O Príncipe Perdido

Chá Escocês e facões voadores.

A brisa trazia de volta às lembranças do passado de Nathaniel.

Um passado ao qual ele não tinha certeza se sentia falta.
Ele sabia que uma boa parte da culpa dele estar ali hoje era dele.
A forma como viera parar na Escócia já tinha deixado de importar, a verdadeira pergunta era:
Por que apenas agora?
Ele sequer sabia se estava voltando porque verdadeiramente queria ou não.
No fundo, sempre soube que teria que voltar algum dia, mas quando a pobreza e a fome começaram a assolar sua família de coração, ele soube que era o momento de voltar para casa e finalmente retribuir tudo o que fizeram por ele.

No entanto, fazia exatamente uma hora que haviam partido e Nathaniel já estava pensando em dar meia volta, construir uma casinha no alto de uma montanha e viver feliz para sempre com alguns cachorros de caça. A viagem mal havia começado e ele já tinha aprendido que, não importava o quanto você amasse sua família, certamente passará a questionar esse amor assim que eles começarem a discutir e você não poder sair de perto.

O clima estava frio, as folhas das árvores dançavam conforme o vento soprava levando consigo poeira, terra e gritos. Em sessenta minutos Bruce conseguiu irritar Ian de sete formas diferentes.

- Sabe, eu estava pensando... - Começou Bruce novamente.

- Não parece que faz isso com frequência. - Interrompeu Ian irritado.

- Nosso grupo deveria ter um nome. - Continuou, ignorando o comentário dele - O que vocês acham sobre... "Os salvadores de saia"?

- Pelor amor de Deus, cale a boca. - Ian suspirou exasperado. Usando o pouco de paciência que tinha para conter a vontade de arremessar um machado nele.

Nathaniel tentou ignorar e continuar a guiar o grupo, mas já não aguentava mais as brigas, ele precisava tirar Bruce de perto de Ian para que tivessem paz.

Eles haviam decidido a ordem antes de partir, o príncipe na frente os guiando, dois homens para ajudar a abrir o caminho pela floresta, as mulheres e Doug no meio e Wallace protegendo o grupo por trás, mas não contavam que Bruce e Ian estariam insuportáveis naquela manhã.

Nathaniel parou e o grupo inteiro também, esperando que ele falasse alguma coisa e isso o deixou aianda mais tenso.
"Esperar algo dele"
Uma liderança, um posicionamento.
Era isso que, não apenas eles, mas um país inteiro esperava dele no futuro.
Ele suspirou antes de continuar.
O peso das vidas de cada um, o nervosismo e a ansiedade se misturavam com o medo e pareciam se transformar em rochas muito pesadas sobre suas costas. Mas ele não queria que nada daquilo transparecesse.

- Bruce, troque de lugar com Wallace. - Foi sucinto, mas Ian o olhou de relance, parecendo perceber algo.

- Como quiser, Alteza. - Obedeceu prontamente e isso fez Nathaniel ter certeza de que era isso que ele queria desde o início - Não fique triste com a minha ausência, Ian. Estarei ao final da fila, sei que é ótimo em gritar caso queira minha companhia novamente. - Provocou e desviou a tempo do galho que Ian arremessou nele.

Bruce trocou de lugar com Wallace e o grupo pôde apreciar alguns momentos de paz.
Mas apenas alguns mesmo.

- Quando levarmos Nathaniel de volta ao palácio seremos grandes heróis. - Afirmou Bruce - Talvez escrevam livros sobre nós! Não, três livros inteiros contando nossa história! Já tenho até um título! Que tal "Salvadores e unidos: Indivíduos doadores, intelectuais, oprimidos e transformadores anônimos".

- Doadores? - Davina ergueu uma sobrancelha, confusa com nome.

- De tempo. Irá demorar para chegarmos a Londres. - Respondeu Bruce como se fosse um assunto sério.