• Capítulo 23

242 23 11
                                    

Kah on·
A viagem de duas horas para East Hampton na manhã de sábado foi surpreendentemente tranquila, quase sem trânsito. Considerando que era o fim de semana do Memorial Day esperávamos condições piores. Ainda era início de estação, o tempo estava mais frio e talvez a maioria dos nova-iorquinos ainda não tivesse começado a sair da cidade nos fins de semana.
Ruggero tinha dado folga ao motorista, porque preferia dirigir até os Hamptons. Ele mantinha as janelas abertas e meu cabelo voava loucamente com o vento e nós dois usávamos óculos escuros. A vida era boa. Eu tinha jurado que não ia deixar a menstruação atrasada e o iminente encontro com Candelária estragarem essa viagem de fim de semana.
Ruggero havia reservado um quarto para nós em um pousada perto da casa de Candelária. Iríamos direto para festa, porque não queríamos nos atrasar. O banco de trás estava cheio de presentes embrulhados em papel colorido. Aparentemente Ruggero sentia necessidade de compensar todos os aniversários de Chloe que havia perdido. Ele tinha pedido à secretária para praticamente limpar a seção das meninas da loja de brinquedos Toys"R"Us.
Durante o trajeto Ruggero estava particularmente atento às minhas necessidades me perguntando se estava bem, se precisava de água, se estava com frio. Sabia que a pequena possibilidade de eu estar grávida era uma constante em sua cabeça e na minha também. Não fiquei surpresa com a maneira como ele recebeu a notícia sobre minha menstruação atrasada. Ruggero seria um pai maravilhoso, ele já estava provando isso. Estava em um momento da vida em que se sentia pronto para ter filhos. Eu por outro lado ainda não sabia nem se queria ser mãe, por isso a perspectiva de uma gravidez especialmente com a situação atual com Chloe era aterrorizante. Estávamos em momentos diferentes com relação a esse assunto. Durante o trajeto Ruggero olhou para mim.

Rugge: já esteve nos Hamptons?
Kah: nunca, só em Rockaway e Coney Island. Sempre quis ir lá, mas nunca tive uma oportunidade nem dinheiro para a estadia.
Rugge: acho que você vai adorar. Tem muitas galerias e lojas. Amanhã vamos conhecer algumas.
Kah: fico feliz só por sair da cidade, não importa o que vamos fazer.
Rugge: quero te levar em uma viagem de férias de verdade. Acho que as coisas devem se acalmar no trabalho nos próximos dois meses. Pense em onde gostaria de ir, St. Barts, Havaí, Europa, são muitas opções. Vou fretar um jatinho.
Kah: sei sr. Chique, mas pode escolher, porque nunca viajei para lugar nenhum. Não faz diferença de qualquer maneira, só quero estar com você- ele afagou minha mão.
Rugge: é a primeira vez que alguém me diz isso e eu acredito- às vezes era fácil esquecer quanto Ruggero era rico, porque ele relaxava quando estava comigo. Dizia que na maioria das noites preferia coisas como jantar comidas de delivery sentado no chão a ir a restaurantes chiques. Sempre pensava se era essa realmente sua preferência ou se ele só fazia aquilo para me agradar, ou para parecer mais simples do que já era. Não precisava de um jato fretado nem de férias caras. Na verdade preferia as coisas simples.
Quando saímos da estrada comecei a me sentir enjoada. O carro era como um pequeno oásis de onde teríamos que sair em breve.
Depois de vinte minutos de estradinhas cheias de curvas paramos na frente da propriedade de Candelária na orla dos Hamptons. A casa ampla de telhado de madeira era parcialmente escondida por uma abundante cerca viva.
Além do portão de ferro preto eu só conseguia ver como a casa era enorme com seus acabamentos brancos, as janelas em arco e a varanda da fazenda que a envolvia completamente. Se ela pudesse falar diria: "Você está oficialmente fora da sua praia vadia do Brooklyn".
Ruggero deixou os presentes no carro e disse que iria pegá-los mais tarde. Uma mulher com um uniforme cinza de governanta nos recebeu na entrada com mimosas. Aceitei uma, mas devolvi imediatamente lembrando que havia uma pequena chance de estar grávida. Droga, hoje eu precisava muito de álcool.
Xx: sigam em frente e atravessem a casa até as portas de correr para o pátio- disse ela. Sentindo meu nervosismo Ruggero tocou minhas costas e entramos juntos. O saguão havia praticamente vomitado hortênsias lilás. Candelária estava na cozinha branca e ampla fazendo ainda mais arranjos com as flores quando passamos por lá.
Cande: Ruggero, você veio!- ela sorriu. Limpando as mãos ela contornou o balcão de granito para nos cumprimentar. Parecia ter a intenção de abraçá-lo, mas se conteve provavelmente sentindo a apreensão de Ruggero, sem mencionar a mão que continuava em minhas costas. Seus olhos continuavam fixos nele- Chloe está lá fora brincando com algumas amigas. Os adultos estão por aí. Deve se lembrar de Bret Allandale. Ele veio com a esposa Laura, e Jim e Leslie Steinhouse também estão aqui- como ela fazia questão de me ignorar pigarrei e disse:
Kah: sua casa é muito bonita.
Cande: obrigada. Ruggero escolheu na verdade.- confusa olhei para ele esperando um esclarecimento, mas ele não falou nada, só me enlaçou com mais força. Ela continuou- Era aqui que passávamos o verão... antes de as coisas mudarem- Ruggero finalmente falou.
Rugge: a casa esteve no nosso nome por um tempo até eu ter a alegria de vender minha parte para Facundo.- ele olhou para as portas que se abriram para o pátio- Vamos ver a Chloe- Ruggero me levou para fora sem dizer mais nada a Candelária.
Havia uma piscina cercada no meio do terreno, à esquerda tinha uma quadra de tênis, à direita um grande gramado onde pelo menos uma dezena de meninas de vestido florido corriam. Um grande pula-pula inflável em forma de castelo de princesa havia sido montado ao lado de uma barraquinha de algodão-doce. Também tinha um salão de beleza improvisado ao ar livre onde as meninas podiam pentear o cabelo como princesas. Candelária havia caprichado.
Ruggero olhava para as crianças tentando encontrar Chloe.
Kah: então a casa era de vocês?
Rugge: foi, mas só por pouco tempo. Pus o imóvel no meu nome e no dela depois que ficamos noivos. Mais tarde quando descobri o que estava acontecendo não quis mais saber da casa. A marca de Candelária estava em tudo. Foi mais fácil vender minha parte para Facundo e encerrar a história.
Kah: mas você escolheu a casa. Deve ter sido difícil se desfazer dela.
Rugge: sim, adorava a proximidade com a água, a arquitetura também tem muito charme.
Kah: é verdade, você tem bom gosto- ele se inclinou e encostou o nariz na minha orelha.
Rugge: parece que sim- tinha que reconhecer, saber que esse foi o ninho de amor dele e Candelária durante um tempo me deixava ainda mais desconfortável por estar ali.
Olhei em volta e vi que todo mundo estava vestido de um jeito conservador. De camisa branca social Ruggero se adequava bem ao grupo.

An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora