• Capítulo 6

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Rugge on·
Passei a manhã toda de mau humor. Pensando bem, a raiva começou a aparecer em algum momento da noite anterior. Mais ou menos na hora em que uma mulher com corpo de diabo e rosto de anjo me disse que preferia continuar no encontro com um cretino que a levou a um funeral a aceitar minha carona. Se não tivesse reunião hoje cedo de novo teria entrado naquele trem e contado a ela quem eu era. Olhando de novo para a foto dos seios deliciosos no meu celular percebi exatamente quem eu era... ultimamente, um stalker, e isso me enfureceu ainda mais. Que se danem ela e o encontro.

Rugge: Rebecca!- apertei o botão do interfone e esperei minha secretária responder. Nada- Rebecca!- na segunda vez berrei tão alto que o interfone nem foi necessário. Todo o maldito escritório deve ter me ouvido. Nada de novo. Joguei uma pasta em cima da mesa e saí da sala para ir falar com minha secretária. Tinha uma ruiva na mesa dela- Quem é você?
Xx: meu nome é Lynn. Sou sua secretária há dois dias- ela franziu a testa como se eu tivesse que saber do que ela estava falando.
Rugge: o que aconteceu com a Rebecca?
Lynn: não sei, sr. Pasquarelli. Quer que eu descubra?
Rugge: não. Quero que vá buscar o almoço para mim. Peito de peru no pão integral levemente torrado e uma fatia de queijo suíço. Não duas. Só uma. Café. Puro.
Lynn: ok.
Rugge: a recepcionista cuida do dinheiro para essas coisas. Fala com ela.- ela sorriu para mim, mas não se mexeu- O que está esperando? Vai.
Lynn: ah, quer que eu vá agora?- rosnei e voltei para o escritório.
No começo da tarde meu celular vibrou e vi na tela uma foto nova das pernas de Karol. Ela nunca tinha tomado a iniciativa de mandar mensagens.
Que porra.
Essa mulher ia acabar comigo. Eu precisava convencê-la a me encontrar.
Rugge: mostra mais.
Kah: é só isso.
Rugge: que provocadora. Abre as pernas para mim.
Kah: de jeito nenhum.
Rugge: de repente virou moralista?
Kah: tenho meus limites e mostrar o que tenho entre as pernas é um limite firme, com toda certeza.
Rugge: e não há limite para quando isso me deixaria DURO. Na verdade, imaginar é suficiente para me deixar ereto.
Kah: pervertido. Não está trabalhando?
Rugge: você sabe que sim. Por que me mandou uma foto das suas pernas então? Está me provocando.
Kah: não precisa de muito.
Rugge: não vai me mostrar sua buceta, pelo menos me deixa ouvir sua voz.
Kah: você já ouviu minha voz.
Rugge: sim, mas você estava sendo agressiva. Quero ouvir como é sua voz quando está molhada e cheia de tesão.
Kah: e como sabe que estou molhada e cheia de tesão?
Rugge: posso sentir.
Kah: fala sério...
Rugge: é.- meu celular começou a vibrar. Karol. Adotei um tom intencionalmente baixo e sedutor- Oi baby.
Kah: não vem com essa de baby- o som da voz dela foi o bastante para fazer meu corpo vibrar com a empolgação. Minha voz tinha um tom tenso.
Rugge: quero te ver. Preciso saber como você é- meu Deus, preciso te tocar.
Kah: acho que não é uma boa ideia.
Rugge: por que não?
Kah: acho que não combinamos. Não sou seu tipo- levantei uma sobrancelha.
Rugge: e qual é meu tipo, exatamente?- perguntei.
Kah: não sei... uma vadia esnobe, rica? Alguém que complete um engomadinho metido como você- deixei escapar uma gargalhada profunda.
Rugge: engomadinho metido, é?
Kah: sim. Você é arrogante, acha que pode passar por cima das pessoas.
Rugge: bom, só tem um motivo para eu querer estar em cima de você agora, Karol. Bem em cima de você.
Kah: como se tornou esse tremendo babaca, aliás?
Rugge: por que todo mundo é como é? Não nascemos desse jeito. Isso é aprendido.
Kah: então, a cretinice é uma arte que você domina?
Rugge: sou um cretino porque...- hesito- Porque não quero lidar com a merda que sempre aparece quando baixo a guarda.
Kah: o que aconteceu para fazer você manter a guarda?
Rugge: qual é a das perguntas profundas, Karol? Não me abro com mulheres com quem ainda nem transei.
Kah: se a gente transar vai me contar todos os seus segredos?- pensar em estar com ela foi suficiente para fazer meu pau acordar.
Rugge: eu conto tudo que quiser, se sua oferta neste momento for sexo.
Kah: exatamente. É exatamente isso que estou dizendo!- embora estivéssemos discutindo sentia o humor na voz dela. Sabia que estava sorrindo, como eu, e que gostava da nossa conversa.
Pigarreei.
Rugge: tudo bem, vamos jogar do seu jeito. Como se transformou nessa metralhadora de sarcasmo?
Kah: sempre fui assim- ri baixinho. Por alguma razão acreditava nisso. Ela parecia ser naturalmente impulsiva, não era uma encenação. Essa era ela de verdade.
Rugge: em que você trabalha, Karol?
Kah: o que acha?
Rugge: essa é uma pergunta difícil.- cocei o queixo e apoiei as pernas na mesa- Com base no pouco que sei sobre você... um par incrível de seios e outro de pernas... talvez seja dançarina em alguma boate escura e enfumaçada.
Kah: bom, você acertou na parte do escuro e enfumaçado. Meu escritório é um horror e trabalho para alguém que gosta de se trancar na sala para fumar.
Rugge: espero que ele não se tranque com você- caramba. Vai com calma, ela vai achar que você é um maluco ciumento.
Kah: não é ele, é ela. Ela fuma trancada na sala dela. Trabalho para uma coluna de conselhos. É um trabalho horroroso, mas paga as contas.
Rugge: acho que deve ser bem interessante. Que coluna é?
Kah: não sei se devo contar. Você pode tentar me procurar no trabalho.
Rugge: não seria irônico? Esqueceu como nos conhecemos?
Kah: é "Pergunte a Ida".
Rugge: tenho a sensação de que conheço esse nome.
Kah: a coluna existe há anos- é verdade. Minha mãe a lia.
Rugge: minha mãe lia essa coluna. O que faz lá?
Kah: faço a triagem das cartas que chegam e respondo a algumas no site, e sou assistente da Ida- eu ri.
Rugge: quer dizer que você aconselha as pessoas?
Kah: é difícil acreditar? Por quê?
Rugge: preciso de uns conselhos.
Kah: tudo bem...
Rugge: como faço para te convencer a encontrar comigo?
Kah: vai por mim. Às vezes é melhor manter o mistério. Acho que não dá para sair nada de bom nesse encontro.
Rugge: por quê?
Kah: você só quer me pegar- tive que parar e pensar se ela estava certa. A atração sexual era óbvia, mas no fundo eu sabia que a conexão com ela ia além disso, só não conseguia entender de onde ela vinha e o que significava. Karol tinha acendido em mim um fogo que eu não conseguia apagar. Ter essa mulher nua embaixo de mim era um objetivo, com toda certeza, mas não era só isso. Eu precisava entender o que era.
Rugge: não quero ser babaca, mas tenho sexo sempre que quero, quase com todo mundo. Não tem a ver com isso.
Kah: tem a ver com o que, então?
Rugge: não sei bem.- respondi com sinceridade- Mas quero descobrir- ela ficou em silêncio por alguns segundos, depois tive a impressão de que recuava.
Kah: preciso desligar.
Rugge: foi alguma coisa que eu disse?
Kah: só preciso desligar.
Rugge: tudo bem. Quando a gente se fala de novo?
Kah: não sei- e desligou. Karol Itzitery desligou na minha cara. Senti o impulso de ir atrás dela me dominar.
Segura a onda, Ruggero.
Meu estômago roncou e me dei conta de que aquela incompetente da Lynn não havia voltado com meu sanduíche e o café.
Fui até a recepção.
Rugge: onde se meteu minha secretária? Ela já devia ter voltado com meu almoço.
Xx: lamento, mas ela avisou à agência que não vai voltar- que maravilha. Eu estava com dor de cabeça por falta de cafeína. Voltei à minha sala e peguei o paletó, depois saí para ir à lanchonete na mesma rua. Abri o laptop em cima da mesa e tive uma ideia brilhante. Acessei o site "Pergunte a Ida" e decidi mandar uma pergunta na esperança de ela ser lida por Karol. Comecei a digitar.

An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora