Rugge on·
Meu celular vibrou quando estava saindo do escritório.
Rugge: oi Candelária.
Cande: por que não respondeu às minhas mensagens?
Rugge: dia cheio.
Cande: queria saber se pode passar aqui depois do trabalho, precisamos conversar sobre o que aconteceu entre nós.
Rugge: já estou indo ver Chloe.
Cande: certo, estamos te esperando- a última coisa que queria era falar sobre o que aconteceu há algumas noites com Candelária. Estava atolado até o pescoço de trabalho depois de semanas de preocupação e não fui ver Chloe nas duas últimas noites porque saí tarde do escritório depois da hora de minha filha ir para cama. Isso não podia acontecer de novo. O plano era jantar com Chloe e voltar ao escritório.
A chuva lavava as janelas do carro. Quase todas as noites pegava o celular para mandar uma mensagem a Karol instintivamente esquecendo por uma fração de segundo que tínhamos terminado, então aquela horrível acidez que a realidade depositava no fundo do meu estômago se instalava. Era revoltante ter confiado tanto nela. Depois do que aconteceu com Candelária e Facundo eu era a pessoa mais desconfiada do mundo provavelmente, mas teria confiado minha vida a Karol. Como não percebi a mudança? Nada fazia sentido.
Rugge: não sei quanto tempo vou passar aqui Louis. Eu mando uma mensagem quando precisar do carro para voltar ao escritório- avisei quando paramos na frente da casa de Candelária. Ela me cumprimentou, pegou meu paletó molhado, o pendurou e ficou ali sem jeito mexendo no colar de pérolas.
Cande: sobre a outra noite, eu...
Rugge: dá para deixar esse assunto para mais tarde depois que eu ver minha filha?
Cande: tudo bem.- ela abaixou a cabeça- Chloe está no quarto dela- ela brincava com a casa de boneca.
Chloe: Biscoito Ruggero! Que saudade- abaixei para abraçá-la.
Rugge: também senti saudade de você bonequinha esperta.
Chloe: ainda está triste?
Rugge: como assim?
Chloe: por causa da Karol?
Rugge: por que está perguntando isso?
Chloe: seu sorriso não é grandão como costuma ser- ela era muito observadora e aparentemente não puxou o pai sem noção. A última coisa que queria era que ela pensasse que tinha algum problema sério comigo ou que a culpa era dela. Tentei pensar em um jeito de explicar a situação e decidi que a melhor coisa era ser honesto.
Rugge: é, estou um pouco triste Chloe, por causa da Karol, mas não foi por isso que não vim nos últimos dias. Saí do trabalho muito tarde, mas não vou mais passar dois dias sem vir te ver ok?
Chloe: meu pai também trabalhava até tarde- pensei em quanto isso tinha a ver realmente com trabalho ou se Facundo chegava tarde porque estava traindo Candelária.
Rugge: é mesmo?
Chloe: quando vai parar de ficar triste?
Rugge: não sei, mas sabe de uma coisa? Já me sinto melhor aqui com você.
Chloe: foi assim que me senti quando te conheci. Depois que meu pai morreu você me fez sentir melhor- eu SOU seu pai e te amo muito.
Abracei Chloe e beijei sua testa.
Rugge: é bom saber que pude fazer isso por você- nós brincamos um pouco com a casa de boneca até Candelária entrar no quarto e se ajoelhar perto de nós. Sentia seu olhar em mim, a ansiedade para conversar. Depois da outra noite eu estava apreensivo com a possibilidade de ficar sozinho com ela outra vez, mesmo que com Chloe em casa pouca coisa pudesse acontecer.
Cande: o jantar vai ficar pronto em cinco minutos- avisou Candelária antes de sair do quarto. Ela preparou pizza caseira de prosciutto e figo no pão sírio para nós e uma simples de queijo para Chole. Insistia em encher minha taça com cabernet e eu deixava sabendo que isso ajudaria a reduzir a tensão da conversa que teríamos mais tarde. Depois que pus Chloe na cama e li uma história para ela encontrei Candelária esperando na cozinha bebendo vinho e antes que ela pudesse abrir a boca eu disse:
Rugge: não acho que seja necessário falar sobre isso.
Cande: preciso pedir desculpa de novo. Forcei a barra, não sei o que deu em mim. Quando vi você deitado tão à vontade em minha casa foi como se tudo voltasse e tínhamos bebido demais...
Rugge: não foi o álcool e você sabe disso. Faz um bom tempo que tem deixado suas intenções bem claras.
Cande: é verdade, com ou sem álcool eu te quero de volta Ruggero. Faço o que for preciso para ter uma chance de te fazer feliz de novo.
Rugge: achou que me mostrar o meio das pernas ia me fazer esquecer tudo o que você fez?- quando Candelária tirou a roupa naquela noite pulei do sofá e exigi que ela se vestisse. Ela ficou chocada com a rejeição- Pensou que eu ia ceder só por que tinha terminado com a Karol? O que aconteceu com a Karol não muda nada, nunca mais vou conseguir confiar em você Candelária, e mesmo achando que você seria ótima para uma rapidinha da vingança não vou trepar com a mãe da minha filha sabendo que não tenho a menor intenção de voltar para ela.
Cande: não está raciocinando direito Ruggero. O que temos agora é uma chance de mudar a vida da nossa filha. Não vou conseguir te esperar para sempre.
Rugge: vou te poupar do esforço então. Desiste de esperar.
Cande: não sabe o que está dizendo. Como pode fechar a porta para essa possibilidade assim tão fácil?
Rugge: você fechou essa porta Candelária, e jogou a chave fora.
Cande: eu errei!
Rugge: shhh, vai acordar a menina.- fechei os olhos para me controlar, respirei fundo e continuei- Chloe sempre vai ter o meu amor. Você como mãe dela sempre vai ter o meu respeito, mas perdeu a chance de um futuro comigo no dia em que decidiu trair minha confiança. Quero que minha filha se respeite e preciso dar o exemplo mostrando para ela o respeito que tenho por mim.- não tolerava mais essa conversa, fui pegar meu paletó onde estava pendurado e o vesti- Meu motorista está lá fora, preciso voltar ao escritório. Obrigado pelo jantar, eu volto amanhã à noite.
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Rugge on·
O escritório estava totalmente escuro, exceto por uma luminária verde acesa em cima da mesa. Mexendo na pulseira do relógio eu só conseguia pensar na porcaria da pilha de jornais do outro lado da sala.
Durante a última semana tinha pensado várias vezes em ler todas as respostas da coluna "Pergunte a Ida" em busca de alguma pista do estado mental de Karol. Depois de confessar minha tristeza a Chloe e discutir com Candelária nesta noite eu me sentia mais fraco.
Levei a pilha de jornais para minha mesa e como um lunático examinei cada edição procurando a coluna. Depois de dissecar completamente mais de dez respostas não tinha encontrado nada incomum, até chegar à resposta número vinte.
Uma mulher havia escrito a respeito de um dilema sobre se devia ou não terminar com o namorado por quem era muito apaixonada para que ele pudesse voltar para a mãe de sua filha pelo bem da criança. Olhei a data, pouco antes de termos terminado. Os outros detalhes descreviam exatamente o que havia acontecido entre mim e Candelária.
Meu coração disparou no peito.
O nome: Theresa, Brooklyn.
Theresa era o nome da madrasta dela.
Se eu tinha alguma dúvida de que Karol tinha mandado aquela pergunta a resposta a eliminava completamente. O conselho de Ida era terminar o namoro e ela sugeria que "Theresa" desse a impressão de que o estava traindo, porque assim o tonto a esqueceria com mais facilidade.
"Mais razão que coração", Ida havia decretado.
Joguei o jornal do outro lado da sala e tudo começava a fazer sentido.
Karol mentiu.
Ela não estava saindo com aquele idiota, estava só fingindo. A raiva provocada pela resposta de Ida se transformou em euforia. Nunca fiquei mais feliz por descobrir que alguém tinha mentido para mim.
Li de novo o começo da pergunta.
"Estou namorando há quase dois meses um homem por quem me apaixonei perdidamente."
Ela se apaixonou por mim.
Perdidamente.
Congelei, fiquei paralisado pelo choque, depois senti um alívio intenso e então uma urgência incontrolável de ir atrás dela.
Eu também me apaixonei perdidamente, baby. Completamente.
Peguei o celular e liguei para ela, mas a chamada foi para a caixa de mensagens depois de vários toques. Liguei de novo e deu a mesma coisa, então mandei uma mensagem.
Rugge: onde você está?- cinco minutos e ainda não tinha recebido nenhuma resposta, então mandei outra mensagem- Preciso te ver, está em casa?- incapaz de continuar esperando peguei o paletó e liguei para o motorista ir me buscar. Quando chegamos ao prédio de Karol no Brooklyn ninguém atendeu à campainha e olhei para a janela lá em cima e vi que as luzes estavam apagadas.
Onde ela se meteu?
Louis: para onde vamos agora senhor?- perguntou Louis quando voltei ao carro.
Rugge: Oitava Avenida, para o estudo de tatuagem Agustín's- quando chegamos disse a Louis para me esperar ali fora, pois ia precisar do carro por perto assim que fizesse o amigo de Karol me dizer onde ela estava.
Agus soprou a fumaça do cigarro.
Agus: Engomadinho! O que está fazendo aqui? É tarde, já vou fechar.
Rugge: cadê ela?
Agus: não está aqui.
Rugge: onde?- repeti mais alto.
Agus: ela foi para a Califórnia com Lina.
Rugge: Califórnia?
Agus: é, viagem de amigas, foram só as duas.
Rugge: onde elas se hospedaram?
Agus: não vou contar onde elas estão! Você é a porra do ex maluco!
Rugge: preciso ligar para o hotel, ela não atende o celular. Pensando bem liga para a Lina, diz para ela que preciso falar com Karol.
Agus: não- cheguei mais perto dele, bem perto de seu rosto.
Rugge: dá logo essa informação Agus, você não tem ideia do que sou capaz de fazer no estado em que estou.
Agus: ah, sei o que é capaz de fazer menino bonito. Você deslocou o queixo do meu primo Marco- Agus percebeu que tinha escorregado. Seu primo. Ele havia participado da armação.
Rugge: ele não é namorado dela não é?
Agus: eu não disse isso.
Rugge: eu li a porra da coluna da Ida, Agus, sei que ela inventou tudo. Não precisa admitir, eu sei a verdade, só precisa me dizer onde ela está.
Agus: qual é, vai fretar um jatinho para ir à Califórnia? Usa seu dinheiro para contratar um detetive particular, não vou falar onde ela está- tive uma ideia quando me dirigi a uma caixa escondida no canto do estúdio.
Rugge: o que é isso aqui? Seu estoque de erva? Aposto que a polícia vai adorar saber disso.
Agus: não teria coragem...
Rugge: faço qualquer coisa para encontrar Karol agora. Minha cara é de quem está brincando?
Agus: Jesus, que olhar demoníaco.
Rugge: fala onde ela está Agus- furioso ele rolou a tela do celular e anotou o endereço em um pedaço de papel que jogou para mim.
Agus: pronto, é o apartamento do irmão da Lina em Hermosa Beach- guardei o papel no bolso da camisa e me dirigi à porta.
Rugge: obrigado e sem ressentimentos, eu não ia te entregar. Karol nunca mais ia falar comigo e não posso correr esse risco, porque amo aquela mulher.
Agus: conversa mole SGB.- pela primeira vez Agus parecia acreditar em mim. Ele balançou a cabeça e a boca se distendeu num esboço de sorriso- É melhor não machucar aquela garota Engomadinho.
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Rugge on·
Peguei o primeiro voo comercial para Los Angeles e quando cheguei ao apartamento não tinha ninguém lá. O telefone de Karol continuava mandando as chamadas para a caixa postal e o de Lina também. Pelo menos sabia que ela voltaria. De acordo com Agus as duas ainda ficariam alguns dias aqui.
Fui até a praia e decidi que precisava avisar Karol que estava aqui. Comecei a mandar uma série de mensagens que continham todo meu coração, embora ela nem tivesse respondido às anteriores.
Eu não estava prestando atenção e acabei tropeçando em um homem musculoso que passeava com um bode malhado.
Que porra é essa?Xx: olha por onde anda, cara- disse ele com sotaque australiano.
Rugge: desculpa, cara, minha cabeça está longe daqui.
Xx: está se sentindo bem?
Rugge: sim, estou procurando uma pessoa- ele assentiu como se me entendesse.
Xx: uma mulher?
Rugge: como percebeu?
Xx: lembrei de mim alguns anos atrás andando por essa praia e sofrendo por minha Aubrey sem notar as pessoas à minha volta, se tiver que ser tudo vai dar certo.
Rugge: por que está... levando um bode para passear?
Xx: é uma lontra história, se quiser passear com a gente eu conto. Vai te distrair um pouco até encontrar esse mulher- o nome dele era Chance Bateman. Ele havia sido um astro do futebol australiano e agora morava em Hermosa Beach. Chance me contou como conheceu a esposa Aubrey em um posto de combustível em Nebraska. Eles fizeram uma viagem radical juntos, mas acabaram se separando algum tempo depois, mas tudo se acertou no final.
Contei minha história para ele e a grande semelhança era que nós dois conhecemos as mulheres em lugares improváveis.
Chance: pensa nisso cara, coincidências não existem. Um australiano e uma princesa esnobe de Chicago se encontraram no meio de Nebraska, mas ela era minha alma gêmea e você disse que normalmente não pega o trem, mas por algum motivo naquela manhã você pegou. Precisa confiar no destino, está tudo escrito. Não importa se vai ser hoje ou daqui a dois anos, se tiver que ser será, de um jeito ou de outro.- Chance olhou para o celular- Tenho que ir. Você é um cara legal. Se tudo der certo com sua mulher passe lá em casa com ela antes de ir embora- esse homem devia ser uma das pessoas mais carismáticas que já conheci.
Sorri pela primeira vez no que parecia ser uma eternidade.
Rugge: talvez apareça- ele deu um tapinha no meu ombro.
Chance: boa sorte cara- como se também se despedisse o bode soltou um longo "bééé"- vi o homem se afastar com o animal e balancei a cabeça me divertindo com a cena. Mandei mais uma mensagem para Karol ainda sem saber se ela havia recebido alguma das anteriores.
Rugge: acabei de tropeçar em um homem passeando com um bode.
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An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]
Roman d'amourQuero dizer antes de tudo que essa fanfic (o que é um livro na verdade) NÃO É MINHA! É apenas uma adaptação! Bom, escolhi fazer uma adaptação ao invés de uma fic autoral, pois ainda estou bolando ideias para próxima fic e visto que o final da última...