Kah on·
Pus o pé direito no trem e parei antes de entrar ao ver que ele já estava no vagão. Merda! Estava sentada na frente do meu assento habitual. Recuei.Yy: ei, olha por onde anda!- um homem de terno quase derrubou o café quando dei um encontrão nele ao sair do terceiro vagão andando de costas sem olhar pra trás- Que porra é essa?
Kah: desculpa!- falei de passagem, abaixando para não ser vista pela janela do trem e correndo pela plataforma para me afastar alguns vagões. As luzes vermelhas ao lado de cada porta começaram a piscar, e uma campainha alta anunciou que o trem ia partir. Entrei no vagão sete quando as portas já estavam se fechando. Levei um minuto para recuperar o fôlego depois da corrida por quatro vagões. Definitivamente, eu precisava voltar para a academia. Sentei em um assento virado para a frente, ao lado de outro já ocupado, em vez de escolher um realmente vazio, mas voltado para o interior do vagão. O homem baixou o jornal quando me sentei ao lado dele- Desculpe.- digo- Não consigo viajar nos assentos laterais.- os dois assentos na frente dele estavam vazios. A etiqueta do passageiro sugeria que eu me sentasse em um deles, mas acho que ele preferiria a minha companhia a ficar sujo de vômito. O homem sorriu.
Xx: também não consigo.- pus os fones de ouvido, suspirei aliviada e fechei os olhos quando o trem começou a se mover. Um minuto mais tarde, senti a batida leve em meu ombro. O passageiro ao meu lado apontava um homem em pé no corredor. Relutante, tirei um fone.
Zz: Karol. Sabia que era você.- aquela voz.
Kah: hum... Oi.- como era mesmo o nome dele? Ah, espera... Como pude esquecer? Sebastián. Sebastián Villalobos. Eu ainda não estava falando com minha irmã por causa daquele desastre. Pior encontro às cegas que já existiu.- Como vai Sebastián?
Sebas: bem, melhor agora que te encontrei. Mandei algumas mensagens, mas acho que digitei seu número errado, porque você nunca respondeu.- é. É isso. Ele coçou o saco por cima da calça. Tinha quase me esquecido dessa preciosidade. Devia ser um tique nervoso, mas toda vez que ele se coçava, eu olhava para a mão dele e tinha que fazer um esforço enorme para não soltar uma gracinha. Sebastián Villalobos e sua coceira persistente. Valeu maninha.
Ele pigarreou.
Sebas: quer tomar café?- o cara de terno ao meu lado baixou o jornal de novo, olhou para Sebastián e depois para mim. Não consegui ser grosseira com o coitado. Ele era legal.
Kah: hum.- toquei o ombro do engomadinho de terno- Não posso. Este é meu namorado, Michel. Reatamos a uma semana. Não é verdade, amor?- a decepção se estampou no rosto de Sebastián.
Sebas: ah. Entendo.- o falso Michel entrou na brincadeira tocando o meu joelho.
Michel: não divido o que é meu parceiro. Cai fora.
Kah: não precisa ser grosso Michel.- olhei feio para o engomadinho.
Michel: isso não foi grosseria, baby. Isso sim teria sido...- antes que eu pudesse evitar ele beijou minha boca. E não foi um selinho. A língua passou sem cerimônia por entre meus lábios. Dei um empurrão forte em seu peito tirando-o de cima de mim. Limpei a boca com o dorso da mão.
Kah: desculpa Sebastián.
Sebas: tudo bem. Ah... desculpa pela interrupção. Se cuida Karol.
Kah: você também Sebastián.- assim que ele se afastou fechei a cara e olhei para o falso Michel- Por que fez isso babaca?
Michel: babaca? A dois minutos eu era amor. Decide gatinha.
Kah: você é bem cretino.- ele me ignorou, pôs a mão no bolso interno do paletó e pegou o celular que estava vibrando.
Michel: é minha esposa. Pode esperar um minuto?
Kah: sua esposa? Você é casado?- levantei- Caramba, você realmente é um babaca.- ele estava com as pernas esticadas e não as tirou da frente para eu passar, então passei por cima. Quando aproximou o celular do ouvido, eu o arranquei da mão dele e falei sem colocá-lo perto da orelha- Seu marido é um tremendo babaca.- joguei o celular no colo dele e me afastei na direção oposta à de Sebastian.
E é só a droga da segunda-feira.
Esse tipo de merda era a história da minha vida. Encontrar homens com quem tinha saído e que não queria mais ver. Homens casados.
Fui para o outro vagão para não ter que olhar de novo para "Michel" ou Sebastián. Para minha alegria não estava lotado e havia um assento vazio virado para a frente. Minha pressão caiu assim que me sentei nele.
Fechei os olhos por um momento e deixei o balanço do trem me acalmar.
A voz ríspida de um homem interrompeu o momento de serenidade.
Xx: faz a porra do seu serviço, Gastón. Faz o seu trabalho. É pedir demais? Por que estou pagando seu salário, se tenho que administrar cada porcariazinha? Suas perguntas não fazem sentido! Encontre a solução, depois ligue de novo quando tiver uma reposta digna da minha atenção. Não tenho tempo para pergunta idiota. Meu cachorro teria pensado em algo mais inteligente do que o que você acabou de propor.- que cretino. Quando virei para dar uma olhada na cara do dono da voz não consegui conter o riso. É claro. É claro! Não era à toa que ele achava que podia cagar em cima de todo mundo. Com uma aparência como a dele as pessoas provavelmente ajoelhavam à sua volta o tempo todo, tanto no sentido literal quanto no figurado. Ele era lindo. Além de lindo, cheirava a poder e dinheiro. Revirei os olhos... mas não consegui desviá-los dele.
Esse cara usava uma camisa justa de listras finas que facilitava imaginar a silhueta esculpida embaixo dela. O paletó azul-marinho de aparência cara estava sobre seu colo. O sapato social preto nos pés grandes parecia ter sido engraxado recentemente. Ele era bem o tipo de homem que deixava as pessoas engraxarem seus sapatos no aeroporto e evitava fazer contato visual com elas. O acessório mais notável, porém, era o olhar furioso no rosto perfeito. Agora ele havia desligado o celular e se comportava como se alguém tivesse pisado em seu calo. Uma veia latejava em seu pescoço. Ele passou a mão pelo cabelo escuro frustrado. Vir para este vagão certamente havia sido uma boa escolha, considerando só o colírio. O fato de ele nem notar as pessoas que o cercavam me permitia apreciar a paisagem tranquilamente. Ele era um gato com aquela cara brava. Alguma coisa me dizia que estava sempre bravo. Era como um leão, o tipo de espécie que é melhor admirar de longe e que oferece risco de dano irreparável em caso de contato real. Suas mangas estavam erguidas, exibindo um relógio caro e enorme no pulso direito. Com aquela expressão azeda, ele olhava pela janela enquanto mexia no relógio girando-o de um lado para o outro. Parecia um hábito nervoso, o que era irônico, levando em conta que eu tinha certeza de que ele deixava muita gente nervosa.
O celular tocou de novo. Ele atendeu.
Xx: que é?- a voz era o tipo de barítono rouco que sempre me atingia entre as pernas. Eu era maluca por uma voz profunda, sexy, mas era raro a voz combinar com o homem. Segurando o celular com a mão direita, ele usou a outra para continuar manipulando o metal do relógio.
Clique, clique, clique.
Xx: ele vai ter que esperar.- grunhiu- A resposta é que eu chego aí quando chegar... Que parte disso não ficou clara, Laura? Seu nome não é Laura? Como é então? Então Linda, fala que ele pode remarcar, se quiser.- depois de desligar, resmungou alguma coisa. Pessoas como ele me fascinavam. Era como se fossem donas do mundo só por terem sido abençoadas pela genética ou por oportunidades que as colocavam em uma posição econômica superior. Ele não usava aliança de casamento. Aposto que ocupava o dia inteiro com atividades autocentradas. Café caro, trabalho, almoço em restaurantes elegantes, sexo sem amor... tudo novo. Sapato brilhando e talvez uma partida de tênis entre uma coisa e outra. Aposto que ele também era egoísta na cama. Não que eu fosse dispensá-lo, mas era. Nunca havia estado com alguém tão poderoso quanto esse homem, portanto, não tinha conhecimento prático de como isso se traduzia no quarto. A maioria dos caras com quem tinha saído eram artistas famintos, hipsters ou aquelas tipos que abraçam árvores. Minha vida estava bem longe de Sex and the City. Era mais para Sexo Meio Triste. Acho que não ia me importar de ser a Carrie para o Mr. Big por um dia, porém, ou Sr. Grande Babaca nesse caso.
Comtodaporradecerteza.
Mas havia uma falha nessa minha fantasia: eu não fazia o tipo do cara. Ele devia gostar de loiras magérrimas e submissas da alta sociedade, não mexicanas cheias de curvas de Bensonhurst com atitudes sarcásticas e cabelo multicolorido. Eu era quase uma mistura de mexicana e argentina com uma bunda grande. Meu cabelo preto e comprido quase alcançava a cintura. As pontas eram pintadas com uma cor diferente a cada duas semanas, dependendo do meu humor. Essa semana estavam azul-royal, o que significava que as coisas estavam bem boas para mim. Vermelho indicava que era bom ficar fora do meu caminho.
Meus pensamentos aleatórios foram interrompidos pelo guincho do freio do trem. De repente, o sr. Grande Babaca se levantou e uma nuvem de perfume caro saturou o ar por onde ele passava. Até o cheiro do homem era tremendamente sexy, embora exagerado. Ele passou apressado pela porta que fechou em seguida.
Foi embora. Era isso. Fim do espetáculo. Bem, foi bom enquanto durou.
Minha parada era a próxima e eu me aproximei da mesma porta por onde ele havia saído. Meu pé bateu em alguma coisa dura e plana e eu olhei para baixo. Meu coração começou a bater mais depressa. O sr. Grande Babaca havia deixado parte dele para trás.
Ele deixou cair o telefone.
A porra do telefone!
Tinha descido do trem tão apressado que o celular deve ter escorregado da mão dele e eu devia estar muito ocupada apreciando o traseiro suculento dentro daquela calça para perceber. Peguei o iPhone e o senti quente na mão. O aparelho tinha o cheiro dele. Queria aproximá-la do nariz, mas me contive.
Cobri a boca e olhei em volta. Se minha vida fosse um programa de televisão, o som das gargalhadas seria introduzido agora. Ninguém olhava para mim. Ninguém parecia se incomodar por eu estar com o telefone do sr. Calça Elegante.
O que eu ia fazer com aquilo?
Guardei dentro da minha bolsa de estampa leopardo e com a sensação de quem carregava uma bomba, saí da estação para a ensolarada calçada de Manhattan. Sentia o telefone vibrando com a chegada de notificações e ele tocou uma vez, pelo menos. Eu precisava de um café antes de pegá-lo de novo. Comprei a bebida no ambulante de costume e fui tomando enquanto percorria os dois quarteirões até o escritório. Naquele dia em particular estava atrasada, por isso decidi adiar a investigação sobre a vida do sr. Grande Babaca para depois do almoço.
Quando sentei na minha mesa de trabalho, tirei o celular da bolsa e percebi que a bateria estava no vermelho, então o conectei ao meu carregador. O cargo de assistente de uma lendária colunista conselheira certamente não era o emprego dos meus sonhos, mas pagava as contas. Ida Goldman era responsável pela "Pergunte a Ida", uma coluna diária que existia havia anos. Ultimamente, Ida estava tentando me treinar sugerindo que eu experimentasse escrever algumas repostas. As mensagens selecionadas eram publicadas no jornal, enquanto as repostas para outras pessoas eram postadas no site dela. Parte do meu trabalho era fazer a triagem das perguntas que chegavam e decidir quais delas encaminhar para a minha chefe.
O trabalho de Ida era sempre atencioso e politicamente correto, mas minha abordagem era mais direta, sem rodeios. O resultado era que ela nunca havia publicado minhas respostas. De vez em quando eu não resistia e acabava respondendo algumas perguntas que não passavam pela triagem. As que teriam que ser eliminadas de qualquer jeito. Essas pessoas precisavam de um pouco de orientação e eu achava que seria um desserviço ignorar seus pedidos de ajuda.
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Descobri recentemente que meu marido tem uma coleção de pornô. O que eu faço?- Trisha, Queens.Aproveita! Investe em um bom vibrador. Não esquece de deixar tudo como estava depois de se divertir enquanto ele estiver no trabalho.
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Fiquei bêbada em uma festa e beijei o namorado da minha melhor amiga. Agora não consigo parar de pensar nele. Eu me sinto péssima, mas acho que posso estar me apaixonando por ele. Algum comentário sensato?- Dana, Long Island.Sim. Você é uma vadia. Até terça que vem, Dana!
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Meu namorado me pediu em casamento há pouco tempo. Eu até aceitei. Ele é o homem mais doce e gentil que já conheci. O problema é que o diamante que ele me deu é menor do que eu esperava. Não quero magoá-lo. Preciso encontrar um jeito delicado de expressar minha decepção.- Lori, Manhattan.Deus tem o mesmo dilema com relação a você, querida. P.S.: Quando seu noivo chutar essa sua bunda egoísta dá o número do meu telefone para ele.
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Kah on·
Responder alguns e-mails de um jeito honesto e direto sempre me deu a energia de que eu precisava para começar o dia. A manhã passou depressa. Na hora do almoço o telefone do sr. Grande Babaca estava carregado e o levei comigo para a sala de descanso. Eu tinha pedido comida tailandesa para nós duas. Depois do almoço, Ida saiu da sala e me deu dez minutos de privacidade para bisbilhotar o celular. Por sorte, não era protegido por senha. Primeira parada: fotos. Não eram muitas e se eu esperava poder encontrar alguma indicação de quem era esse homem olhando as fotos, fui surpreendida. A primeira era de um cachorrinho branco e fofo. Parecia um tipo de terrier. A foto seguinte era dos seios nus de uma mulher com uma garrafa de champanhe entre eles. Eram claros, perfeitamente redondos e completamente falsos. Eca. Depois tinha mais fotos do cachorrinho e a seguir uma de um grupo de idosas fazendo uma aula de ginástica com música, talvez. Mas que porra é essa? Não consegui segurar a gargalhada. A última era uma selfie dele com uma senhora. As roupas eram mais casuais, o cabelo estava meio bagunçado e ele sorria. O cara estava lindo. Era difícil acreditar que esse era o mesmo sujeito esnobe de terno a bordo do trem, mas o belo rosto confirmava que era ele.
Mais cinco minutos e eu teria que voltar à minha mesa. Não havia conta de e-mail conectado ao telefone, então abri a lista de contatos e decidi ligar para o primeiro nome na lista: Alexia.
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Alexia: ora, ora, Ruggero Pasquarelli. Há quanto tempo. O que aconteceu? Já esgotou o alfabeto inteiro e vai começar tudo de novo? Não esqueceu que não sou um dos seus brinquedinhos, né?- ouvi uma buzina e o ruído do tráfego ao fundo, depois a batida da porta de um carro que abafou os barulhos da cidade- Edifício Langston. E não vai pelo parque. As cerejeiras estão em flor e não preciso da minha pela irritada antes de uma reunião.- ela terminou de falar com o motorista e lembrou do telefone- E aí Ruggero, o que você quer?
Kah: hum... oi. Não é o Ruggero, na verdade. Meu nome é Karol.
Alexia: Ka... O quê?
Kah: Karol. Que significa mulher doce, meu pai só pensou...
Alexia: tanto faz, seja qual for seu nome, fala o que quer e por que está tomando meu precioso tempo. E por que está ligando com o celular do Ruggero Pasquarelli?- Ruggero Pasquarelli. Até a porcaria do nome é sexy. Faz sentido.
Kah: na verdade, encontrei este telefone no trem. Tenho certeza de que pertence a um homem que vi hoje de manhã. Quase trinta anos, talvez? Cabelo preto, penteado para trás, meio comprido para um cara de terno, enrolado em cima do colarinho. Ele vestia um terno risca de giz azul-marinho e tinha um relógio grande.
Alexia: lindo, arrogante e furioso?- ri baixinho.
Kah: isso, é ele.
Alexia: o nome dele é Ruggero Pasquarelli e sei onde você deve levar esse telefone.- peguei uma caneta da bolsa.
Kah: tudo bem.
Alexia: está perto da linha 1 do trem do metrô?
Kah: não muito longe.
Alexia: muito bem. Pegue a 1 e vá até o centro. Depois da Rector, desça no South Ferry Terminal.
Kah: entendi.
Alexia: quando descer do trem vire à direita na Whitehall e depois à esquerda na South.- eu conhecia a área e tentei visualizar os prédios. Era uma região comercial.
Kah: esse não é o caminho para o East River?
Alexia: exatamente. Jogue o telefone do babaca no rio e esqueça que um dia viu a cara dele.- ela desligou. Bom, isso foi interessante.
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An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]
RomanceQuero dizer antes de tudo que essa fanfic (o que é um livro na verdade) NÃO É MINHA! É apenas uma adaptação! Bom, escolhi fazer uma adaptação ao invés de uma fic autoral, pois ainda estou bolando ideias para próxima fic e visto que o final da última...