• Capítulo 16

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Rugge on·
Eu tinha a sensação de que Karol estava escapando de mim. A desculpa de ir encontrar os amigos era bobagem. Pior era que eu nem podia dizer que ela estava errada. Imaginei se a situação fosse ao contrário, como eu lidaria com isso, com a descoberta de que ela era mãe do filho de outro homem? Pensar nisso me deixava enjoado. Eu era muito possessivo em relação a ela, simplesmente não conseguia imaginar.
Essa semana estava sendo um pesadelo do qual eu não conseguia acordar. Tudo que eu queria era voltar a como as coisas eram antes do velório, tudo era tão simples.
Precisava trabalhar, mas não conseguia parar de pensar nas duas mulheres que invadiam minha cabeça: Karol e Chloe. Se a menina fosse realmente minha filha eu tinha obrigações como pai. Nada disso era culpa dela.
Não se precipite.
Eu precisava do teste de paternidade. Uma parte de mim não acreditaria nisso até ter uma prova. Eu não podia me envolver emocionalmente até não restar nenhuma dúvida de que ela era minha filha.
A voz da secretária interrompeu meus pensamentos.
Secretária: a sra. Molfese está aqui- mexi no fecho do relógio e respirei fundo antes de responder.
Rugge: mande-a entrar- a porta se abriu e Candelária entrou no escritório como se fosse dona de tudo ali. Houve um tempo em que era. Ela, Facundo e eu passávamos horas trabalhando nesta mesma sala, às vezes até de madrugada. Ela havia me chupado inúmeras vezes embaixo daquela mesma mesa diante da qual agora estava sentada de pernas cruzadas. Era como se fosse ontem, mas o amor que senti por ela tinha se transformado em ódio.
Ela deixou uma caixa branca em cima da minha mesa.
Cande: trouxe seu cupcake favorito da Magnolia, manteiga de amendoim. Lembro como...
Rugge: porra! Não quero saber de cupcake.- explodi- Ela é minha?- bobagem pensar que eu abordaria o assunto gradualmente.
Candelária arregalou os olhos.
Cande: quê?
Rugge: você ouviu. Chloe é minha filha?- ela reagiu absolutamente chocada e o rosto ficou vermelho. Como podia ter pensado que esse confronto não aconteceria? Candelária não respondeu, então continuei- Por que a surpresa Candelária? Achou mesmo que eu veria a menina no velório e não faria essa pergunta?
Cande: não sei Ruggero.
Rugge: como assim não sabe?
Cande: vivo com medo desse momento há cinco anos. Não sei como explicar o que penso, não sei como fazer você entender.
Rugge: bom, tenho o dia todo. Pode tentar.- ela continuou em silêncio- Tudo bem, eu começo então. Estava trepando com Facundo e comigo ao mesmo tempo, certo?
Cande: sim.
Rugge: quanto tempo depois da nossa última vez você descobriu que estava grávida?
Cande: um mês.
Rugge: de quanto tempo estava?
Cande: dois meses- joguei a caneta do outro lado da sala numa reação furiosa.
Rugge: como teve coragem de fazer isso?- gotas de saliva brotaram da minha boca quando fiz a pergunta e lágrimas começaram a se formar nos olhos dela.
Cande: pode me deixar explicar?
Rugge: estou ansioso para ver você tentar sair dessa na verdade- ela fechou os olhos por um momento.
Cande: estava apaixonada por vocês dois Ruggero, de verdade.- ela disse- Foi egoísmo achar que eu tinha esse direito, mas é verdade. Queria que tivesse durado para sempre. Estar com vocês dois era o melhor de dois mundos. Eu sabia que tudo acabaria quando você descobrisse. Falei para o Facundo que você e eu tínhamos parado de transar. Ele não sabia que eu estava com vocês dois ao mesmo tempo. Aparentemente você nunca contou para ele.
Rugge: mal falei com vocês dois depois daquele dia.
Cande: eu sei, e isso parte meu coração até hoje.- ela olhou para janela por um tempo como se organizasse os pensamentos, depois continuou falando- Quando Chloe nasceu era mais clara do que é agora, não tinha muito cabelo. Não ficou evidente na hora que ela não era parecida com Facundo nem comigo. Quando ela começou a andar eu soube que ele estava percebendo como Chloe parecia com você. Facundo resolveu ignorar, nós dois escolhemos ignorar. As coisas eram muito ruins entre nós três naquela época e Facundo amava Chloe mais que a própria vida. Não teria sido capaz de encarar a possibilidade de não ser pai dela.
Rugge: e eu? Achou que eu nunca descobriria?
Cande: no fundo sempre soube que ela era sua filha, e para ser honesta isso me deixava feliz. As coisas entre mim e Facundo azedaram bem depressa depois do casamento. Percebi que tinha cometido um grande erro. Ainda te amava muito e vou me arrepender para sempre de ter te magoado.
Rugge: continuo sem entender como achou que poderia esconder isso de mim.
Cande: não tenho uma desculpa, só não queria perturbar a vida de Chloe, e em parte sentia que não podia fazer isso com Facundo. Ficar com ele foi o mal menor, porque sabia que você nunca me aceitaria de volta. Resumindo, deixei as coisas como estavam, só tentei preservar a paz- mais lágrimas brotaram de seus olhos. Eu me recusava a amolecer.
Rugge: quero um teste de paternidade imediatamente.
Cande: não vou brigar com você por causa disso Ruggero. Vamos fazer como você quiser, o teste, tempo com ela, só peço que se ficar provado que você é o pai, por favor, espere para contar quando ela for um pouco mais velha e puder entender melhor. Ela acabou de perder o único pai que conhecia e está arrasada.
Rugge: nunca faria nada para prejudicar a menina. Não me importo de não contar de imediato, se é para o bem dela.
Cande: gosto muito de você. Nunca tive a intenção de magoá-lo. Por favor, acredite nisso.
Rugge: quero esse teste em uma semana Candelária. Vou tomar todas as providências para ter certeza de um resultado preciso- o pânico se estampou no rosto dela.
Cande: não vai tentar tirá-la de mim, vai?
Rugge: eu nunca tiraria uma criança da mãe- Candelária fungou.
Cande: obrigada.
Rugge: se ela for minha filha quero que reúna todas as fotos que tirou dela desde o dia do nascimento, entendeu?- ela não hesitou.
Cande: é claro.
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Rugge on·
Naquela noite tudo que eu queria era ver Karol, sentir o cheiro de Karol, dormir ao lado de Karol. Meu corpo estava sofrendo com a abstinência da droga mais forte que existe. Fazia só alguns dias que não a via, mas era como uma vida inteira. Não era só a necessidade física. Sentia falta do humor, do sarcasmo, da risada.
Era tarde, eu tinha acabado de sair do hospital depois de visitar Meme e nem sabia se Karol ainda estava acordada. Meu motorista, Louis, estava de folga. Sem pensar peguei o paletó e desci para garagem.
Não mandei mensagens nem telefonei antes, portanto ir até a casa dela era um risco, mas eu não podia arriscar que ela me dissesse para não ir. Não tinha vaga para estacionar perto do prédio e eu tive que andar dois quarteirões a pé embaixo de chuva. Quando finalmente cheguei à porta apertei o botão do interfone do apartamento. A voz de Karol estava grogue.
Kah: alô?- fechei os olhos, porque sentia falta daquela voz.
Rugge: baby, sou eu.
Kah: Ruggero... está tarde- apoiei a testa na parede.
Rugge: eu sei- sem dizer mais nada ela me deixou entrar. O alívio me invadiu e subi a escada depressa pulando os degraus. Meu cabelo e o paletó estavam ensopados. Eu devia parecer um rato molhado. Ela abriu a porta, mas não me deixou entrar imediatamente. Eu não sabia se ia me mandar embora ou me convidar. A decisão era dela. Não tinha o direito de exigir nada depois da confusão para a qual a tinha arrastado. Olhei para ela por um momento. Karol estava à vontade com uma camiseta branca e fina. Os mamilos me davam oi. Pelo menos eles estavam felizes com minha presença. Ela estava linda com o cabelo todo despenteado. As pontas estavam vermelhas.
Eu a estava perdendo.
Kah: ai meu Deus, entra. Você está ensopado.- muito obrigado à chuva. À essa altura eu não hesitaria em aceitar piedade. Ela fechou a porta e desapareceu por um momento, depois voltou com uma toalha- Pronto. Tira essa roupa molhada.- tirei o paletó. A camisa ainda estava seca. Devia ter ficado lá fora mais um pouco- O que aconteceu? Está tudo bem?
Rugge: não, não está tudo bem.
Kah: a reunião com Candelária não foi bem?
Rugge: ela admitiu que não tinha certeza de que Facundo era o pai de Chloe. Estava transando com nós dois ao mesmo tempo e descobriu a gravidez depois que terminamos. Ela concordou com um teste de DNA na semana que vem.
Kah: não sei o que dizer- olhei dentro dos olhos dela.
Rugge: diz que não vai me deixar- ela desviou o olhar.
Kah: Ruggero... agora tudo está muito incerto. Estou muito confusa.
Rugge: eu também. Minha cabeça está girando descontrolada e só tem uma coisa de que tenho certeza, sabe o que é Karol?- ela olhava para o chão, mas ergueu os olhos emoldurados por cílios escuros e me encarou.
Kah: o que é?
Rugge: quero você, quero estar com você. Sou maluco até a última unha do pé por você e preciso saber que não vai me abandonar- ela sorriu.
Kah: acho que a expressão é até o último fio de cabelo.
Rugge: tanto faz.- passei os braços em torno de sua cintura e cruzei as mãos atrás de suas costas- Fala que não vai me deixar por causa disso.
Kah: não sabemos o que vai acontecer.
Rugge: eu sei o que quero.
Kah: Ruggero... as coisas podem mudar.
Rugge: preciso de você Karol. Nunca disse isso para nenhuma outra mulher na vida.- apoiei a testa na dela e sussurrei- Preciso de você- ela assentiu.
Kah: tudo bem- segurei seu rosto entre as mãos e o ergui para olhar em seus olhos.
Rugge: chega dessa bobagem de me evitar.
Kah: eu tinha planos com Agus e Lina.- olhei para ela deixando claro que não acreditava nisso- Certo.- Karol revirou os olhos- Estava te evitando.- eu me inclinei e beijei seus lábios. Pela primeira vez desde o funeral o mundo pareceu parar de girar por um momento- Quer dormir aqui?
Rugge: tenta me fazer ir embora- naquela noite com meu corpo colado ao de Karol finalmente consegui dormir um pouco. Dormi até mais tarde na manhã seguinte até o toque do celular me acordar.

An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora