• Capítulo 19

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Kah on·
Ruggero receberia o resultado do teste de DNA hoje. Embora não tivesse pedido especificamente para eu estar presente eu queria surpreendê-lo. Ele comentou que os resultados chegariam antes do meio-dia, então tirei a manhã de folga no trabalho.
Em outra demonstração de solidariedade era hora de me livrar do vermelho. Tingi as pontas do cabelo de azul que Ruggero sabia ser um sinal de que as coisas iam bem em minha vida. Independentemente de eu acreditar nisso ou não, sabia que o gesto o deixaria tranquilo em relação a nós.
Parei no Anil, peguei dois bagels com manteiga e dois sucos e segui para a Pasquarelli Financial Holdings. Passei pela porta de vidro e nem me dei ao trabalho de parar na recepção, só passei direto por ela e continuei em frente rebolando a caminho do escritório do meu namorado como se fosse dona de tudo ali. Ouvi os passos dela atrás de mim.

Secretária: srta. Itzitery?- virei.
Kah: não se incomode. Pensei que Ruggero e eu tivéssemos explicado que estamos juntos. Não precisa mais me anunciar.
Secretária: não foi por isso que a chamei.
Kah: sei, o que é então?
Secretária: bom... nós... alguns funcionários e eu queríamos agradecer.
Kah: agradecer? A mim?- franzi a testa- Por quê?
Secretária: desde que a conheceu ele está diferente, mais agradável, mais fácil de tratar. Não sei se você tem uma vagina mágica, sei lá... mas o que quer que faça continue fazendo. Tornou a vida de todos aqui muito mais fácil- algumas pessoas sentadas nas saletas próximas a ouviram. Uma começou a aplaudir e alguns outros a imitaram. Eu estava ali em pé com minha sacola de papel engordurado sendo aplaudida por aquelas pessoas.
Eu devia me curvar e agradecer?
Ruggero devia ter ouvido a comoção, porque abriu a porta do escritório.
Rugge: que diabo é...- a ruga em sua testa sumiu quando ele me viu- Karol.- ele sorriu- Perdi alguma coisa? Por que estão batendo palmas?- olhei para os funcionários e pisquei.
Kah: contei uma piada para eles, só isso.
Rugge: sei. Bom, por que não leva o seu show solo para minha sala?- ele fechou a porta quando entramos, me empurrou contra ela e beijou minha boca, depois continuou- Todo mundo é maluco por você... como eu, e essa foi uma ótima surpresa.
Kah: não queria que passasse por isso sozinho- ele encostou a testa na minha.
Rugge: sabe... eu realmente queria você aqui, mas ao mesmo tempo não sabia se isso seria desconfortável para você. Não queria te pressionar, mas estou feliz que tenha vindo.
Kah: bom, tenho a sensação de que vou precisar treinar para me acostumar com o desconforto- ele segurou meu rosto.
Rugge: vamos viver um dia de cada vez, pode fazer isso por mim?- assenti entre as mãos dele.
Kah: vou tentar.- passamos a meia hora seguinte sentados juntos, comendo nossos bagels. Ruggero estava com os pés em cima da mesa e parecia mais relaxado do que eu esperava. Além das janelas do escritório, o sol brilhava e refletia em seus olhos que cintilavam me vendo comer. Ele parecia estar muito bem considerando as circunstâncias- Você parece tranquilo. Não está com medo do telefonema?
Rugge: sabe de uma coisa? Eu estava com enjoo até você chegar. Saber que está aqui comigo, aconteça o que acontecer faz toda diferença.
Kah: fico feliz por poder melhorar as coisas.
Rugge: você melhora tudo na minha vida, baby. Tudo- ele estendeu o braço por cima da mesa e segurou minha mão beijando os dedos delicadamente. O interfone interrompeu nosso momento.
Secretária: sr. Pasquarelli? A sra. Molfese está aqui. Ela não tem horário marcado, mas está insistindo para ser anunciada mesmo assim. Diz que o senhor sabe qual é o assunto- meu estômago protestou e soltei a mão dele.
Kah: Candelária está aqui?- ele fechou os olhos e massageou as têmporas em um gesto irritado.
Rugge: merda. Falei que não queria que ela viesse esperar o resultado. Devia saber que ela viria do mesmo jeito.
Kah: bom, não pode exatamente chutá-la para fora.
Rugge: ah, eu posso.
Kah: acredite, eu ia adorar se você a jogasse na rua, mas acha que isso vai facilitar as coisas se Chloe for mesmo sua filha? Vai ter que lidar com ela querendo ou não. Quanto antes aprender melhor- pensativo Ruggero assentiu e ficou em silêncio por um tempo.
Rugge: tem razão.- disse e apertou o botão do interfone- Pode mandar entrar- nosso café da manhã tranquilo estava oficialmente encerrado. Joguei as embalagens de comida no lixo para me distrair do nervosismo. Candelária entrou e fechou a porta. Ela usava roupas discretas, saia cinza e blusa bege sem mangas que deixava à mostra os braços definidos. Seu cheiro era conhecido... Chanel N°5. Percebi que ela tinha um tipo físico muito parecido ao da apresentadora de televisão Kelly Ripa; mignon e esbelta. Ruggero nem olhou para ela. Ficou em silêncio mexendo na pulseira do relógio, um hábito nervoso que até agora eu considerava quase completamente superado. Candelária olhou para mim primeiro.
Cande: Karina, não sabia que estaria aqui.
Kah: é Karol e sim, estou aqui para apoiar Ruggero quando ele receber o resultado- ela se sentou.
Cande: então... já sabe de tudo.
Kah: sim, nós dois não temos segredos um com o outro.
Cande: bem, que bom que está aqui com ele- Ruggero finalmente falou com ela.
Rugge: pensei ter deixado claro que não queria que viesse.
Cande: eu precisava estar aqui Ruggero. Tenho certeza que já contou a Karoline como sou uma pessoa horrível, mas também estou aqui hoje para te dar apoio- o tom de Ruggero era firme.
Rugge: é Karol, não é Karina, não é Karoline. Ka-rol. O que tem de tão difícil nisso?
Cande: Karol... Karol.... desculpa... estou um pouco nervosa sabe? Não vim aqui causar problemas, só quero apoiar você também. Percebi que sou culpada por esse situação toda, não vou negar, mas não posso mudar o passado. Só estou tentando consertar as coisas e seguir em frente. Se tiver que passar o resto da vida reparando meus erros, tudo bem- ela parecia à beira do choro, ou estava realmente abalada ou merecia um Oscar. Ruggero não se deixou afetar pelo minicolapso. Vários minutos de silêncio desconfortável seguiram a declaração e Ruggero passou a girar uma caneta entre os dois dedos indicadores em vez de mexer na pulseira do relógio. Ele jogou o objeto do outro lado da sala e resmungou.
Rugge: por que estão demorando tanto?- Candelária se esforçava para diminuir a tensão e olhou para os meus pés.
Cande: gostei do sapato, de onde é?
Kah: Michael Kors. Não são Louboutin nem nada, mas gosto deles. São confortáveis apesar da plataforma- ela sorriu.
Cande: também gosto- Ruggero empurrou a cadeira para trás e ficou em pé. Começou a andar pela sala e parecia estar perdendo a paciência, por isso tentei acalmá-lo.
Kah: eles disseram antes do meio-dia certo? Ainda temos um tempo- ele pegou o celular.
Rugge: vou ligar para o laboratório- e colocou a ligação no viva-voz. Uma mulher atendeu.
Xx: laboratório Culver.
Rugge: aqui é Ruggero Pasquarelli. Estou esperando uma ligação de vocês hoje antes do meio-dia para informar o resultado do teste de paternidade que solicitei nesta semana. Faltam três horas para o prazo final. Gostaria de saber o resultado agora, por favor. Arnold Schwartz se comprometeu a supervisionar tudo pessoalmente para garantir que o resultado fosse entregue hoje de manhã. Tenho um número de referência que ele me deu se for necessário.
Xx: sim senhor. Pode me falar o número- enquanto Ruggero fornecia a informação eu fazia uma oração silenciosa para que por algum milagre o resultado fosse negativo. Não sabia se isso fazia de mim uma pessoa ruim. Até o resultado ser anunciado ainda havia esperança para mim. Podia haver um terceiro homem sobre quem ninguém sabia... alguém moreno como Ruggero, parecido com ele talvez? Qualquer coisa era possível, certo?
Dava para ouvir o ruído de um teclado ao fundo enquanto a mulher procurava os dados que queria.
Xx: vou colocá-lo em espera sr. Pasquarelli. Parece que o exame ficou pronto, mas quando indicaram que alguém deveria telefonar para dar o resultado usaram como base o fuso horário do Pacífico, mas o sistema informa que o exame está pronto, só preciso ver se temos alguém aqui autorizado a fornecê-lo.
Rugge: Jesus Cristo- sussurrou Ruggero. Essas pessoas na Costa Oeste nem imaginavam quanto dependia disso. Se soubessem estariam apressando tudo. Candelária respirou fundo e olhou para mim.
Cande: isso é muito aflitivo- eu não sabia por que ela tentava conversar comigo. De qualquer maneira estava agitada demais para responder. Olhei para Ruggero. O jeito relaxado de antes era uma lembrança distante. Ele parecia preocupado. Acho que uma parte queria que Chloe fosse filha dele, enquanto a outra parte temia que uma garotinha que ele havia imaginado sua filha ficasse sem pai. Eu tinha a impressão de que meu corpo se contorcia por dentro e me perguntava se era isso que acontecia quando se ama alguém de verdade, se é possível sentir fisicamente o medo do outro. Seu medo era meu, sua dor era minha. A vida dele agora estava misturada à minha. Não tinha declarado a ele que o amava, mas enquanto estava ali sentada sentindo que toda minha vida dependia dos próximos minutos cheguei à conclusão de que isso era amor de verdade.
Eu amava Ruggero Pasquarelli, Sr. Grande Babaca, Engomadinho de terno e gravata, Celibatário em Manhattan, Cinquenta Tons de Pasquarelli. Amava todos eles. Amava o fato de ele gostar de todas as minhas idiossincrasias, amava que me protegesse, amava que me fizesse sentir pela primeira vez na vida como se fosse a pessoa mais importante para alguém, para ele. O negócio era que dependendo desse resultado deixaria de ser a pessoa mais importante. A filha dele viria e deveria vir em primeiro lugar. Era assim que tinha que ser. Isso era o que Frank Itzitery jamais havia entendido.
A voz de um homem surgiu do alto-falante do celular.
Xx: sr. Pasquarelli? Obrigado por ter aguardado. Meu nome é Brad e sou um dos gerentes do laboratório. Peço desculpa pela demora. Tenho aqui seu resultado- Ruggero engoliu em seco.
Rugge: sim.
Brad: existe uma chance de 99,9% de compatibilidade entre vocês. Esse resultado é conclusivo pela paternidade.- ele levou a mão aberta à boca e soltou o ar devagar. O homem continuou- Vamos mandar a cópia física do resultado hoje mesmo por Fed.Ex e deve recebê-la amanhã. Mais uma vez peço desculpas pela demora- Candelária cobriu o rosto e começou a chorar.
Rugge: obrigado- agradeceu Ruggero simplesmente, depois desligou o telefone e olhou para mim. Tentando me controlar só balancei a cabeça para cima e para baixo tentando convencê-lo e me convencer de que tudo ia ficar bem.
Kah: está tudo bem- falei movendo os lábios sem emitir nenhum som. No fundo eu estava longe de ter certeza disso. Sabia que o amava, isso era tudo que sabia e torcia para que fosse suficiente.

An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora