Kah on·
O quarto de hotel ficou muito quieto depois que Ruggero saiu. Sozinha com meus pensamentos peguei e larguei o celular umas dez vez pelo menos. Para quem eu ia ligar? Não podia contar com ninguém para me dar uma opinião parcial. Minha situação era muito próxima da que viveram minha mãe e minha irmã. Tinha Lina, é claro, mas ela estava com o Agus desde os catorze anos e acreditava em finais de conto de fadas. A realidade dela não incluía uma criança pequena, uma ex maquiavélica ou um pai que a abandonou e uma mãe deprimida demais para sair de casas durante anos.
Sem ter a quem pedir conselhos fiz algo que nunca pensei que faria. Abri o laptop.Querida Ida,
Estou namorando há quase dois meses um homem por quem me apaixonei perdidamente. Há algumas semanas ele descobriu que tem uma filha com a ex-namorada. É uma história sórdida, mas resumindo, ela o traiu, mentiu sobre quem era o pai e o impediu de conhecer a filha por anos. É claro, a ex é bonita, inteligente e eles têm em comum a paixão pelo trabalho no ramo em que atuam. Na maioria das áreas os dois são muito mais compatíveis que ele e eu. Para piorar as coisas ela me disse que o quer de volta. O problema é que ele gosta de mim de verdade e não quero magoá-lo. Preciso de uma opinião imparcial. Devo me retirar discretamente e deixar que ele tenha a chance de recuperar o relacionamento com a ex para que eles possam ter uma família? Eu o amo o suficiente para fazer esse sacrifício- Theresa, Brooklyn.Kah on·
Escrever a carta teve um inesperado efeito catártico. Eu não esperava que Ida me desse pérolas de sabedoria. Normalmente os conselhos dela eram uma porcaria, mas escrever a carta me ajudou a colocar os sentimentos em seus devidos lugares. Também me ajudou a perceber que enquanto eu não decidisse sair de cena realmente Candelária não ia mais me deixar perturbada. No caminho para a casa da bruxa aumentei o som do carro e cantei bem alto. Nesse momento entendi porque os atletas sempre estavam de fone de ouvido antes de um evento. Precisavam do estímulo para impedir que dúvidas e receios os dominassem.
Entrei na propriedade, parei o carro e olhei para casa. Tudo era lindo nos Hamptons, mas meu lugar era no Brooklyn. Quando estava saindo do carro de Ruggero a porta da casa se abriu e uma mulher apareceu. Ela olhou para mim e um sorriso diabólico dominou seu rosto impecável.Alexia: Karola, que bom que veio- respondi com meu sorriso falso para combinar com o dela.
Kah: oi Ainsley, que ótimo te ver- Alexia parecia estar se divertindo. Ela acedeu um cigarro, o que me surpreendeu.
Alexia: quanto tempo faz? Sete, oito semanas? Ruggero costuma pôr o lixo para fora toda terça-feira.
Kah: é como dizem por aí: o que é lixo para alguns é tesouro para outros.- ela deu uma longa tragada e soltou a fumaça em forma de círculos. Não via alguém fazer isso desde que meu tio Guido parou de fumar seu Lucky Strike sem filtro lá na década de noventa- Fumar dá câncer.- comentei e me aproximei para sussurrar- E rugas- ela deu mais duas tragadas e apagou o cigarro em um vaso enorme.
Alexia: ele vai acabar se cansando de você e recuperando o bom senso. Um belo boquete ou seja lá qual for o serviço que você está prestando sempre acaba perdendo a graça.
Kah: eu faria essa pergunta ao seu marido, mas você tem o nariz tão empinado que o coitado não deve saber o que é uma boa chupada há muitos anos.- o interior da casa era silencioso, exceto pelo ruído dos saltos de Alexia- Cadê todo mundo?- ela se serviu de uma xícara de café e é claro que não ofereceu outra à convidada. Olhando para mim por cima da borda da xícara sorriu com sarcasmo e disse:
Alexia: está falando da família feliz?
Kah: estou falando de Ruggero e Chloe.
Alexia: mamãe e papai daquela bela criança estão na praia acompanhando a filha no primeiro mergulho da estação.
Kah: que legal.
Alexia: quando Ruggero e Candelária compraram esta casa eles viviam transando no mar. Pensando bem, a filha deles pode ter sido concebida na água- essa bruxa era osso duro de roer. Repeti mais um que legal fazendo um grande esforço para fingir que ela não estava me atingindo, mas a verdade era que não conseguia evitar o ciúme quando pensava em Ruggero e Candelária juntos. Era evidente que eles tiveram um relacionamento sexual, eu só não precisava visualizar como devia ter sido.
Fui até a porta que se abria para o pátio e olhei para a praia lá embaixo. Ruggero e Candelária estavam a uns cem metros de distância de mim, os dois se despiam e Chloe pulava de alegria entre eles. Era tremendamente doloroso ver o homem que eu amava se divertindo na praia com outra mulher. Quando os dois estavam só de roupa de banho vi Chloe segurar a mão de cada um deles e os três correrem para as ondas como se tudo acontecesse em câmera lenta. Retrato de um dia normal de Norman Rockwell, estrelando: Barbie e Ken. A imagem me fez sentir como se meu peito fosse esmagado. Alexia se aproximou de mim e espiou a cena por cima do meu ombro.
Alexia: que família feliz eles poderiam ser. Olha o sorriso no rosto de Ruggero.- Ruggero estava sorrindo, estava rindo e brincando na água com Chloe e Candelária, ele parecia contente de verdade. Alexia bebeu seu café- Destruidora de lares- abri a porta de vidro e saí. Quando virei para fechar a porta Alexia sorria vitoriosa. Ela não se moveu quando terminei de fechá-la em sua cara.
[...]
Kah on·
No caminho de volta para casa Ruggero segurava minha mão enquanto dirigia.Rugge: como se sente?
Kah: melhor.
Rugge: obrigado por ter ido comigo, sei que não foi fácil para você.
Kah: fico feliz por ter conseguido passar um tempo com sua filha. Ela é uma menina maravilhosa- Ruggero se iluminou.
Rugge: ela é, não é?
Kah: já conversou com Candelária sobre como vão contar a ela que você é o pai?
Rugge: Candelária acha melhor não falar nada tão cedo. Ela diz que devemos continuar convivendo para que quando finalmente contarmos ela já se sinta confortável comigo, e sugeriu que eu vá jantar lá de novo na semana que vem- é claro que sim.
Kah: é uma boa ideia- nossa conversa nunca foi tão truncada. Eu tinha certeza de que nós dois sentíamos, mas nenhum dos dois sabia como consertar, mas Ruggero continuava tentando.
Rugge: e aí, o que achou dos Hamptons?
Kah: quer que eu seja honesta?
Rugge: é claro que sim.
Kah: a paisagem é bonita. O mar, as casas, todos os barcos na marina, mas não é um lugar onde queira passar meus verões. As pessoas são muito... homogêneas...
Rugge: boa descrição. Também nunca foi meu lugar favorito. Na verdade, é muito diferente fora da temporada. Sempre preferi ir para lá em outubro ou novembro. Ainda tem muitos agricultores e pescadores morando lá. A cidade é muito diferente quando estão só os moradores.
Kah: se não é seu lugar favorito por que comprou a casa?
Rugge: Candelária queria, e para ser honesto, na época o símbolo de status de ter uma casa nos Hamptons pareceu importante.
Kah: não parece mais- Ruggero afagou minha mão.
Rugge: minhas prioridades mudaram.
Kah: se fosse comprar uma casa de verão agora, onde seria?- ele respondeu imediatamente.
Rugge: Brooklyn- dei risada.
Kah: quer passar o verão no Brooklyn?
Rugge: quero passar o verão dentro de você. Onde, não tem mais importância.
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An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]
RomanceQuero dizer antes de tudo que essa fanfic (o que é um livro na verdade) NÃO É MINHA! É apenas uma adaptação! Bom, escolhi fazer uma adaptação ao invés de uma fic autoral, pois ainda estou bolando ideias para próxima fic e visto que o final da última...