Medo

12. DIAS ATUAIS

Não tinha como negar, às vezes me achava louca também. Não sabia se estava mal, doente ou deprimida, mas parecia que iria enlouquecer se ficasse mais um dia em casa. Não queria passar mais um dia chorando e se lamentando por tudo o que estava acontecendo em minha vida e quanto mais tardasse em resolvê-la, mas longe estaria de conquistar minha liberdade de verdade com minha filha e quem sabe reconquistar Steven para mim.

Os dias passaram se arrastando, e já fazia mais de uma semana que eu e Lívia estávamos na casa de meus pais e não voltar a vida normal o quanto antes estava me matando.

Quando um dia de segunda feira pela manhã, não aguentando mais ficar em casa, acordei cedo, tomei um banho, vesti uma saia lápis preta de cintura alta com uma blusa com manga branca e gola alta para esconder os hematomas no pescoço, elas estavam mais claras, porém apareciam ainda. Calcei meu sapato preto e ajudei Lívia a se trocar. Olhei meu rosto no espelho e percebi que a cor roxa estava dando lugar há um tom mais amarelo, me maquiei, fiz um coque para cobrir melhor o local da ferida na cabeça. Sai do quarto juntamente com Lívia e fui para mesa onde todos já estavam para o café. Quando chegamos, meu pai, minha mãe e Cecília me olharam.

- Bom dia. - Sentei ao lado de Cecília e Lívia

- Porque está arrumada assim? - Minha mãe perguntou com os olhos arregalados.

- Vou ao escritório hoje, tenho muitas coisas para resolver. Não posso trazer Carla para cá toda vez que precisamos resolver algo.

- Seria bom você repousar mais um pouco e ... não sei se é uma boa ideia ficar andando sozinha por aí.

- Não farei esforço, ficarei sentada o dia todo. E quanto a sair por aí sozinha ... Bom, não tenho muita opção.

- Filha, eu até entendo que você esteja cansada de ficar em casa, mas não acho seguro sair com Jonathan por aí - Falou meu pai com aquela voz mansa que eu sempre amei.

- Não pai, está tudo bem. - Mexo a cabeça dizendo que não para os meus pais, sinalizando que parasse de falar sobre isso em frente de Lívia, quando percebo que ela me olha preocupada - Vai ficar tudo bem - beijo minha filha - Vou tentar resolver esse problema também.

Lívia me olhava toda sem graça, eu sabia que era duro ela ouvir essa conversa sobre o seu pai, mas infelizmente não tínhamos como evitar, ela havia presenciado tudo.

- Não tem como mudar de ideia, não é? - Meu pai perguntou

- Não. Eu realmente preciso trabalhar!

- Ok. Então se você vai voltar a trabalhar antes do esperado, eu lhe levo para o trabalho e você me liga que eu vou lhe buscar. Não venha querer mudar minha ideia - O olhei, o que meu pai tinha de manso tinha de teimoso, e ficar discutindo com ele sobre isso não valeria a pena, ao menos ganhei o direito de sair de casa, sorri.

- Ótimo! Odeio dirigir mesmo - Rimos

Naquela manhã, deixei uma mensagem no celular de Steven.

Bom dia Steven, tudo bom? Espero que sim. Quero agradecer imensamente pelos dias que Sr. Noam levou e foi buscar Lívia na escola, realmente não tenho palavras de como foi uma benção o apoio de vocês em nossas vidas nesse momento. Serei eternamente grata por sua atenção e cuidado comigo e minha filha. Aproveito para não só agradecer, mas para informar que a partir de agora meu pai se ofereceu para pegar Lívia e trazer para casa já que passaremos um tempo na casa dele. Começando de hoje. Muito obrigada por tudo e tenha um bom dia.

Em segundos ouvi um bip no meu celular. Era a resposta de Steven.

Tem certeza disso Clara? Podemos continuar fazendo isso, não será nenhum incômodo para nós, muito pelo contrário, Noam aprecia demais Lívia e sempre fala muito bem dela, ele sempre fala que agora as viagens de ida e volta à escola são muito mais divertidas com Lívia e Beth juntas. Eu não entendo, mas até posso aceitar (por enquanto) que você queira se afastar de mim, mas, por favor, não afaste Lívia de Beth, você não sabe o quanto sua filha tem ajudado a minha. Pense com carinho. Sinto sua falta. Beijos e tenha um bom dia.