• Capítulo 22

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Rugge on·
Em questão de semanas Candelária passou de uma memória distante a alguém que ligava regularmente e aparecia no meu escritório sem avisar.
Tirei o óculos e esfreguei as mãos no rosto antes de apertar o botão do interfone.
Rugge: pode mandar entrar- Candelária entrou em minha sala e se acomodou na cadeira em frente à mesa.
Cande: precisamos conversar.
Rugge: Chloe está bem?
Cande: está.
Rugge: então o que está fazendo aqui Candelária?
Cande: acabei de dizer que precisamos conversar- pus o óculos novamente e me dediquei à papelada em cima da mesa sem sequer levantar a cabeça ao falar.
Rugge: estou ocupado. Marca uma hora quando sair- ela suspirou alto, mas não saiu do lugar.
Cande: a festa de aniversário da Chloe é um evento de família.
Rugge: e...?
Cande: você tem que ir.
Rugge: já conversamos sobre isso há algumas noites e eu disse que vamos.
Cande: ela não é da família.
Rugge: ainda não- Candelária reagiu assustada.
Cande: não pode estar falando sério. O que é isso? Há quanto tempo se conhecem? Você agora tem uma filha para levar consideração. Como figura paterna não devia apresentar sua filha a alguém que mal conhece. Chloe pode se apegar.
Rugge: eu sei.
Cande: vocês mal se conhecem. Quanto tempo faz? Um mês? Dois?
Rugge: eu a conheço melhor do que jamais conheci você.
Cande: passamos quase três anos juntos.
Rugge: e mesmo assim nunca soube que tipo de mulher você era, as coisas de que era capaz.
Cande: isso não é justo.
Rugge: pelo contrário, acho que tenho sido mais que justo com você, mais até do que merece. Você transou com o meu melhor amigo, me privou de conviver com minha filha por mais de quatro anos e agora aparece no meu escritório sem aviso prévio para ofender alguém que é muito importante para mim.
Cande: ela não é mulher para você.
Rugge: não brinca! Você é?
Cande: bom... sim. Temos o mesmo nível Ruggero.
Rugge: acho que não. Eu jamais teria comido Alexia- ela sentiu o golpe, mas se recuperou depressa, endireitou as costas e disse:
Cande: ela tem um piercing na língua, eu vi.
Rugge: tem, e sentir aquilo no meu pau é uma delícia- ela estreitou os olhos.
Cande: não vai durar.
Rugge: sai Candelária. Preciso trabalhar.
Cande: só estou tentando proteger minha filha.
Rugge: nossa filha.
Cande: foi o que eu disse.
Rugge: fora- apontei a porta.
Cande: tudo bem.- ela ficou em pé- Mas não diga que não avisei- e saiu.
Naquela noite levei Karol para jantar fora. Agora que havia deixado claro para Candelária que Karol iria comigo à festa de aniversário de Chloe no fim de semana só faltava convencer Karol a ir comigo. Ela já tinha expressado dúvidas quanto a isso. Não toquei no assunto durante o jantar, achei melhor prepará-la com boa comida e vinho e fazer a abordagem depois.
Havia passado a última hora levando Karol ao orgasmo, primeiro com a boca, depois quando fizemos amor de conchinha. Quando ela deixou escapar um suspiro relaxado e satisfeito decidi que tinha chegado a hora. Ainda atrás dela beijei seu ombro nu e colei o corpo ao dela.
Rugge: vai ser muito importante poder ter você comigo nesse fim de semana.
Kah: não sei Ruggero- cheguei mais perto.
Rugge: preciso de você lá comigo.
Kah: precisa de tempo com sua filha, e nós dois sabemos que Candelária não gosta de mim.
Rugge: é importante para mim. Sei que tem suas dúvidas, mas quero que veja que ainda podemos dar certo, apesar das coisas terem mudado.
Kah: Ruggero...
Rugge: por favor?
Kah: tudo bem- ela parecia derrotada, mas eu não me importava. Era egoísta o suficiente para aceitar do jeito que viesse.
Rugge: obrigado. Vou recompensar no próximo fim de semana, prometo.
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Rugge on·
Era algo que eu estava pensando em fazer havia algum tempo. Com todas as mudanças que aconteceram recentemente não tinha momento melhor que o presente para encarar o desafio.
Quando Louis me deixou no estúdio do Agus na Oitava Avenida eu me sentia animado.
Ao abrir a porta um sino tocou. Como sempre o lugar cheirava a canela, incenso e tabaco e tocava Bob Marley. Estar ali estranhamente me lembrava dos tempo de faculdade.
Agus tirou o cigarro da boca e me cumprimentou.

Agus: sr. Grande Babaca! Quando vi seu nome na agenda não acreditei. Que porra é essa? Ela finalmente fez você perder o juízo?
Rugge: não contou a Karol que eu vinha, contou?
Lina: não.- respondeu Lina- Quando telefonou para marcar o horário deixou claro que queria que fosse surpresa, não vamos estragar tudo, certo Agus?- ele me levou para o sofá de canto.
Agus: já sabe o que vai fazer?
Rugge: sim, sei exatamente o que quero. Tentei até fazer um desenho para te mostrar.- tirei um pedaço de papel do bolso- Não desenho tão bem quanto você, mas dá para ter uma ideia do que tenho em mente- falei. Agus acendeu um cigarro e estreitou os olhos para estudar minha tentativa de desenhar uma tatuagem.
Agus: reconheço isso.- ele riu- Muito bem, acho que dá para fazer ainda melhor. Pode deitar- olhei para ele e vi que estava preparando a agulha.
Rugge: ela contou alguma coisa sobre o que está acontecendo com a gente?- Agus soprou a fumaça.
Agus: está falando do drama com a mãe da sua filha?
Rugge: beleza. Pelo jeito já sabe que descobri há pouco tempo que tenho uma filha.
Agus: se ela conversou comigo sobre isso não vou te contar nada cara.
Rugge: é claro- droga. Eu não ia arrancar nada dele.
Senti o ardor da agulha no peito quando ele começou o desenho. Há alguns anos nunca teria imaginado que faria outra tatuagem, mas era como se fosse natural, era mais do que simplesmente marcar meu corpo, era arte que por sua vez era uma expressão de amor. Karol me fazia ver muitas coisas de maneira diferente.
Depois de vários minutos vendo Agus trabalhar em silêncio disparei:
Rugge: eu amo a Karol- ele desligou a agulha e levantou as mãos.
Agus: ei... ei... por que está me dizendo isso?
Rugge: porque você é amigo dela. Ela não tem muita gente próxima.
Agus: e já falou isso para ela?
Rugge: não, ainda não tive a oportunidade certa, mas vou falar. Também tenho a impressão de que você ainda não confia em mim e acho importante que entenda que apesar dos últimos acontecimentos estou nessa para ficar.
Agus: olha, não vou te enganar. Não confio em você, mas Karol parece estar envolvida demais para eu não levar a sério pelo menos. Se ela gosta de você só me resta aceitar e confiar na capacidade de julgamento dela.
Rugge: certo... bem, aprecio sua honestidade.
Agus: só não esquece o que eu disse. Não faça ela sofrer, se não vou ter que quebrar sua cara bonita- engoli a raiva pelo bem de Karol.
Rugge: eu ouvi bem na primeira vez que me ameaçou Agus- se esse cara não fosse o melhor amigo de Karol não engoliria essa palhaçada, mas não precisava dele falando mal de mim.
Agus terminou a tatuagem e a cobriu com fita transparente. Mal podia esperar para mostrar o desenho para Karol. Lina apareceu na porta.
Lina: já que está no seu momento aventura SGB, vai ser um prazer colocar um piercing em você se quiser aproveitar que está aqui.
Rugge: SGB?
Lina: sr. Grande Babaca.
Rugge: ah, é claro- revirei os olhos e deixei o dinheiro em cima do balcão, o triplo do preço cobrado. Ela pegou as notas e guardou na gaveta do caixa.
Lina: e aí? Uma argola no pau? O que acha?- um arrepio de protesto percorreu meu membro até a ponta.
Rugge: um passo de cada vez Lina.
Lina: tudo bem.- ela deu de ombros- Eu tentei.
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Rugge on·
A noite seguinte eu mal conseguia controlar o entusiasmo quando fui fazer uma visita surpresa a Karol depois do trabalho. O curativo estava saindo e finalmente eu poderia mostrar a tatuagem a ela. Com a festa de aniversário de Chloe no fim de semana esta noite era o momento perfeito para a revelação. Karol saberia o quanto ela era importante para mim. Eu tinha trabalhado até tarde e decidi aparecer de surpresa levando sua comida mexicana favorita. Karol me deixou entrar sem nenhum problema, mas quando abriu a porta percebi que estava estranha.

Kah: Ruggero... não estava esperando você, entra- eu a abracei, puxei-a contra o corpo e agarrei seu traseiro.
Rugge: não está feliz em me ver?
Kah: não, não é isso- deixei a sacola de papel em cima da mesa da cozinha.
Rugge: tenho uma surpresa para você. Estava ansioso para vir te mostrar.
Kah: o que é?- tirei o paletó.
Rugge: vamos comer primeiro.- falei- Trouxe enchiladas do No Way Jose's, suas favoritas- Karol ficou quieta durante todo o jantar. Alguma coisa estava errada. Seria só nervosismo com a viagem aos Hamptons no fim de semana?
Tirei o prato dela.
Rugge: quer conversar sobre o que está te incomodando?
Kah: não, mostra a surpresa primeiro- era estranho mostrar a tatuagem diante de tanto desânimo. Não era exatamente assim que tinha imaginado esse momento, mas não poderia esconder por muito tempo considerando que tinha a intensão de tirá-la desse humor apático na cama mais tarde. Ela veria meu peito de qualquer jeito.
Rugge: muito bem... é uma coisa que queria fazer há muito tempo. Finalmente criei coragem e fiz, espero que goste.- Karol mordeu o lábio enquanto eu desabotoava a camisa e meu coração batia acelerado. E se ela achasse doentio? Merda, era tarde demais. Ela me viu tirar a fita- Ainda está um pouco vermelha- falei estranhamente nervoso e ela cobriu a boca com a mão.
Kah: ai meu Deus. Ruggero, é...
Rugge: gostou?- os olhos dela brilhavam.
Kah: é incrível.- e olhou para o próprio pé- Exatamente igual à minha.
Rugge: é claro, Agus fez igual.- ela traçou com um dedo a área em volta da tatuagem colocada estrategicamente sobre meu coração. Karol escrito em letras cursivas e embaixo do nome havia uma versão menor da pena que ela tinha tatuada no pé- Achei que a pena seria o realce perfeito para o seu nome. Nossa história poderia ser diferente se eu não tivesse identificado você pela tatuagem quando a gente se conheceu. Sou muito grato a essa pena.- ela continuava em silêncio olhando fascinada para a tatuagem quando falei- Sabe, não é coincidência que a outra tatuagem que fiz não tenha sido nem perto do coração. Você é a única mulher que o teve completamente- fala que a ama.
Por que é tão difícil simplesmente falar?
Porque você tem medo de não ser correspondido.
A mão dela ainda contornava a tatuagem. Cobri seus dedos com os meus para interromper o movimento e chamar sua atenção.
Rugge: Karol... eu te a...
Kah: Ruggero, estou atrasada- atrasada?
Rugge: quê?
Kah: estou atrasada.
Rugge: você está atrasada? Como assim? Atrasada para quê?
Kah: minha menstruação está atrasada. Estou com medo- pisquei várias vezes.
Rugge: acha que pode estar grávida?
Kah: eu tomo pílula, é improvável, mas nunca atrasa. Estou preocupada. Olhei o calendário hoje e percebi- bom, agora o humor esquisito fazia todo sentido.
Rugge: pode ter outro motivo para isso?
Kah: li que o estresse às vezes pode provocar atrasos e estou torcendo para ser isso. Eu estar grávida é a última coisa de que você precisa agora.
Rugge: está preocupada comigo?
Kah: sim, é claro que estou! Está tentando se adaptar a uma filha, isso seria demais.- ela enterrou o rosto nas mãos- Demais mesmo- afastei as mãos dela do rosto e a puxei para mim.
Rugge: Karol, concordo que não seria o momento ideal, mas a possibilidade de você estar esperando um filho meu só me enche de alegria. Não acredito que você esteja pronta para isso... mas se acontecer vou considerar uma bênção- ela olhou para mim.
Kah: sério?
Rugge: sim, sério.- segurei seu rosto, sorri e repeti- Sério.
Kah: obrigada por me dizer isso, porque senti medo até de tocar no assunto.
Rugge: não precisa ter medo. Nunca mais vai ter que enfrentar nada sozinha.- eu precisava saber- Vamos fazer o teste?- sugeri.
Kah: não sei se estou preparada e não quero me precipitar, o resultado pode ser falso. Vou esperar passar o fim de semana e a festa, depois vamos fazer o teste.
Rugge: como você quiser- pela cara dela sabia que Karol torcia para não estar esperando um filho meu. Era loucura eu torcer pelo contrário?

An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora