Kah on·
Quarta-feira à noite Ruggero foi jantar com Candelária e Chloe. Achei difícil ficar em casa sem imaginar o cenário, os três compartilhando uma refeição à mesa da sala de jantar, então em vez de ir direto para o meu apartamento parei no estúdio de Agus e Lina e fizemos um banquete de sushi e saquê. Às nove e meia quando eles fecharam o estúdio eu estava de barriga cheia e suficientemente bêbada para ir para casa.
Tirei a roupa de trabalho, liguei o celular no carregador e fui para a cama. Estava fechando os olhos quando ouvi a campainha. Como não tinha recebido nenhuma mensagem a noite toda tinha um pressentimento de que Ruggero poderia aparecer. Fui até a porta sorrindo quando ouvi as batidas leves, mas ver o homem do outro lado fez meu sorriso desaparecer imediatamente.Kah: pai? O que está fazendo aqui?- ele tirou o chapéu e o segurou contra o peito.
Frank: posso entrar?
Kah: é claro.- naquela manhã eu tinha pedido a Deus um sinal sobre como deveria lidar com meu relacionamento com Ruggero. A visita me fez pensar que Ele havia mandado Frank Itzitery como uma espécie de mensageiro atrapalhado. Fui até o armário da cozinha- Quer beber alguma coisa?- nervosa deixei a porta de madeira bater depois de pegar um copo para mim e meu pai sentou-se à mesa.
Frank: só água- o cheiro de desodorante Old Spice invadindo minha cozinha me fez voltar à infância.
Kah: acho que vou precisar de alguma coisa mais forte- falei e abri uma garrafa de merlot.
Frank: bom, nesse caso vou te acompanhar.
Kah: vinho então- servi a bebida em duas taça, dei uma para ele e meu pai sorriu.
Frank: isso é bom. Nunca pensei que tomaria uma taça de vinho com minha filha nesta noite- fui direito ao ponto.
Kah: o que veio fazer aqui pai?- ele bebeu um gole, depois exalou devagar um sopro demorado e sua expressão ficou séria.
Frank: faz tempo que estou pensando em vir, mas estava sempre adiando a visita, porque não queria te incomodar.
Kah: e por que hoje?
Frank: porque achei que era hora.
Kah: se tem alguma coisa para dizer, diga.
Frank: no dia em que foi à minha casa você fez uma pergunta direta que não consegui responder. Queria saber se eu teria ficado com sua mãe caso Theresa não correspondesse ao meu amor ou eu não a tivesse conhecido. Eu não estava preparado para essa pergunta.
Kah: e já tem a resposta?
Frank: pensei muito nisso nos últimos dias. A conclusão é que se Theresa não tivesse aparecido acho que provavelmente sua mãe e eu ainda estaríamos casados até hoje. É difícil admitir isso, porque não queria que você culpasse Theresa por minhas atitudes e escolhas.
Kah: mas aquele dia você também me disse que não se arrepende das decisões que tomou, o que significa que não se arrepende de ter feito a gente sofrer. Isso é bem difícil de aceitar.
Frank: não, não foi isso que eu quis dizer. Amo vocês e lamento ter causado esse sofrimento, mas não lamento ter me apaixonado por Theresa.
Kah: como pode dizer que nos amava depois de ter saído de casa daquele jeito?- meu pai apoiou a cabeça nas mãos antes de responder.
Frank: não é tão simples. Existem tipos diferentes de amor Karol.
Kah: o amor pelos filhos deve estar acima dos outros- ele fechou os olhos como se minhas palavras o ferissem, depois fez uma pausa antes de voltar a falar.
Frank: às vezes a vida surpreende, põe em seu caminho algo que você não esperava. É preciso decidir se quer ser verdadeiro com você mesmo ou honrado com as pessoas que ama. Se eu não tivesse conhecido Theresa provavelmente teria ficado feliz com seu mãe, porque não teria conhecido a diferença, mas eu a conheci e surgiu algo muito forte entre nós e eu soube que isso me faria falta se eu desistisse, não tinha como voltar atrás.
Kah: e o que Theresa tinha que mamãe não tinha? Foi só sexo?
Frank: de jeito nenhum. É difícil explicar. É só um nível de química Karol, uma espécie de atração magnética entre duas pessoas, uma coisa que eu não senti com sua mãe ou com as outras antes dela. Podia ignorar, mas não quis, fui egoísta não vou negar.
Kah: mas não se arrepende.
Frank: não existe uma resposta única de sim ou não. Lamento que você e sua irmã tenham sofrido por causa das minhas atitudes, mas não me arrependo de ter seguido meu coração. Haveria arrependimento de qualquer jeito. Escolhi o caminho egoísta, o que mais machucou vocês e sinto muito por isso.
Kah: não sei se conseguiria fazer a mesma coisa se estivesse no seu lugar.
Frank: então você é uma pessoa melhor que eu minha querida.
Kah: acabou de dizer que ainda estaria com minha mãe se não tivesse feito uma escolha egoísta. Suas filhas teriam sido poupadas de anos de insegurança. Eu por exemplo não teria os problemas que tenho hoje para confiar nos homens, minha mãe não teria tido uma depressão que quase a levou para o hospital. Talvez você não tivesse se sentido totalmente satisfeito se ficasse, mas sua família teria vivido melhor.- lágrimas começaram a inundar meu olhos- Então basicamente sofremos as consequências de seus atos.
Frank: e eu sinto muito por isso Karol. Foi isso que vim dizer hoje, mais que tudo- eu assentia em silêncio tentando processar isso tudo.
Kah: não sei se estou preparada para aceitar suas desculpas, mas agradeço e fico feliz por ter vindo. Aprendi muito com essa conversa. Ultimamente tenho precisado de orientação.
Frank: alguma coisa a ver com aquele homem rico com quem está namorando? Ele me olhou feio no dia em que foi te buscar na porta de casa. Deve gostar muito de você e parece que temos muito em comum, porque mesmo que você não saiba eu te amo muito.
Kah: sabe de uma coisa? Você e Ruggero têm muito em comum, mais do que imaginam- funguei.
Agora ele é você e eu sou Theresa.
Chloe é quem eu era.
Antes de ir embora meu pai tomou mais uma taça de vinho e abri uma garrafa que tinha comprado quando Ruggero e eu fomos a Little Italy. As coisas estavam longe de se resolver entre mim e meu pai, mas combinamos manter contato. Pelo menos o relacionamento com um homem da minha vida progredia na direção certa, mas infelizmente a visita de meu pai só me deixou mais atormentada em relação a Ruggero.
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Kah on·
Naquela noite os sinais estavam em todos os lugares.
Ruggero telefonou para contar que Chloe estava com febre alta e uma otite séria. Ela não conseguia dormir e pediu para ele ficar e ler para distraí-la. Falei para ele cuidar de sua garotinha e que poderíamos nos ver no dia seguinte.
Enquanto isso acessei a internet e vi que Ida tinha mandado as respostas que seriam publicadas no jornal de amanhã. Uma delas era a do meu e-mail. Antes de ler fui até a cozinha com minha taça e a enchi com o resto do vinho da garrafa. Respirei fundo para me preparar.Querida Theresa,
Por mais que pareça estar apaixonada por esse homem acho que já sabe qual é a resposta correta para o seu dilema. Não se pode arriscar quando há uma criança envolvida. Embora tenha contado que a ex causou o rompimento da relação ela parece ter concluído que cometeu um engano, um erro que quer consertar pelo bem da filha. O fato de ele não ter escolhido espontaneamente terminar a relação (e só tenha terminado em consequência da traição) me leva a crer que ele ainda pode sentir algo por ela. Você indicou que os dois são compatíveis, o que é ainda mais problemático. Tenho a impressão de que essa situação pode se tornar difícil para você com o passar do tempo. Também mencionou que não quer magoá-lo. Talvez se ele achar que você o enganou de algum jeito possa superar esse rompimento mais depressa. Você pode por exemplo dar a impressão de que tem outra pessoa. Faça o que é certo e encontre um homem sem bagagem. Devolva esse à família. Quando se trata de um envolvimento com homens que têm filhos eu tenho um lema: mais razão que coração.Kah on
Meu estômago se contorcia. Embora Ida houvesse ajudado a cristalizar a conclusão a que eu começava a chegar sozinha ainda era difícil absorver a crueldade da resposta. Eu sabia que desistir era a atitude certa a tomar, mas como desistir da melhor coisa que já me aconteceu?
Ela tinha razão em um ponto: Ruggero jamais desistiria de mim facilmente, a menos que acreditasse que havia sido traído. Traição era a única coisa que ele nunca toleraria. Pensar em enganá-lo desse jeito era tão doloroso que me causava arrepios, mas eu não conseguia enxergar outra solução. Não seria capaz de olhar nos olhos dele e dizer que não o amava, tinha que o induzir a romper comigo por raiva e só havia um jeito de provocar essa reação. Eu era maluca por considerar fingir uma traição só para forçá-lo a me deixar? Ou esse era um gesto honrado e altruísta em prol do bem-estar de uma criança? Quase não conseguia acreditar no que estava pensando em fazer.
Depois de virar na cama a noite inteira tomei uma decisão, e relutante tracei um plano. Amanhã teria minha última noite com ele, viveria essa noite, me permitiria amá-lo pela última vez. Depois começaria a me afastar até conseguir pensar em um jeito de dar a impressão de que havia outra pessoa. Não podia voltar no tempo e mudar minha infância, mas tinha o poder de mudar a de Chloe.
Isso ia doer muito. Não ia conseguir seguir em frente sozinha, e só conhecia uma pessoa que não tentaria me fazer mudar de ideia.
Peguei o celular e mandei uma
mensagem para Agus.
Kah: preciso de ajuda.
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An Unforgettable Love [CONCLUÍDA]
RomanceQuero dizer antes de tudo que essa fanfic (o que é um livro na verdade) NÃO É MINHA! É apenas uma adaptação! Bom, escolhi fazer uma adaptação ao invés de uma fic autoral, pois ainda estou bolando ideias para próxima fic e visto que o final da última...