• Capítulo 13

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Kah on·
A ansiedade que senti depois de falar com Ruggero na noite anterior me acompanhou no sono. Passei a noite inteira agitada virando de um lado para o outro. De manhã estava totalmente inquieta. Ruggero tinha dito que iria ao escritório trabalhar ontem à noite. Ele havia planejado incorporar a empresa de Facundo valendo-se de manobras comerciais perspicazes, mas não pretendia tirar proveito da morte do homem para conseguir o que queria, mas isso não impediria outros empreendedores. Os abutres, ele disse, entrariam em ação logo cedo, assim que a notícia começasse a circular. Ruggero impediria todos os outros de tirarem proveito e adiaria a incorporação que havia planejado. Fiquei decepcionada quando não o encontrei no nosso trem, embora não esperasse realmente vê-lo ali.
Kah: como você está?
Rugge: cansado. Ainda estou no escritório.
Kah: passou a noite aí?
Rugge: sim.
Kah: sinto muito. Isso deve ser difícil para você. Tem alguma coisa que eu possa fazer?
Rugge: só me espera, por favor, me espera. Vou ficar atolado por alguns dias- se eu não tinha entendido quanto Ruggero havia sido afetado pela notícia, a reposta dele deixou claro que estava muito perturbado. Ele não havia sugerido que eu engatinhasse para baixo da mesa dele ou abrisse as pernas quando perguntei se havia algo que eu pudesse fazer.
Kah: é claro- desci do metrô e comecei a rotina matinal parando no Anil, o food truck onde comprava café. Depois que fiz o pedido tive uma ideia.
Kah: pode fazer dois cafés, dois bagels com manteiga e dois sucos de laranja?- não era exatamente gourmet, mas eu me sentiria melhor fazendo alguma coisa por ele. O homem havia me seguido e mandado comida indiana porque pensou que eu gostasse, um bagel e um café eram um mínimo que eu podia fazer.
Enquanto voltava para estação liguei para Ida e deixei um recado avisando que chegaria atrasada, depois embarquei no trem A. Vinte minutos mais tarde eu chegava na Pasquarelli Financial Holdings. Saí do elevador no vigésimo andar e de repente, ao ver as letras douradas na porta do vidro fiquei nervosa. Tinha começado a me acostumar com o frio na barriga que me sentia perto de Ruggero, mas estar no território dele, na arena onde sabia que ele reinava com mão de ferro me deixava intimidade e odiava isso. Abri os ombros e me dirigi à recepção. Era a mesma jovem ruiva do dia em que trouxe o celular dele.
Recepcionista: pois não?
Kah: quero falar com Ruggero- ela me olhou de cima a baixo.
Recepcionista: Ruggero? Está falando do sr. Pasquarelli?
Kah: isso. Ruggero Pasquarelli.
Recepcionista: tem hora marcada?- essa merda de novo não.
Kah: não, mas ele vai me receber. Por favor, diga que Karol está aqui.
Recepcionista: o sr. Pasquarelli não quer ser interrompido.
Kah: olha só, sei que esse é seu trabalho, e considerando nossas interações imagino que seja boa no que faz. Parece ser muito competente para afastar as pessoas, mas pode acreditar, não vai ter problemas se for avisá-lo que estou aqui.
Recepcionista: lamento... ele foi bem claro...- ah, pelo amor de Deus.
Kah: eu transo com ele, entendeu? Vai avisar o Ruggero que estou aqui ou vou ter que passar por cima de você- a mulher piscou duas vezes.
Rececionista: como é que é?- me inclinei na direção dela.
Kah: transo com ele. Sabe como é, enfiar o...
Rugge: Karol?- a voz de Ruggero me impediu de continuar com a aula de anatomia. Ele vinha pelo corredor dando passos largos em minha direção. Virei e esperei em vez de ir encontrá-lo. Droga. Ele estava de óculos outra vez- Que surpresa boa.
Kah: acho que sua recepcionista pensa diferente- Ruggero levantou uma sobrancelha, ameaçou um sorriso divertido, depois olhou para funcionária novamente com a máscara de empresário.
Rugge: a srta. Itzitery não precisa marcar hora.- ele olhou para mim, depois para ela de novo- Nunca.- então ele segurou meu braço e me levou para o corredor de onde tinha saído. A mulher sentada atrás da mesa na antessala do escritório dele ficou em pé quando nos aproximamos- Cancele meu compromisso das nove Rebecca.
Xx: é Eliza.
Rugge: tanto faz- ele fechou a porta, me empurrou contra ela e me beijou. A sacola de papel pardo que continha os bagels caiu no chão e enterrei os dedos no cabelo dele. Foi um beijo longo e intenso com a língua dele fazendo aquela dança agressiva em torno da minha e o corpo musculoso me pressionando contra a porta. O desespero de seu desejo me inflamou instantaneamente. Ruggero levantou uma das minhas pernas permitindo acesso a maior pressão de seu corpo contra o meu no lugar certo. Ai, Deus.
Kah: Ruggero.- ele gemeu- Ruggero.- minha mão segurando o café começava a tremer- Vou derrubar os cafés.
Rugge: derruba- resmungou ele com os lábios nos meus, depois retomou a exploração com a língua.
Kah: Ruggero- minha risada invadiu sua boca e ele suspirou frustrado.
Rugge: preciso de você.
Kah: pode me deixar pôr os copos em algum lugar e dar uma olhada no seu escritório, talvez, antes de me agarrar?- ele encostou a testa na minha.
Rugge: está pedindo ou mandando?
Kah: considerando que tudo indica que a resposta vai ser não se eu pedir, estou mandando.- ele gemeu, mas recuou- Adoro o óculos, aliás. Não sei se disse isso na noite de festa do Agus.
Rugge: vou jogar fora as lentes de contato- aproximei-me da mesa e olhei de verdade o escritório pela primeira vez ao deixar os copos em cima dela. Janelas panorâmicas com vista para o skyline de Manhattan em duas paredes do escritório da esquina. Uma grande mesa de mogno em um canto de frente para uma das janelas. Não um, mas dois computadores lado a lado sobre a mesa. Em cima dela havia várias pastas espalhadas e vários documentos abertos.
Kah: seu escritório é bonito, mas parece que você está ocupado. Não vou demorar, só vim trazer café e um bagel.
Rugge: obrigado. Não precisava se incomodar.
Kah: não foi incômodo, eu quis vir.- olhei para ele. Ainda era lindo, mas estava cansado e estressado- Você parece exausto.
Rugge: vou sobreviver.- ele apontou uma saleta- Vem, vamos sentar. Toma café comigo. Não como nada desde ontem à noite- do outro lado do escritório havia um sofá de couro com duas poltronas diante dele e uma mesinha de tampo de vidro no meio de tudo. Ruggero sentou-se e eu tirei os bagels da sacola e os desembrulhei.
Kah: trouxe coisas que gosto de comer, porque não sabia do que você gosta.
Rugge: eu como o que você me der.
Kah: nesse caso...- um sorriso sacana surgiu no rosto dele.
Rugge: não pense que não vou jogar você em cima desse sofá e me deliciar até que todos os meus funcionários saibam que você é uma moça religiosa- enfiei um pedaço de pão na boca para disfarçar. Enquanto mastigava e engolia também aproveitei para controlar minha libido.
Kah: e aí, conseguiu afastar os homens maus?
Rugge: eu sou um dos homens maus Karol.
Kah: você entendeu. Conseguiu impedir as pessoas que iam tirar vantagem da situação?
Rugge: sim e não. É complicado. No nosso ramo existem muitas camadas de propriedade. Estou trabalhando nelas agora, mas tudo indica que Facundo havia instituído um veneno para impedir uma incorporação por agentes indesejados. Traduzindo, ele abriu uma brecha que permite que os atuais acionistas comprem cotas adicionais por um preço reduzido, o que dilui o valor das ações e torna a aquisição menos atraente para incorporadores prospectores.
Kah: um plano de fuga.
Rugge: exatamente, e teria dado certo se ele tivesse cedido esses direitos para uma corporação confiável.
Kah: e não foi o que ele fez pelo jeito- Ruggero balançou a cabeça.
Rugge: não.
Kah: parece complicado e sujo.
Rugge: e é.
Kah: como está lidando com as coisas que não têm a ver com os negócios?
Rugge: que coisas?
Kah: você perdeu um amigo.
Rugge: um ex-amigo- assenti.
Kah: um ex-amigo, mas ele deve ter sido alguém de quem gostou durante um tempo ou não teriam criado uma empresa juntos.
Rugge: durante um tempo sim, mas as coisas mudaram, como você sabe.
Kah: vi nos jornais hoje de manhã que foi infarto.
Rugge: sim, dentro do carro. Ele saiu da estrada e bateu em uma árvore. Estava morto quando a polícia chegou. Felizmente, não tinha mais ninguém no carro. Candelária disse que ele deveria ter levado a filha deles, mas a menina não se sentia bem e ficou em casa, caso contrário...- ele interpretou uma expressão- Falei com ela hoje cedo. Ela pediu ajuda com as questão da empresa, mas eu já estava cuidando disso.
Kah: não sabia que ainda eram amigos.
Rugge: não somos, foi uma ligação de negócios. Ela sabia que eu ajudaria e impedir que outras pessoas desvalorizem a empresa é benéfico para nós dois- assenti. Fazia sentido e era ridículo ter ciúme de uma mulher que havia perdido o marido no dia anterior.
Kah: e sua avó?
Rugge: ela pediu para Cambria me avisar que vai me tirar do testamento se eu não a tirar do hospital.
Kah: ah não.
Rugge: na verdade isso é bom. Significa que está voltando ao normal. Tenho medo de quando ela fica doce e obediente- o relacionamento com a avó se tornava rapidamente o que eu mais gostava nele. É possível saber muito sobre um homem observando como ele trata a matriarca da família.
Kah: ela continua no Hospital WestChester?
Rugge: foi transferida para o Hospital de Cirurgias Especiais.
Kah: fica na rua Setenta, não é?
Rugge: isso.
Kah: a poucos quarteirões do meu escritório. O que acha de eu ir vê-la na hora do almoço? Está atolado aqui, é evidente- Ruggero estudou meu rosto.
Rugge: seria ótimo. Obrigado.
Kah: de nada.
Rugge: vai ficar comigo hoje à noite?
Kah: na sua casa?
Rugge: sim. O motorista pode ir te buscar depois do trabalho e te levar ao Brooklyn para pegar suas coisas, depois ele te leva até minha casa. Eu te encontro lá quando terminar aqui. O porteiro deixa você entrar se eu ainda não estiver lá.
Kah: tudo bem.- conversamos um pouco enquanto comíamos. Depois que terminamos recolhi as embalagens vazias- Preciso ir trabalhar, senão Ida vai inventar uma lista de coisas que precisam ser feitas, mesmo que não precise delas, só para me segurar no escritório até nove da noite.- Ruggero se despediu de mim com um beijo que encerrei antes de perdermos o controle- Se vai mandar seu motorista me buscar você vai pegar trem?
Rugge: isso.
Kah: plebeu.
Rugge: já esqueceu como a gente se conheceu? Agora pego o trem todas as manhãs.
Kah: agora? Antes não pegava?- um sorriso se espalhou por seu rosto.
Rugge: a primeira vez que peguei o trem para ir trabalhar em anos foi naquele dia em que perdi o celular. O motorista estava de férias naquela semana.
Kah: mas continuou pegando o trem depois disso?
Rugge: agora tenho um motivo para isso- a aflição que sentia desde ontem à noite quando falei com Ruggero por telefone finalmente cedeu um pouco depois que saí do escritório. Não havia nada que eu quisesse mais do que confiar no que acontecia entre nós, mas uma parte minha ainda tinha medo. Ele era muito confiante e destemido e eu tentava usar essa confiança para me tranquilizar. Odiava esse meu lado fraco e covarde. Era hora de descobrir como me livrar dele.
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Kah on·

An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora