.
Meme: o que o médico disse?- perguntou Meme.
Rugge: ele acha que vai ter que operar. Vão mantê-la aqui por uns dois dias, depois vai ser transferida para um centro de reabilitação. Vou pedir para Cambria garantir que seja levada para o melhor de todos.
Meme: não quero que se preocupe comigo.
Rugge: você podia ter batido a cabeça. Não lembra nem como aconteceu, é claro que vou me preocupar. Fico feliz por não ter sido pior Meme.
Kah: eu também.- concordei. Passamos mais uma hora com Meme, depois voltamos para a cidade. Ruggero pôs música clássica para tocar e dirigiu em silêncio. Quando finalmente entramos em Manhattan fui a primeira a falar- Você está bem?
Rugge: é... estou. É só que...
Kah: o quê?
Rugge: hoje mais que nunca percebi que ela é toda a família que tenho. Minha mãe era filha única, minha avó é literalmente tudo. Quando ela morrer não vou ter mais ninguém. Não dá para não ficar triste com essa ideia.
Kah: um dia você vai ter sua família- ele me pegou desprevenida com a pergunta logo após.
Rugge: quer ter filhos Karol?- respondi com honestidade.
Kah: não sei.
Rugge: não sabe?
Kah: não posso dizer que quero com toda certeza. Espero ter certeza quando tiver que tomar uma decisão.
Rugge: a dúvida tem a ver com a situação com seu pai?
Kah: em parte sim, mas nunca analisei muito essa situação. Só não tenho certeza de que a maternidade seja para mim.- ele ficou pensativo. Talvez não fosse essa resposta que queria ouvir, mas eu não queria mentir para ele. Era assim que me sentia desde sempre. Olhei para Ruggero- Está me levando para casa?- perguntei.
Rugge: não era o que eu pretendia.- vi a decepção passar por seu rosto- Por quê? Quer ir para casa?
Kah: só pensei que depois do que aconteceu com Meme...
Rugge: achou que eu ia querer ficar sozinho? Não, não quero ficar sozinho Karol. Estou cansado de ficar sozinho. Quero você na porra da minha cama esta noite. Não precisamos fazer nada. Eu... só quero dormir te abraçando. É isso que eu quero, se você topar- apesar do medo não havia nada que eu quisesse mais.
Kah: tudo bem. Eu topo- Ruggero nem teve tempo para preparar a massa. Como já era tarde paramos para pegar comida chinesa que levamos para o apartamento dele. Passamos as caixinhas de papelão entre nós enquanto comíamos sentados no chão da sala assistindo a General Hospital.
Rugge: acho que posso me acostumar com isso- disse ele antes de levar uma porção de macarrão à boca. Havia um charme juvenil e incomum no rosto dele nesse momento. Meu coração ficou apertado. Essa noite foi a primeira vez que realmente compreendi que as coisas estavam ficando sérias entre nós. Por mais que tivesse ficado abalada com a pergunta sobre se queria ter filhos percebi que não tinha volta. Eu precisava ver onde chegaríamos. Como disse Meme, era melhor sofrer do que nunca saber.
Limpamos a bagunça do jantar e Ruggero me levou para o quarto dele. Vi quando ele tirou o suéter e eu admirei a tatuagem que Agus tinha feito de um lado de seu tronco, lambi os lábios desejando desesperadamente sentir o sabor de sua pele. Ele foi ao banheiro, de onde voltou com uma calça preta de pijama e jogou uma camiseta azul para mim.
Rugge: quero que durma com a minha camiseta- ele observou atento enquanto eu desabotoava a blusa. Parecia estar com a boca cheia d'água e os olhos ficaram colados em meu peito quando vesti a camiseta e tirava meu sapato e minha calça. Fui para a enorme cama e meu corpo afundou imediatamente no colchão fofo de espuma anatômica. Era uma cama própria para um rei ou um Pasquarelli. Ele se deitou e me abraçou. Sua respiração foi ficando mais lenta e percebi que estava adormencendo tranquilo como um bebê e logo dormi também.
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Kah on·
Eram quatro da manhã quando alguma coisa me acordou. Ruggero estava virado para mim com os olhos abertos.
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An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]
RomansaQuero dizer antes de tudo que essa fanfic (o que é um livro na verdade) NÃO É MINHA! É apenas uma adaptação! Bom, escolhi fazer uma adaptação ao invés de uma fic autoral, pois ainda estou bolando ideias para próxima fic e visto que o final da última...