2. DIAS ATUAIS

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Sorrindo. Sim, estou sorrindo, porque hoje consigo sentir um tipo de emoção que não conseguia sentir há um ano atrás. Ainda não consegui o que desejava, mas eu era grata pelo o que já havia conquistado nesse último ano.

Sensação de liberdade, de vida que me fazia sorrir, ter a dádiva de respirar por completo e soltar o ar sem sentir que sua respiração foi brutalmente cortada, era algo que eu não poderia deixar de agradecer.

E eu estava hoje cautelosamente me sentindo muito feliz.

Sim, cautelosa porque eu até poderia me sentir muito feliz hoje, mas eu preferia manter a felicidade em segredo e dividir apenas com as pessoas em quem confiava.

Porque quando lembro de tudo que já passei, rapidamente consigo sentir as emoções daquele dia, como se fossem hoje. Às vezes me acordo no meio da noite, assustada e sem fôlego pensando que tudo isso é um sonho. Acordo assustada porque ainda sinto suas mãos apertando tanto minha garganta, que instintivamente passo as mãos só para ter certeza que as dele não está lá.

Depois que percebo que é pesadelo e olho ao meu redor, respiro aliviada e dou graças a Deus que não é mais real, e que hoje vivo minha vida como sempre esperava.

Bem, não exatamente como sonhei, mas bem melhor do que há alguns anos atrás. E sou grata porque é a minha vida. E é por isso, que desde aquele dia, acordo sempre de bom humor, agradeço todos os dias a Deus por estar viva, por ver minha filha sorrindo e por ter a liberdade de ir e vir quando e como eu quiser.

Desde que eu esteja sozinha.

Estou caminhando em direção ao meu carro e olho o relógio. Preciso falar com minha melhor amiga. Ligo o som assim que entro, hábito que adquiri depois da separação, dirigir sempre com o som ligado cantando todas as músicas que gosto. Dou partida no carro e começo a cantarolar a música que toca.

Enquanto espero o sinal abrir, ligo para Genny e deixo no viva voz, enquanto volto a dirigir.

- Alô! - Era a voz de Genny meio sonolenta. Minha amiga não era muito simpatizante no horário da manhã.

- Quais seus planos para amanhã? - Pergunto.

- Não acredito que você me acordou tão cedo. Vou te matar se for menos de dez horas.

- Não é tão cedo assim Genny, já são nove e quarenta da manhã. Me controlei o máximo para te ligar.

- Ou seja, cedo Clara! - Ela resmungou.

- Já levei Lívia à escola, já fiz uma teleconferência e estou indo para a empresa. Pensei em almoçar com você, afinal, hoje é dia de comemorar. Um ano que recebi minha carta de alforria. - Nós rimos. Era assim que chamávamos a minha separação com Jonathan. - Mas hoje não consigo sair a tempo, então pensei em amanhã.

-Ah, é verdade. Um aninho. Um bebê ainda! - a voz de Genny já estava mais animada - Amanhã estou livre. Pode contar comigo. Onde nos encontramos?

Sim, eu sabia, mesmo as nove e quarenta da manhã, eu podia contar com minha amiga.

Eu amava sair com minha amiga Genny, ela era animada e sempre estávamos juntas, desde o primeiro dia da faculdade. E ela sempre esteve comigo em todos os piores e melhores momentos da minha vida. E só nos afastamos um pouco, quando Jonathan me obrigava a isso. Mas eu sempre encontrava um jeitinho de estar sempre com ela.

Eu sempre a admirei, e estar junto dela sempre me fez muito bem, pois ela era forte, intensa e não temia quase nada, o que era bem diferente de mim. Lembro perfeitamente quando nos falamos pela primeira vez, eu estava sentada no meio da sala e estava lendo algum livro no primeiro dia de aula no meio da sala esperando o professor chegar, quando ela sentou ao meu lado, olhou para mim e sorriu e eu retribuí. Sabe aquela primeira aula em que o professor pergunta individualmente o nome, idade, e porque escolheu o curso?

Pronto, foi nossa primeira aula.

Um dia conversando com minha amiga, ela confessou que assim que me viu achou que eu fosse mais uma garota chata como o resto das garotas. Mas depois que o professor pediu para formar dupla e ficamos juntas, ela percebeu que eu não era chata e sim tímida, então na mesma hora ela decidiu ser minha melhor amiga.

Até hoje.

***

Melhor hora do dia.

Dormir abraçada com minha filha. Depois de lermos uma história juntas, finalmente o sono pareceu chegar para nós duas. Enquanto Lívia falava com a voz arrastada de sono, ela se virou para o lado e se aninhou ao meu corpo. Não eram todas as noites que dormíamos juntas, no entanto quando ela pedia para dormir comigo, eu nunca conseguia dizer não. Enquanto Lívia terminava de contar como havia sido seu dia na escola, eu acariciava o cabelo dela com meu coração repleto de amor e satisfação pela minha filha.

Quando eu ainda era casada com Jonathan, esses momentos eram raros. Ele nunca deixava Lívia dormir conosco e eu sempre precisava estar na cama com ele. Agora, que era apenas eu e minha filha, esses momentos eram mágicos e era por isso que eu nunca recusava de dormir ao lado dela.

Quando vejo seus olhos fecharam totalmente e a respiração dela ficar mais profunda, eu me inclino e beijo sua testa.

- Boa noite querida! Te amo muito.

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