O Encantador De Sombras E A Corça

𝐈𝐈𝐈 - 𝐅𝐢𝐦 𝐝𝐚 𝐥𝐢𝐧𝐡𝐚.

Meu quarto era extremamente claro, com móveis em sua grande maioria na cor branca e várias plantinhas espalhadas por todo o cômodo, eu amava toda aquela claridade ela me fazia esquecer a angústia, o vazio e o terror que eu tinha passado dentro do caldeirão, mas naquele dia aquela claridade toda havia me incomodado enquanto lágrimas molhavam o lindo lençol branco tudo o que eu sentia era: o vazio. Eu fui rejeitada pela segunda vez " como eu você pode ser tão boba?" era tudo o que eu pensava, era óbvio que Azriel iria me rejeitar ele nunca ia olhar pra mim como mulher, ele o homem mais lindo que eu já vi na minha vida, o encantador de sombras, desejado por várias e várias mulheres, estava mais que claro que ele nunca ia querer nada comigo.

Eu odiava o caldeirão com todas as minhas forças, ele me roubou o que eu tinha de mais precioso: o poder da escolha. Eu havia sido forçada a virar feerica, forçada a ter aquele dom ridículo que perturbava os meus dias e noites e me forçado a aceitar um laço de parceria com um completo estranho. Eu me sinto tão cansada, todos acharam que eu havia me recuperado depois da guerra, quem não pensaria assim? Agora eu vivo sorrindo e sendo amável e gentil com todos, mas eu estava apenas escondendo o meu real estado, a realidade é que eu não me alimentava, os ossos da minha costela se faziam presentes todos os dias, eu não durmo em nenhum momento pois quando eu finalmente consigo dormir tenho pesadelos horríveis, dos quais eu não consigo acordar por um bom tempo, as gêmeas sempre revezavam pra dormir comigo com medo que eu fizesse algo contra a minha vida, diferente das minhas irmãs eu não gritava quando tinha pesadelos eu apenas chorava e me debatia sobre a cama, até uma delas me acordar e eu finalmente conseguir me libertar daquelas sensações por horas e horas.

Eu sofri vendo Nestha naquele estado, mas como eu poderia ajudar sendo tão fraca? como eu poderia ajudar a acalmar a tempestade dela quando nem mesmo conseguia suportar a minha? isso me matava ela era a minha irmã e eu não conseguia fazer nada pra ajudar ela. Eu tinha medo, medo de me aproximar e ela ver o real estado que eu estava, ela saberia, Nestha sempre sabe.

Eu não havia contado para ninguém que além das visões, eu também houvia vozes o tempo todo diálogos, gritos, pessoas em prantos, eu não sabia de que lugares ou de que pessoas pertenciam aquelas vozes mas estavam sempre presentes a todo momento. Eu não tinha contado pra ninguém com medo de acharem que eu estava louca como da última vez e eu realmente acredito que estou.

Eu estava nua dentro da banheira, depois que eu saí da festa foi a única coisa que eu consegui fazer, não sei quanto tempo havia se passado dês do momento que eu tinha saído de lá mas, provavelmente não era muito eu ainda conseguia ouvir as vozes lá de baixo.

"Quem vai sentir a sua falta?"

"Você não faz diferença aqui!"

"Você é um peso na vida de todos!"

"Liberte-os pra viverem sem você!"

"Você é inútil!"

"A sua existência é desprezível!"

"Liberte-os!"

"AGORA!"

Elas não paravam, nunca paravam! Eu queria gritar, eu queria correr, eu queria morrer... então eu afundei com um último suspiro, eu gritei embaixo da água como um último registro da minha existência no mundo, meu peito começou a arder, o meu corpo ficou dormente, havia barulho em algum lugar sons de batidas na porta mas o meu corpo estava fraco demais pra raciocinar, eu era fraca demais.

Então finalmente depois de tanto tentar fugir da escuridão, ela surgiu e me levou.

Era a morte...